Uma Mulher não Chora de Fatih Akin é uma longa-metragem alemã com a interpretação protagonista de Diane Kruger que dá corpo a Katja, uma mulher que perde o marido e o filho num atentado e que, pela falência da justiça decide procurar vingança pelas próprias mãos.
Akin e Hark Bohm criam o argumento desta história numa altura em que a Europa vive uma certa crise de identidade e renascimento de movimentos de extrema-direita que defendem uma "limpeza étnica" do continente. Pertinente desde o seu momento inicial, Aus dem Nichts divide-se em três momentos chave tendo iniciado a sua dramatização no repentino mas fulgurante casamento de "Katja" com "Nuri" (Numan Acar), um curdo emigrado na Alemanha que, percebemos mais tarde, não só vive(u) uma vida rebelde que o levara à prisão como também não reúne a aprovação da família alemã da sua mulher. Assim, o primeiro segmento A Família, tem início no momento imediato à explosão que vítima marido e filho de "Katja" e em que surgem as primeiras suspeitas sobre a vida de "Nuri" e as práticas criminais a que poderia estar ligado bem como os elos familiares que lentamente se começam a desfazer.
O segundo segmento apelidado de Justiça está directamente ligado como as práticas judiciais de construção da acusação aos dois suspeitos do acto terrorista - e implicações com movimentos de extrema-direita -, assim como a compreensão de que apesar do caso ter contornos que o tornam claro sobre a culpabilidade dos mesmos, estes são ilibados por meras questões técnicas. Finalmente, o terceiro e último segmento O Mar, no qual se explora a viagem de "Katja" à Grécia, onde se encontram os homicidas da sua família, e onde planeia a sua vingança pessoal longe dos artifícios de uma sociedade democrática e justa mas que se perde ou deixa levar pelas questões técnicas da mesma que nem sempre possibilitam a execução rápida e eficaz da justiça.
Fragmentação do argumento à parte, Fatih Akin e Hark Bohm criam portanto uma história pertinente e actual na medida em que a mesma explora uma dinâmica de insegurança e atrofio da sociedade europeia moderna. Sociedade essa onde os movimentos extremistas de direita exploram e pervertem um dos pilares do continente - a multiculturalidade das sociedades - tentando impôr uma visão muito própria da eugenização e arianização da mesma, expondo e eliminando as famílias mistas, a miscigenação cultural e, finalmente, uma ordem já tentada mas felizmente extinta no continente. Pertinente ainda sobre a abordagem da ineficácia e incapacidade da justiça em responder a estes crimes, e atentados contra a liberdade individual dos seus cidadãos, que proliferam em algumas das sociedades do leste europeu e que levantam questões sobre, em que medida, existe de facto uma capacidade de viver em liberdade quando tantos atentam contra a mesma mas... recorrendo ao seu princípio e ideal.
No entanto, é por detrás de um bom argumento que vive um rosto capaz de expressar todo esse tormento emocional sobre a (in)segurança de um cidadão mas, sobretudo e porque aqui Aus dem Nichts se prende com essa dinâmica, sobre o sofrimento, a dor e a perda de uma mãe que é explorada e central através da fabulosa interpretação de Diane Kruger vencedora do prémio de interpretação no Festival Internacional de Cinema de Cannes. O espectador acompanha-a em três dinâmicas distintas desde a felicidade enquanto matriarca de uma família que espelha (inconscientemente) os valores dessa nova Europa multicultural até à perda e à expressa sensação de que todo o mundo à sua volta terminou e, finalmente, reconhecendo-lhe a perspectiva de uma mulher que compreendeu e se rendeu à sua evidente nova realidade... de que ela é a única capaz não só de fazer vingar a morte da sua família como principalmente fazer aquilo que legalmente ninguém faz... justiça... nem que para tal tenha de sacrificar a sua própria liberdade... e a sua própria vida.
