domingo, 28 de maio de 2023

Un Parell de Cançons Després (2022)

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Un Parell de Cançons Després de Jaume Carrió (Espanha) revela uma inesperada história onde duas vidas se cruzam na imprevisibilidade dos actos que cada uma delas tem. Um artista pinta um gigantesco mural de 500 metros quadrados que, ao mesmo tempo, inspira uma autora de canções em plena crise criativa.
Num bairro e sem se conhecerem, os dois artistas criam e tentam a sua inspiração para que a sua arte não páre e flua. Mas criar para quê? Para quem? Com que propósito? De onde surge essa inspiração (quando surge) e que mensagem se pretende transmitir àqueles que admiram o que cada um deles cria?
No seio de uma solidão latente entre ambos - ele enquanto pinta a metros de altura encontra-se totalmente só contemplando, muitas vezes, o espaço que o rodeia -, o desconhecimento de que cada um deles existe é total. A presença dele assume-se (para ela e para o bairro) apenas porque a sua obra gigantesca vai ganhando forma com o tempo e torna-se impossível de não admirar a sua presença que se revela como "algo" do bairro. Já ela mantém-se quase anónima e apenas "ganha forma" quando canta as suas próprias canções. Estes dois artistas feitos por mão própria revelam, no entanto, um elemento que nos une na sua distância... a sua solidão. Vivem nos espaços sempre rodeados de pessoas - o bairro... os espaços que frequentam... os sítios onde criam e onde cantam - mas, ao mesmo tempo, estão permanentemente solitários face a todos os demais que gravitam perto de ambos mas com os quais não existe qualquer tipo de relação para lá das estritamente indispensáveis. Por opção ou não... a solidão é uma certeza.
Esta simbiose de vidas e de percursos revela ao espectador uma quase "certeza" (para eles enquanto personagens) de que a solidão surge pela forma como a dedicação às respectivas artes se manifesta mais acentuada. Ambos querem criar... ambos querem ser "nome" adquirido naquilo que fazem... ambos não desistem do processo criativo... ambos são párias dentro de uma sociedade... Ambos vivem em solidão nomeio de tanta gente. Este passo lento, extremamente lento por vezes, consegue para lá de garantir uma perspectiva (real ou não... é a escolhida) do processo criativo versus dedicação e, ao mesmo tempo que não se assume para lá do óbvio, criar uma certa saturação no espectador que parece não conseguir retirar um propósito deste obra para lá dessa mesma constatação. Criar arte de forma solitário tendo, no entanto, todo o ambiente envolvente como uma fonte de inspiração para esse processo.
Enquanto espectador, a mensagem mesmo que compreendida, existe uma alienação para com a dinâmica desta história que se prolonga no tempo para lá do desejado... há uma compreensão de que nunca vamos sair daquela realidade pretendida pelo realizador e que, desse modo, tarda em criar (se é que o consegue) qualquer tipo de empatia para com a realidade que estas duas almas aqui retratam. Há, desde cedo, uma desconexão com o real (deles) ficcionado (para nós) transformando o que se espera desta história em algo que, a bom tempo, pouco nos interessa. Moroso e sem um clímax existencial... um par de canções depois... pouco nos importa aquilo que tenham para nos dizer... mesmo que a execução desta curta-metragem enquanto tal esteja longe de qualquer reprimenda.
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5 / 10
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