Anquanto la Lhéngua fur Cantada de João Botelho é o primeiro filme português feito em mirandês, a segunda língua oficial do país e, só por isso, já é merecedor de atenção.
Este documentário, filmado em Miranda do Douro, mostra-nos um pouco não só da língua (uma vez que é falado na íntegra em mirandês), mas transporta-nos também para algumas tradições e hábitos culturais daquela localidade, através de uma curiosa particularidade... a música.
As canções presentes neste filme, cantadas pela actriz Catarina Wallenstein que percorre a região ao som do acordeão de Gabriel Gomes, ilustram-nos na prática esses mesmos hábitos que passam desde simples confraternizações entre os seus habitantes como também os costumes em determinados acontecimentos ou dos ritos diários que aquela população tem.
Ambos percorrem as paisagens, os locais, as populações, aquilo que eles fazem, pensam e dizem dos seus próprios costumes, e sempre na companhia de Atenor, um burro mirandês tão característico da localidade e um elemento indispensável de muitas das tarefas e actividades que caracterizam a própria região.
Àparte do conhecimento que este documentário nos transmite, aquilo em que acho ser um franco vencedor foi a capacidade que conseguiu alcançar em transmitir à população de Portugal, ou pelo menos àqueles que se dignaram a vê-lo, uma sua segunda língua que é na prática algo completamente desconhecido. À semelhança do que acontece em outros países, lembro-me agora concretamente do caso suíço, é uma pena que nas escolas esta língua não seja desde o início ensinada às crianças. Não só lhes fornece um novo conhecimento e instrumento de trabalho como também o dinamiza e, como consequência, impede a sua perda com o passar dos anos. Respeito esse pela língua que me fez não colocar o título em português logo no início deste comentário como é habitual em todos os filmes que aqui comento mas sim mantê-lo no original. Afinal, se o mirandês é uma língua de Portugal não está em detrimento ao português (ou pelo menos não deveria).
Não sendo uma obra máxima do cinema português não deixa no entanto de ser um interessante e original filme que só não irá abrir portas para uma continuidade no registo linguístico por nos encontrarmos em Portugal, país que continua a ter uma séria aversão a tudo o que é cultural. Ainda assim, deixo o forte aplauso ao realizador João Botelho por ter arriscado fazer um filme diferente do qual saiu claramente vencedor.
.Não sendo uma obra máxima do cinema português não deixa no entanto de ser um interessante e original filme que só não irá abrir portas para uma continuidade no registo linguístico por nos encontrarmos em Portugal, país que continua a ter uma séria aversão a tudo o que é cultural. Ainda assim, deixo o forte aplauso ao realizador João Botelho por ter arriscado fazer um filme diferente do qual saiu claramente vencedor.
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7 / 10
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