quinta-feira, 18 de maio de 2023

Nuestro Hijo (2022)

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Nuestro Hijo de Laura Campo (Espanha) é uma das curtas-metragens seleccionadas para a Secção Cantábria da 13ª edição do FICPI - Festival Internacional de Cine de Piélagos que decorre até ao próximo dia 20 de Maio na Cantábria, em Espanha.
Marcos está desaparecido e a polícia quer que os seus pais revelem tudo o que sabem do que acontecera antes. Ambos parecem colaborar... mas até que ponto...
Aquilo que esta curta-metragem revela desde cedo ao espectador é primeiro a revolta dos progenitores em querer que a polícia avance mais depressa do que aquilo que parece para que a criança desaparecida possa ser encontrada e, em segundo lugar, uma latente e crescente tensão entre os dois pais que parecem mais desunidos na sua recente perda do que propriamente uma acção em bloco para agilizar os factos àqueles que deles necessitam. É esta tensão entre o casal que nos desperta a atenção e que faz adivinhar que outros acontecimentos poderão estar por detrás deste desaparecimento. Terá sido um rapto encenado por um deles para culpar ou ferir o outro? Será que o rapto esconde uma tragédia latente resultante de uma disputa matrimonial? Será que a criança desapareceu realmente?
Que a facilidade deste rapto é um facto consumado, afinal quão fácil é desaparecer no meio de tanta gente quanto aquela que existe num parque onde dezenas de crianças e adultos passeiam ao longo do dia, o que é certo é que as dúvidas começam a instalar-se na cabeça do espectador que rapidamente observa esta história como algo mais do que um simples acontecimento perpetrado por um estranho mas sim como algo consumado pelo ciúme e pelo desdém que as acções, interacções e hábitos do casal começam, aos poucos, a revelar como a realidade da vida matrimonial do mesmo. O espectador sente o controlo, o medo, a ira senão mesmo raiva e ódio, o desprezo e até mesmo a vontade de vingança que as palavras de cada um deles fazem adivinhar para e sobre o outro e ao mesmo tempo conseguimos perceber que existe um pouco mais que não estava a ser revelado e que quando o é acaba por funcionar como um motor que assume involuntariamente tudo o que está por detrás da dinâmica destas duas personagens.
Com uma vítima clara das acções de adultos que mais não querem do que magoar-se mutuamente e que encontram numa criança indefesa a "arma" para os seus actos, o sucedido a esta criança mais não é do que um relato constante de tantas e tantas notícias que diariamente escutamos nos boletins informativos e que nos deixam a todos chocados não só pela incredulidade dos acontecimentos como sobretudo pelo silêncio com que todos nós pactuámos quando compreendemos que na "porta ao lado" os relatos de violência física ou psicológica eram uma constante diária.
Ainda que os momentos de interrogatório exibam uma certa incongruência e naveguem por caminhos tidos quase como irreais, os mesmos fazem com que esta curta-metragem cuja acção se limita àquele espaço, ganhe contornos quase sufocantes que apenas as conclusões retiradas pelos discursos conseguem aligeirar brevemente a dinâmica até à compreensão de que algo inimaginável poderá ter ocorrido. E este elemento acaba por funcionar em duas dinâmicas... o primeiro ao transformar-se como um dos momentos mais importantes desta história que sufoca-nos a todos dentro daquelas quatro paredes privadas de luz natural... ao mesmo tempo, e em segundo lugar, poderá funcionar como uma dinâmica perigosa e sobrevalorizada que afasta o espectador que não se deixou levar pelo enredo por detrás das palavras e que perde curiosidade em tentar perceber ou descobrir aquilo que os silêncios e os segredos que lhe estão inerentes poderão esconder. Ao serem revelados todos os detalhes e chegarem à luz aquilo que não havia ainda sido dito... o esperado concretiza-se e o desfecho ainda que previsível consegue ser hediondo por sabermos que não é apenas uma qualquer ficção.
Intrigante e por vários momentos mórbida pelos factos tragicamente actuais que tráz em formato curto para o grande ecrã, Nuestro Hijo é uma interessante reflexão sobre as relações matrimoniais no pós... a alguma vez terem funcionado bem.
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7 / 10
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