segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O Miradouro da Lua (1993)

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O Miradouro de Lua de Jorge António (Portugal/Angola) é a primeira longa-metragem luso-angolana na qual João (João Cabral) se dirige a Angola para descobrir e conhecer o pai a pedido da mãe (Isabel de Castro).
Durante a viagem João conhece Sol (Aline Solange) que, com a ajuda da família, lhe dá pistas sobre como poderá encontrar o pai e compreender mais o seu passado. Conseguirá João compreender melhor o seu passado e o seu presente?
Como em todas as viagens em que se procura algo ou alguém, O Miradouro da Lua é, também ela, uma história onde aquilo que se encontra é mais um auto-conhecimento e libertação individual do que propriamente uma expiação sobre um qualquer porquê que se pretende do passado. Aquilo que o espectador retém de "João" pouco mais é do que pequenas e triviais banalidades de um jovem numa Lisboa do início dos anos '90 onde tanta incerteza ainda se prende com o passado colonial do país para onde muitos dos progenitores haviam rumado ou de onde nunca haviam saído. África, mais do que a Lisboa natal, é o local onde todas as respostas podem vir a ser encontradas explicando - deseja ele - todas as pequenas lacunas que o próprio encontra na sua vida. Porque cresceu sem um pai presente? Porque nunca o conheceu? O que o levou a ter e manter uma vida a milhares de quilómetros de distância e, no fundo, a grande e eterna pergunta... "quem sou eu?"...
Se a vida de "João" por Lisboa se resume a uma família relativamente pouco funcional onde uma mãe - que saudades que se manifestam ao encontrar uma gigante Isabel de Castro - emocionalmente distante e uma irmã (Elsa Galvão) que pouco se preocupa com um pai que, também ela, não conhece, ou até mesmo a uma namorada (Julie Sargeant) que tem os seus próprios planos típicas de uma jovem adulta, aquilo que ele procura pode encontrar-se nessa distância geográfica e física que o separa da Angola que o pai decidiu escolher. A pedido do pai (assim o pensa), "João" ruma a uma nova vida estival onde eventualmente conseguirá obter as respostas que tanto procura.
Sem grandes raízes ou laços emocionais e afectivos que o liguem a Lisboa, a realidade de "João" é que também não os encontra nessa Angola distante ou nada ou alguém conhece, oscilando num limbo que poderá trazer mais dúvidas do que respostas. Com o sentido de aventura natural de alguém que ainda não criou as referidas raízes, é Angola que finalmente o irá ver como o homem que poderá vir a ser... Angola, terra agora não só afectada pelos conflitos coloniais como também pelos conflitos internos que viu fomentar poderá trazer-lhe mais dúvidas do que respostas, mais incertezas do que momentos concretizados ou até mesmo surpresas para as quais não parece estar preparado.
O Miradouro da Lua é, eventualmente, o resultado do próprio miradouro natural... um espaço geograficamente imenso apenas alterado pela erosão natural do vento... um espaço deserto onde se pode reflectir mas do qual surgirão poucas respostas para além daquelas que, eventualmente já se esperavam... o pai de "João" desapareceu voluntariamente... não se apegou à família que formara em Portugal - quais os motivos desconheceremos para sempre ou apenas poderemos equacionar como tendo esta família sido o resultado de um casamento pouco voluntário de outros tempos - e formou uma nova vida com novas pessoas e novos destinos nessa Angola que escolheu e que o acolheu como um dos seus. Do pai "João" não irá saber nada para lá das pequenas certezas que retém dos espaços que foram outrora os seus caminhos e, tal como ele, opta por uma Angola que lhe poderá abrir portas que compreendeu não ir alcançar em Lisboa. Formou os seus amigos... reteve novos encontros e paixões que lhe poderão dar, à semelhança do progenitor, uma tal nova vida onde se iniciará como mais um anónimo numa terra que é grande demais. Se em Lisboa nada o espera e em Angola nada tem... a vida pode ser realmente nova naquele local onde pode assumir-se como mais um entre tantos anónimos que ali vão (espera) florescer à sua própria maneira sem qualquer tipo de expectativas de e para com ele.
As falhas maiores de O Miradouro da Lua encontram-se naqueles lugares comuns que são normalmente atribuídos a um cinema português datado não na sua época mas sim na forma como deixa fluir a sua história ou a pretensa mensagem. Tudo é relatado a um passo muito próprio onde é o espectador que lentamente intui aquilo que vê ou para o qual está preparado não deixando espaço para a memória ou o desconhecido firmarem o seu espaço. Das relações de amizade às amorosas ou até mesmo familiares que aqui vemos cumprir, o espectador compreende-as antes do seu anúncio... retém aquilo que elas poderiam ter de melhor e de dinamizador para a história sem que, no entanto, se deixem cumprir como realidades que a personagem principal poderia desenvolver, criando assim toda uma nova dinâmica na narrativa que poderia distanciar-se dos destinos escolhidos de um "pai" não os repetindo com a mesma certeza que o "filho" irá agora confirmar.
Interessante pela forma como se aproximam as duas realidades lusitanas - Portugal e Angola aqui desenhados como um espaço sombrio e tenebroso (Lisboa) e ensolarado e resplandecente (Luanda) - onde as esperanças, os desejos, os sonhos e as ambições são devidamente confirmadas ou terminadas, O Miradouro da Lua peca pelo distanciamento que cria com o espectador que não consegue encontrar nenhum ponto de empatia com nenhuma das personagens para lá do cómico de situação que algumas o conseguem permitir. Nem mesmo quando o espectador percebe que "João" tem mais alguém naquela Luanda distante se consegue criar o laço ou fio condutor desta história mantendo-a pelo morno que nunca será consumado... ou pelo menos não para o conhecimento do espectador que está limitado àquilo que vê e não ao que poderia ter sido.
Destaque, ainda assim, para um jovem João Cabral cuja personagem tinha tanto para dar explorando todas as suas pequenas nuances e para uma Isabel de Castro, a qual qualquer um de nós poderia ficar horas a observar e que aqui se limita a uma participação especial, O Miradouro da Lua desgasta-se e não sobrevive ao tempo tal como a erosão que o vento provoca no espaço geográfico que dá título a esta longa-metragem. Vê-mo-la mas não a guardamos para mais tarde recordar.
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4 / 10
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