Sê Bem-Vindo a Esta Casa de Ana Pio - também autora do argumento - é uma curta-metragem de ficção que leva o espectador a uma viagem por uma casa onde uma rapariga (Andreia Assunção) revisita as suas memórias e os espaços que directamente delas fazem parte.
Cada memória num compartimento, cada imagem associada a um espaço e cada sentimento derivado de uma convivência com aqueles que mais próximas dela sempre estiveram - a sua família - lidos e pensados depois de já não se encontrarem presentes numa altura em que a sua própria existência parece fantasmagórica.
Este argumento demonstra um potencial muito interessante na medida em que propõe um desafio aos recantos da memória desde aquilo que ela guarda até às emoções que as mesmas provocam despoletadas através do seu confronto.
A "Rapariga" encontra-se naquele que pensamos ter sido o seu lar... percorre um corredor e só lhe é permita a entrada nas divisões da casa muito ocasionalmente. Vê os seus familiares e quando tenta tocar em objectos desse seu passado, estes agem como se ela não se encontrasse por ali; na prática esta sua imagem é algo futuro (do deles) e apenas a imagem que ela própria tem de si num espaço que "já passou", como se uma presença fantasmagórica se tratasse ou então alguém que fez uma incursão ao seu próprio passado, nunca alterando o seu próprio aspecto - a memória que tem de si naquele mesmo espaço - enquanto à sua volta alguns elementos mostram a passagem desse tempo.
Pela casa tanto temos esses fragmentos do passado ainda presentes na sua memória como também ruínas dessa sua história que mais não são agora do que destroços marcados, e mais ou menos apagados, pelo tempo. Mas, no entanto, algo falha na concretização daquilo que poderia ser um grande filme do género. A interpretação de Andreia Assunção, ainda que esforçada, não se torna convincente o suficiente para dar credibilidade ao seu ar de reflexão sobre o seu próprio passado e sobre a constância das suas recordações mantendo-se sempre uma promessa "morna".
Interessante o detalhe cénico de se optar por uma casa onde os estores - e por vezes as portas - estão fechados (a mente) como que salvaguardados de influências externas (a passagem do tempo). Pequenos blocos que se resguardam e salvam do esquecimento face a um mundo exterior que é susceptível de mudar pelas próprias experiências individuais.
Finalmente, e esta como uma nota muito pessoal, o facto de encontrar numa curta-metragem a presença de uma sempre intensa e grande actriz como é Suzana Borges que - agora num desejo também ele muito pessoal - espero que sirva de exemplo para outros realizadores em entregarem personagens ricas e fortes a esta magnífica actriz.
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6 / 10
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