quinta-feira, 18 de maio de 2023

Fracture (2022)

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Fracture de Panagiotis Fafoutis (Grécia) é uma das curtas-metragens seleccionadas para a competição Internacional da décima-terceira edição do Festival Internacional de Cine de Piélagos que termina já no próximo dia 20 de Maio na Cantábria.
No hospital, um casal vê a sua tranquilidade interrompida quando uma visita do passado cria um inesperado triângulo sentimental. Por momentos todos ficam reféns comuns tendo de cooperar, eleger e ser eleitos num mundo crucial da vida de todos.
Enquanto "Antoni" está hospitalizado e tem a companhia de "Marta", a dinâmica de casal é compreendida pelo espectador com algo que já lhes é natural e inato. Existe cumplicidade e dedicação que apenas uma vida em comum durante décadas confere a este casal que agora se encontra num momento crucial e chave das suas vidas... Poderá ele significar um fim... uma viragem... uma nova abordagem à sua relação... tudo lhes é desconhecido. Desconhecido e incerto quanto esta "tranquilidade" é interrompida com a chegada de "Areti", uma velha paixão do passado que cria uma inesperada instabilidade no casal que aqui se revela como um triângulo que, na realidade, nunca foi encerrado ou descodificado por nenhum deles.
Se para o espectador a dinâmica entre as duas personagens iniciais se assume como a relação sentimental mais forte e que perdura há mais tempo, o mesmo é surpreendido quando são finalmente revelados os graus de parentesco entre este triângulo e que desmistificam as realidades vividas entre este "trisal" que há muito se havia formado. Se por um lado é a dinâmica entre "Antoni" e "Marta" que se assume como a mais forte e intensa, rapidamente descobrimos que esta relação perdura graças a um fim não anunciado do matrimónio do primeiro com "Areti" que agora surge como a esposa abandonada (ou que abandonou?!) para que o novo casal pudesse viver o tal amor que sentia. E, ao mesmo tempo, se a dinâmica do homem com as duas mulheres cedo se compreende como algo que, na realidade, nunca terminou, é o cuidado que as duas mulheres têm para aquele que foi (e é...) o amor das suas vidas que desenvolve primeiro uma relação de cumplicidade pela necessidade de o apoiar e finalmente uma relação de posse para se afirmarem e compreenderem (elas e nós) quem é, na verdade, a real "mulher" de "Antoni".
Em breves instantes a curta-metragem de Fafoutis desenvolve a perfeita trama sentimental que, mesmo que resolvida, nunca entrega uma resposta definitiva ao espectador. Se uma se afasta perde-se o amor de uma vida mas, no entanto, se se afasta a outra, o resultado deste encontro pode por um lado abalar os alicerces já formados como também criar a imagem de que mesmo distante... o matrimónio nunca se desfez na realidade.
Dotado de três intensas interpretações com um claro destaque para as duas actrizes protagonistas que tomam o pulso a todo o enredo pois são elas que disputam o ecrã e a atenção daquele que é mais ou menos assumido a imagem do amor para ambas (uma que o cuida de perto e a outra que se deslocou não saberemos de onde para lhe dar apoio no seu momento mais crítico), é toda a envolvência criada em seu redor que nos deixa emergir nesta história onde os silêncios espelham dedicação e carinho, amor e compreensão mas sobretudo a imagem de que mesmo distantes ou que as suas vidas tenham levado um inesperado e diferente rumo é, nestes momentos de crise e necessidade de apoio, que surgem as verdadeiras manifestações de amor... ou amizade... não se confundiram ambos?! Os papéis sociais do matrimónio podem estar dispersos... difusos até... mas há elos mais fortes, por vezes até inexplicáveis, que nos fazem aproximar daqueles com os quais poderemos não conseguir viver diariamente pela intensidade das relações que se manifestam mas que, ao mesmo tempo, dos quais não poderemos manter uma distância eterna sobretudo quando se compreende a necessidade de apoio que um deles manifesta.
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8 / 10
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