segunda-feira, 11 de abril de 2011

Harry Un Ami qui Vous Veut du Bien (2000)

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Harry, Um Amigo ao Seu Dispôr de Dominik Moll é um intrigante e de certa forma intimidante filme francês, ou não tivesse ele como actor principal o catalão Sergi López, aquele que quase faz hábito de interpretar personagens malévolas o suficiente para assustarem qualquer um.
Este filme, vencedor de quatro Cesars, incluindo o de Actor para Sergi López, e também do European Film Award na mesma categoria, conta-nos a história de Michel (Laurent Lucas) que se encontra em viagem com Claire (Mathilde Seigner) a sua mulher e as suas três filhas. Numa paragem numa estação de serviço encontra Harry (López) e a sua namorada Prune (Sophie Guillemin) e reconhece Michel dos seus anos de escola.
O encontro, que inicialmente parece inofensivo e casual (apesar de nos deixar com uma enorme sensação de desconforto), rapidamente se torna coincidente demais, e Harry quase que se auto-convida para casa de Michel onde, com o passar dos dias, muitos actos estranhos e pouco normais sucedem a um ritmo muito elevado.
O argumento assinado por Dominik Moll e Gilles Marchand com base num poema de Francis Villain, não só consegue transmitir um enorme suspense e incerteza no que se irá suceder à medida que a acção decorre, consegue igualmente retirar do quarteto protagonista excelentes desempenhos que são dignos da nossa admiração enquanto espectadores.
Laurent Lucas (Michel), um pai de família conformado com esta sua actividade e que havia ignorado há muito a sua grande paixão com a escrita, é aquele que ao longo do filme mostra uma enorme transformação. De um homem contido e reservado passa a ser aquele que toma decisões e zela pelo futuro e bem-estar da sua família.
Já Sergi López (Harry), a figura central e destabilizadora da harmonia do casal está igual a si próprio. E digo isto não com um tom condescendente mas sim por ser exactamente aquilo que esperamos deste brilhante actor. Quando vemos um filme em que ele é uma das suas personagens, esperamos ver alguém duro, com aspecto calmo mas que vive uma intensa turbulência. Controlador. Dominante. Dominador. Seco. Bruto. E, há que admiti-lo, com uma enorme carga paranóica bem doseada ao longo de todo o filme. Podemos constatá-lo ao longo de todo o filme mas... se seguirmos com atenção (e não será preciso muito pois o momento prende-nos ao ecrã de uma forma assustadora), o segmento em que ele vai a conduzir desalmadamente por entre uma estrada escura e que nem sabe para que lado as curvas vão... temos a total confirmação de que ali está algo de muito errado. Não foge ao esperado e entrega-nos tudo aquilo que esperamos dele e com muita intensidade. E a confirmá-lo estão os prémios de que foi um justíssimo vencedor.
Já na dupla feminina, em desempenhos secundários, mas ainda assim bastante importantes para a continuidade da história, temos Mathilde Seigner (Claire), a mulher de Michel que funciona para ele como o elemento que o "impediu" de dar continuidade à sua paixão mas que, na realidade, nem sequer sabia da sua existência. E finalmente temos Sophie Guillemin (Prune), namorada de Harry que na prática mais não é do que a mulher-objecto da qual Harry se aproveita para criar aos demais uma falsa aparência de sucesso. Sucesso esse que mais não é do que uma forma de exteriorizar uma aparente normalidade que nem sequer existe na sua vida.
Além das interpretações, que repito estão brilhantes, aquilo que mais me seduziu em toda esta história foi a aparente tranquilidade com que ela se apresenta. Uma vida mais campestre onde os problemas se tendem a resolver e solucionar mas que no fundo nada mais esconde do que uma intensa turbulência prestes a explodir a qualquer momento. É essa mesma tranquilidade que Harry se propõe, sem qualquer reserva, minar.
Harry serve para Michel como se fosse um desbloqueador. Retira-lhe todos os problemas da frente. Desde um carro que já mal funciona até ao controlo que os seus pais tendem a exercer na sua vida que se quer independente... um irmão sem qualquer vontade de assumir responsabilidades ou mesmo uma mulher e filhas que, para Harry, nada mais são do que perfeitos entraves à reanimação da sua arte. Harry está disposto a tudo... tudo por aquilo que considera ser o bem-estar do seu amigo.
Intenso e poderoso drama de suspense francês, que classifico sem qualquer reserva como um dos melhores filmes do cinema Europeu do início do século XXI e que testa os limites da tranqulidade psicológica do espectador bem como nos mostra até onde uns são capazes de ir e até onde outros são capazes de abdicar dos seus princípios morais em nome de uma vontade ou paixão.
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8 / 10
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