segunda-feira, 20 de março de 2017

António, Lindo António (2015)

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António, Lindo António de Ana Maria Gomes é um documentário em formato de curta-metragem português e um dos quatro nomeados na respectiva categoria aos Sophia entregues anualmente pela Academia Portuguesa de Cinema.
Numa zona do interior norte de Portugal a realizadora confronta a família com a memória de um tio desaparecido há décadas após ter viajado para o Brasil e não ter voltado a dar notícias.
Numa revisitação constante à memória de alguém que já não está, não pela morte mas pela vontade voluntária de um afastamento que não se compreende, António, Lindo António surge como um livro de histórias em movimento centrando-se inicialmente na vida solitária de uma matriarca que recorda o seu filho de quem pouco ou nada sabe transformando-se naquele familiar que, apesar da proximidade consanguínea apenas lhe(s) surge como alguém ausente e distante.
Com uma vida centrada no campo e no trabalho que lhe compete, esta matriarca aparenta uma personalidade rude e algo fria fruto de uma certa mágoa muitas vezes escondida e de uma vida eventualmente árdua que a marcou pelo desgosto de um filho ausente e de uma escassez de netos do mesmo que lhe poderiam dar o tal "significado" por que tanto esperava.
Sem estar presente num único momento deste documentário curto, o "António" de António, Lindo António acaba por se transformar num vulto principal sentido-se a sua figura através de todos os relatos que chegam daqueles que, em tempos, com ele se cruzaram. Cada elemento da família tem a sua própria versão deste familiar. Se uns viam nele um namoradeiro, outros assumem-no como alguém distante e desinteressado que, de certa forma, motivou também o desinteresse e ausência dos próprios que preferem não falar nele numa tentativa de o esquecer. A memória, ainda que persistente, desvanece pela ausência, pelos silêncios e pela ténue forma como se recorda alguém que já não está.
Já no Brasil, para onde a realizadora se deslocou como forma de dar continuidade a esta obra, entrevista várias pessoas que pela sugestão do nome dizem ter conhecido alguém com aquele nome. A memória, também aqui, parece ter desvanecido e "António" mais não é do que um som vão no meio de uma memória colectiva que insiste em não persistir.
"António" queria ser cantor mas o seu carisma frio e distante impediram-no de ser o cantor romântico que desejava. Ausente de afecto, amor, paixão e até mesmo carinho para com os que o rodeavam - família incluída - levou-o a fechar o coração distanciando-se de tudo e de todos. "António" passou pela vida sem a viver... Viu sem experimentar. Ao encontrar o tio, a realizadora acaba por "levá-lo" ao Portugal de onde saíra cinquenta anos antes. À família que nunca mais viu. Filmam-se os encontros mas sente-se a distância. O que dizer a alguém que, na prática, mais não é do que um estranho com quem apenas se cruzam ideias pontuais e pensamentos esquecidos?!
Ainda que um documentário dinâmica na percepção da memória e da sua persistência naqueles que, saudosos, insistem em recordar um passado tido, António, Lindo António perde-se um pouco na dinâmica familiar dos que ficaram no Portugal interior e esquecido, tentando dinamizar a memória colectiva de uma família que, por experiência ou até mesmo pelas histórias que em tempos escutou, sabe da existência de alguém que, na realidade, não conhecem. A distância física e temporal que todos têm deste tio António, leva-os a conhecer alguém que na prática nunca viram. Alguém que povoa a sua memória colectiva mas que assumem como um estranho de quem apenas escutaram pequenas e pontuais histórias da sua existência. Será alguém real ou apenas um fruto de um conto popular?!
Dinâmico na recuperação da história pessoal e na vontade de encontrar o "outro" que não se conhece, António, Lindo António é, no entanto, um documentário de difícil alcance pelo espectador de uma forma geral sendo, para ele, necessária uma energia e vontade extraordinária para o acompanhar dos instantes iniciais até ao seu final onde tudo se revela.
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5 / 10
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