Com um passo muito próprio típico das obras de Fatih Akin que explora em boa medida as margens dessa sociedade europeia já não tão homogénea como alguns ainda tendem a crer, Aus dem Nichts é a homenagem última ao desejo dessa nova realidade onde existe a compreensão de que os tempos finalmente mudaram, em que as sociedades, as famílias, os espaços e até as próprias culturas não estão ameaçadas pela diversidade mas sim enriquecidas pela mesma sendo que, no entanto, é necessário um total e constante estado de alerta - e agilização da justiça - para que esta liberdade, nova realidade e segurança não sejam ameaçadas por aqueles que (vindos de onde vierem) a consideração como a "verdadeira" ameaça a um estado (ou modo) de vida que apenas existe nas suas mentes presas ao passado.
Intenso e dramático Aus dem Nichts é, para lá de uma das mais intensas histórias do realizador Fatih Akim, uma forte revelação do cinema alemão e ainda uma dinâmica história sobre a força e o poder do verdadeiro amor capaz de sobreviver a todas as formas de provação e a prova de que num breve instante... tudo pode mudar perante os nossos olhos.
Fragmentação do argumento à parte, Fatih Akin e Hark Bohm criam portanto uma história pertinente e actual na medida em que a mesma explora uma dinâmica de insegurança e atrofio da sociedade europeia moderna. Sociedade essa onde os movimentos extremistas de direita exploram e pervertem um dos pilares do continente - a multiculturalidade das sociedades - tentando impôr uma visão muito própria da eugenização e arianização da mesma, expondo e eliminando as famílias mistas, a miscigenação cultural e, finalmente, uma ordem já tentada mas felizmente extinta no continente. Pertinente ainda sobre a abordagem da ineficácia e incapacidade da justiça em responder a estes crimes, e atentados contra a liberdade individual dos seus cidadãos, que proliferam em algumas das sociedades do leste europeu e que levantam questões sobre, em que medida, existe de facto uma capacidade de viver em liberdade quando tantos atentam contra a mesma mas... recorrendo ao seu princípio e ideal.
No entanto, é por detrás de um bom argumento que vive um rosto capaz de expressar todo esse tormento emocional sobre a (in)segurança de um cidadão mas, sobretudo e porque aqui Aus dem Nichts se prende com essa dinâmica, sobre o sofrimento, a dor e a perda de uma mãe que é explorada e central através da fabulosa interpretação de Diane Kruger vencedora do prémio de interpretação no Festival Internacional de Cinema de Cannes. O espectador acompanha-a em três dinâmicas distintas desde a felicidade enquanto matriarca de uma família que espelha (inconscientemente) os valores dessa nova Europa multicultural até à perda e à expressa sensação de que todo o mundo à sua volta terminou e, finalmente, reconhecendo-lhe a perspectiva de uma mulher que compreendeu e se rendeu à sua evidente nova realidade... de que ela é a única capaz não só de fazer vingar a morte da sua família como principalmente fazer aquilo que legalmente ninguém faz... justiça... nem que para tal tenha de sacrificar a sua própria liberdade... e a sua própria vida.
Com um passo muito próprio típico das obras de Fatih Akin que explora em boa medida as margens dessa sociedade europeia já não tão homogénea como alguns ainda tendem a crer, Aus dem Nichts é a homenagem última ao desejo dessa nova realidade onde existe a compreensão de que os tempos finalmente mudaram, em que as sociedades, as famílias, os espaços e até as próprias culturas não estão ameaçadas pela diversidade mas sim enriquecidas pela mesma sendo que, no entanto, é necessário um total e constante estado de alerta - e agilização da justiça - para que esta liberdade, nova realidade e segurança não sejam ameaçadas por aqueles que (vindos de onde vierem) a consideração como a "verdadeira" ameaça a um estado (ou modo) de vida que apenas existe nas suas mentes presas ao passado.
Intenso e dramático Aus dem Nichts é, para lá de uma das mais intensas histórias do realizador Fatih Akim, uma forte revelação do cinema alemão e ainda uma dinâmica história sobre a força e o poder do verdadeiro amor capaz de sobreviver a todas as formas de provação e a prova de que num breve instante... tudo pode mudar perante os nossos olhos.
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