Apollonide - Memórias de um Bordel de Bertrand Bonello é talvez um dos filmes "incompreendidos" do ano que nos relata o dia-a-dia, ou mais concretamente as noites, de um bordel na Paris do final do século XIX e a sua decadência com a chegada dos 1900's.
Marie-France (Noémie Lvovsky) é a dona de um reputado bordel de Paris que recolhe as simpatias e a frequência de um conjunto considerável das grandes fortunas da cidade. Vários são os homens que depois de dias nos seus negócios e junto das suas famílias acorrem àquela misterioso lugar que ganha uma vida alternativa àquela que a cidade-luz emana durante o dia. Ali todos se reencontram para momentos de prazer, de amizade e de boémia consentidos, mas escondidos, dos olhares de uma sociedade que vive por outras regras de moral.
Mas este bordel esconde mais por detrás de um aparente local de sexo. Aqui conhecemos um conjunto de mulheres que aos poucos revelam os seus porquês... O porquê de se encontrarem ali... O porquê de se terem afastado da sua antiga vida... O porquê de ali se manterem... Os seus sonhos e vãs esperanças de um dia terem a oportunidade de dar um novo rumo à sua vida.
Se por um lado este filme retrata a crescente amizade que um inicialmente estranho conjunto de mulheres consegue estabelecer entre si, não deixa igualmente de ser verdade que ele é também um curioso retrato de uma sociedade que primeiro tenta, depois corrompe e finalmente prende aqueles que nela vão, aos poucos, tentando sobreviver e que naquele bordel conseguiam ter uma vida mais digna do que na rua mas, infelizmente, não com menos riscos. Quer fossem riscos de saúde, ou da exploração de que eram alvo às mãos de Marie-France que não as poupava da percentagem sobre os clientes que as "alugavam", e até aos atentados à sua segurança física, estas mulheres apenas escapavam à vida muito mais dura que a rua lhes poderia reservar.
Ao mesmo tempo, e sem ser excessivamente explícito, Apollonide consegue dar um perfeito retrato da sexualidade, sensualidade e desejo que rodeava a vida não só daquelas mulheres que o faziam apenas para resolver os inúmeros problemas financeiros de que eram vítimas numa época em que poucos direitos ou formas de subsistência tinham, mas principalmente dos homens que as procuravam. Se uns as procuravam para obter algum tipo de companhia, a verdade é que a maioria as desejava carnalmente e como forma de se deixarem levar pela imaginação e concretização de desejos menos próprios ou convencionais que, ocasionalmente, resultavam em atrocidades incompreensíveis e inimagináveis para "pessoas de bem" como se auto-denominavam perante a sociedade.
Cru ao ponto de mostrar a realidade da vida através dos problemas que afectam intemporalmente todas as épocas, nomeadamente o que diz respeito ao dinheiro e à sobrevivência que dele depende, à beleza (ou falta dela), higiene e doenças sexualmente transmissíveis, este filme quase consegue ser um registo documental de uma época que se desenrola em 1900 mas que poderia facilmente ser neste início de século XXI bastando apenas contextualizá-lo através de um guarda-roupa (aqui vencedor de César), aos nossos dias. Exemplo disto estão os momentos finais onde somos imediatamente transportados entre estas duas épocas e onde constatamos que mudando o local e todos os hábitos se mantêm idênticos.
Com poucos momentos explícitos mas suficientemente intensos para nos dar um relato sobre alguns dos dramas mais intensos destas mulheres, este filme pode ser, por momentos, algo difícil de seguir pela seu ritmo mais lento mas que, por ser eficaz e visualmente rico tanto pelo seu já referido guarda-roupa como principalmente pelos intensos relatos que estas mulheres fazem das suas próprias vidas, este Apollonide é um filme que retrata a condição humana e o quão alto, ou baixo, ela pode atingir.
Sentido mas bruto e intenso não deixa de ser um relato descritivo de como uma vida pode ser marcada, e marcante, perante o mundo ou a sociedade que não esquecendo o indivíduo pode ser-lhe, no entanto, bastante cruel e que é interpretado por um conjunto de actrizes que assumem para si as vidas destas mulheres.
Pode não ser um filme apelativo para a maioria das pessoas mas aqueles que se deixem levar pela curiosidade serão seguramente seduzidos pelos seus encantos.
.Ao mesmo tempo, e sem ser excessivamente explícito, Apollonide consegue dar um perfeito retrato da sexualidade, sensualidade e desejo que rodeava a vida não só daquelas mulheres que o faziam apenas para resolver os inúmeros problemas financeiros de que eram vítimas numa época em que poucos direitos ou formas de subsistência tinham, mas principalmente dos homens que as procuravam. Se uns as procuravam para obter algum tipo de companhia, a verdade é que a maioria as desejava carnalmente e como forma de se deixarem levar pela imaginação e concretização de desejos menos próprios ou convencionais que, ocasionalmente, resultavam em atrocidades incompreensíveis e inimagináveis para "pessoas de bem" como se auto-denominavam perante a sociedade.
Cru ao ponto de mostrar a realidade da vida através dos problemas que afectam intemporalmente todas as épocas, nomeadamente o que diz respeito ao dinheiro e à sobrevivência que dele depende, à beleza (ou falta dela), higiene e doenças sexualmente transmissíveis, este filme quase consegue ser um registo documental de uma época que se desenrola em 1900 mas que poderia facilmente ser neste início de século XXI bastando apenas contextualizá-lo através de um guarda-roupa (aqui vencedor de César), aos nossos dias. Exemplo disto estão os momentos finais onde somos imediatamente transportados entre estas duas épocas e onde constatamos que mudando o local e todos os hábitos se mantêm idênticos.
Com poucos momentos explícitos mas suficientemente intensos para nos dar um relato sobre alguns dos dramas mais intensos destas mulheres, este filme pode ser, por momentos, algo difícil de seguir pela seu ritmo mais lento mas que, por ser eficaz e visualmente rico tanto pelo seu já referido guarda-roupa como principalmente pelos intensos relatos que estas mulheres fazem das suas próprias vidas, este Apollonide é um filme que retrata a condição humana e o quão alto, ou baixo, ela pode atingir.
Sentido mas bruto e intenso não deixa de ser um relato descritivo de como uma vida pode ser marcada, e marcante, perante o mundo ou a sociedade que não esquecendo o indivíduo pode ser-lhe, no entanto, bastante cruel e que é interpretado por um conjunto de actrizes que assumem para si as vidas destas mulheres.
Pode não ser um filme apelativo para a maioria das pessoas mas aqueles que se deixem levar pela curiosidade serão seguramente seduzidos pelos seus encantos.
7 / 10
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