sábado, 18 de março de 2017

Buôn (2015)

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Buôn de Miguel Munhá é uma curta-metragem experimental portuguesa centrada em Tambá (Welket Bungué, aqui em funções de actor, produtor e argumentista), nos seus pensamentos, reflexões, memórias e desejos.
Tambá reflecte sobre a vida, a sua e aquela que poderia ter sido. O mundo encontra-se para lá de uma cidade que aparenta tê-lo preso e os seus pensamentos fogem para lugares não conhecidos. Pensa sobre o amor - o que foi cumprido e o que está por cumprir - sobre a eterna ambição do Homem em ser feliz. Pensa nos dois pesos de uma única medida... como o ser feliz pode condicionar a liberdade ou sendo livre abdica da felicidade que lhe poderia (poderá?) estar reservada. O amor, tal como se percepciona, terá sido "construído" por aqueles que ainda têm uma fé... uma esperança e um sentido desejo de uma dita alma gémea.
Logo o início de Buôn faz pressupôr esse desejo de uma eterna e constante mudança... A praia, o mar e o ruído das ondas que ali se desfazem é representativo dessa portugalidade que sempre encontrou o sonho e o sítio ideal noutras paragens existindo, a acompanhá-lo, uma certa saudade - também eterna palavra portuguesa - na terra de origem. Ser feliz - na sua terra - ou eternamente livre - viajando - escuta-se nos primeiros instantes desta curta-metragem que é uma espécie de ensaio sobre esse dicotomia entre ir e permanecer. No fundo, a eterna condição humana, sentindo uma constante insatisfação ao compreender que o mundo é grande demais para a permanência num único espaço físico e temporal. O mundo espera(-nos) sem, no entanto, nunca parar.
A quebra de fronteiras, físicas, geográficas e sobretudo mentais foi sempre uma ânsia humana. A vontade de conhecer o outro... o outro lado... o que está para lá do espaço conhecido quebrando barreiras que se impõem primeiro na comunidade e depois na sociedade, que começam por ser pessoais mas cedo se tornam sociais e institucionais interrompendo a mudança e a sua vontade. Até ao dia em que o Homem decide, finalmente, quebrar todos os entraves e avançar rumo a um desconhecido esperado.
A curta-metragem de Miguel Munhá baseada no argumento de Welket Bungué, é assim um ensaio sobre essa vontade de mudança sentida, e por vezes expressa, no indivíduo sedento de um lugar no mundo por vezes difícil de alcançar. Estão presentes as eternas questões do "quem sou eu e o que faço aqui?", tão árduas de responder quando pouco se conhece do que está para lá daquele espaço tido como "nosso" e que apenas olhando e vendo o que está desse lado se podem começar a responder a estas questões. A felicidade, seja ela o que fôr, parte da satisfação de um conjunto de experiências tidas e proporcionadas que preenchem o tal vazio sentido e que inserem o Homem num espaço... em qualquer espaço... desde que este consiga responder às perguntas que a "viagem" - física e psicológica - satisfaz.
Tudo uma questão de satisfação... esta preenche as demais sensações e emoções... estarei satisfeito com este lugar ou preciso de conhecer outro? Estou satisfeito com o que tenho ou preciso ter mais? Estou satisfeito com quem tenho a meu lado ou são necessárias outras pessoas? Todas estas questões podem ser respondidas e por vezes confundidas com um certo egoísmo egocêntrico mas em nada têm a ver com o que proporcionamos aos demais mas sim com aquilo que conseguimos satisfeito para o nosso "eu". Poderá o "eu" entregar-se e partilhar o que fôr com o "outro" se não estiver ele próprio plenamente satisfeito?
Enigmática quanto baste, mas reflexiva de um sentimento de (in)satisfação incompleta que apenas o auto-conhecimento poderá colmatar e saciar. Tudo o demais serão apenas as viagens que, para lá chegar, se encetaram e os conhecimentos - também eles físicos e mentais - que se adquiriram nesse processo.
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7 / 10
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