domingo, 6 de maio de 2012

A Teia de Gelo (2012)

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A Teia de Gelo de Nicolau Breyner foi a segunda incursão deste actor na realização e contou com um grupo de actores de nível como Margarida Marinho, Nuno Melo, Elisa Lisboa e Diogo Morgado e ainda com as interpretações secundárias de Paula Lobo Antunes, Pedro Giestas, Patrícia Tavares, Sandra Cóias, Vítor Gonçalves e do próprio Nicolau Breyner.
Jorge (Morgado) realiza o desfalque da sua vida ao seu próprio patrão (Nicolau Breyner) e tenta escapar para ir ter com a sua namorada. Ao chegar a Portugal vindo de São Tomé, Jorge é descoberto e ameaçado pelo patrão que lhe diz ter 24 horas para devolver todo o dinheiro ou a sua namorada será morta pelos raptores.
No meio de uma arriscada tentativa de a salvar Jorge, perseguido pelos raptores, tem um acidente no meio de uma serra e perde-se no meio da serra. Depois de uma desesperante caminhada no meio de uma tempestade chega a uma estranha casa habitada por Verónica (Marinho), pela sua filha Madalena (Antunes) e pelos empregados Hugo (Melo), Mariana (Lisboa) e Estela (Tavares).
O ambiente naquela casa sente-se muito cortante e claustrofóbico. Percebemos que algo não está realmente bem. Nem tão pouco normal. As insinuações que Jorge sente por parte daquele grupo de estranhas pessoas fazem-no sentir, e perceber, que algo de estranho e errado ensombra aquela casa.
As minhas suspeitas para com esta nova incursão de Nicolau Breyner na realização eram muitas. De facto, há que ser honesto, eram quase a 100%, e apenas superadas por poder ver a Margarida Marinho e o Nuno Melo num novo filme.
E realmente as reservas que tinha quanto a este filme confirmaram-se. O argumento, assinado por João Nunes e pelo próprio Nicolau Breyner, têm mais falhas do que uma qualquer estrada nacional portuguesa. O primeiro, longo e demorado segmento do filme em que assistimos a todo o desfalque que Jorge efectua, a sua vinda para Portugal onde é perseguido por alguém de mota que nunca mais vemos durante todo o filme acabando por não perceber porque motivo algum o perseguiu até ao aeroporto se depois nada mais se fez acabam por ser momentos perfeitamente desnecessários. Uma introdução destas seria muito mais eficaz com menos uns quantos minutos.
E as falhas não se ficam por aqui... deduções quase ilógicas de quem são os raptores... estes que saem de um hotel já armados não causando qualquer tipo de reacção numa recepcionista que se encontra a escassos metros de distância... da namorada de Jorge nunca mais sabemos (possivelmente ainda está fechada naquele quarto de hotel), uma tempestade numa serra onde não se encontra uma árvore a mexer... telemóveis que não têm rede... até um deles tocar, fazem parte de uma longa, muito longa, lista de incongruências que passam por nós a um ritmo bem acelerado. E elas não ficam por aqui...
Quanto aos actores, que aqui temos um grupo do que de melhor há, temos interpretações contidas e muito pouco aproveitadas. Margarida Marinho, de quem sou um fã incondicional e sobre quem afirmo sem qualquer reserva ser uma das melhores actrizes portuguesas, temos uma interpretação quase apagada e sem o "fogo" que lhe é habitual. A sua "Verónica", matriarca de uma estranha família dona de um casarão perdido no meio de nenhures apenas consegue ser convincente pelo clima de desconfiança que cria, e que nos faz aguardar a qualquer momento uma explosão de loucura... que infelizmente nunca chega.
O mesmo digo de Nuno Melo, que também sobre ele afirmo ser um dos melhores actores portugueses, temos aqui uma personagem remetida a uma prestação secundária, dentro dos secundários, e que passa completamente "anónimo" num filme cujo argumento tinha potencial para ele ter uma forte e bem firme interpretação.
A única das interpretações que consegue ser marcante é a de Elisa Lisboa, que apesar de repetir um pouco a sua prestação de Coisa Ruim, consegue ainda assim ser aquela que se torna mais sinistra e assustadora sem que para isso muito contribua.
Todos os demais actores quase que se limitam a deambular pelo ecrã num conjunto de momentos isolados e sem grande nexo com o único propósito de criar um ambiente sinistro que, felizmente em muitos momentos, resulta mas que se perde no meio de tanta disparidade a que se assiste.
E este é sim o elemento mais forte do filme. Esqueçamos por momentos tudo o que se passa antes do "Jorge" de Diogo Morgado entrar naquela casa. Façamos de conta que nada existe... o clima recriado dentro daquelas paredes consegue ser claustrofóbico, tenso, muito denso e por vezes cria algum desconforto se pensarmos que por detrás de tanta porta pode estar realmente um "diabo à espreita". No entanto muito pouco deste clima é aproveitado para dar uma reviravolta ao argumento e conquistar-nos pelo medo. Em vários momentos, na realidade em praticamente todos, o filme perde-se. Perde-se não pela falta de qualidade dos seus actores nem tão pouco pelo potencial que a história tem, mas sim pela vontade de filmar vários momentos que nunca encontram uma união ficando a todo o momento soltos.
Outro dos momentos, não direi maus mas sim péssimos que este filme tem, é a sua banda-sonora. Já se torna perfeitamente agonizante passar todo um filme com música de fundo (qual elevador...), como quando o clima se encontra no mais sinistro e no preâmbulo de uma cena escaldante... eis que entra Áurea e a sua música apalhaçando, literalmente falando, o momento que se queria sinistro. Por momentos lembrei-me de uma série portuguesa chamada Não És Homem Não És Nada que a RTP passou há alguns anos onde um brilhante Licínio França entrava nos momentos mais inoportunos a cantar temas de décadas passadas. A diferença é que aí a comédia funcionava na perfeição e aqui parece que assistimos a algo de muito decadente e perturbador.
Dito isto, este estará longe de ser um bom exemplo do que melhor se faz em cinema. Cria alguns interessantes momentos que não são aproveitados como poderiam ter sido, nem tão pouco faz justiça ao talento dos actores que lhe dão rosto.
Quanto ao Nicolau Breyner, e digo isto com muito respeito, mantenha-se pela representação onde sempre revelou ser alguém com um potencial muito grande tanto na comédia como no drama, porque pela realização... temos o que temos...
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3 / 10
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