terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Foxcatcher (2014)

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Foxcatcher de Bennett Miller é uma longa-metragem norte-americana quer relata os acontecimentos ocorridos na quinta Foxcatcher com os irmãos Schultz e o treinador John Du Pont.
Mark Schultz (Channing Tatum) é um campeão olímpicos de wrestling sem perspectivas de vida ou objectivos a cumprir. John Du Pont (Steve Carell), proprietário da quinta e centro de treinos Foxcatcher contacta-o para poder recrutá-lo para a mesma, tornando-se assim um dos muitos atletas que ali se preparam para variadas competições internacionais.
Quando David Schultz (Mark Ruffalo) chega à quinta para ser um dos seus treinadores, a relação entre os dois irmãos torna-se mais próxima em detrimento daquela que unia Mark a John que, por sua vez, irá reagir a este distanciamento.
E. Max Frye e Dan Futterman escrevem o argumento de Foxcatcher baseado nos acontecimentos verídicos ocorridos entre os irmãos Schultz - ambos campeões Olímpicos de Los Angeles '84 - e o milionário John Du Pont que, na sua quinta, para além de treinar inúmeros atletas de gabarito internacional desenvolvia para com eles uma relação de controlo afectivo e emocional. Inicialmente o espectador conhece e vê um "Mark" numa fase decadente, alguém indiferente e limitado nas suas opções que nem mesmo a fama e glória de uma medalha olímpica consegue equilibrá-lo. Sempre na sombra de "David", um irmão mais presente e sociável, "Mark" encontra a oportunidade da sua vida na oferta de treino e estrelato que "Du Pont" lhe confere mas cedo se percebe que esta relação denota alguma estranheza e tensão.
Se o dinheiro de um compra todo o tipo de comodidades - e influências - junto não só dos atletas como também das federações das várias modalidades, aquilo que transparece da relação que estes estabelecem com "Du Pont" revela ser de uma subserviência latente que lança, ao mesmo tempo, a dúvida no espectador; será esta uma relação meramente amigável ou escondem-se por detrás de tantas facilidades um interesse afectivo e sexual? Que assistimos a uma relação de dominador - um "Du Pont" com dinheiro - e dominado - atleta com ambições - é um facto, mas vários são os momentos em que esta relação parece transcender aquela de uma relação económica/desportiva para uma em que os favores e facilidades se pagam com uma silenciosa cumplicidade sexual.
Foxcatcher revela um "Du Pont" obcecado por uma necessidade extrema de aprovação de uma mãe (Vanessa Redgrave) que o repreendia e que desaprovava os seus actos ao mesmo tempo que carecia de uma vontade quase "animal" de se relacionar - afectiva, sentimental e sexualmente - com aqueles que "patrocinava" a nível desportivo. As insinuações, os olhares reprovadores e a constante chamada de atenção - principalmente no que dizia respeito a "Mark" - dominam a segunda metade deste filme onde este exige, maltrata e condiciona a liberdade de movimentos dos seus atletas e espera dos mesmos uma completa submissão e entrega.
Confirmada ou não esta teoria, é a insinuação que permanece como presente principalmente na súbita alteração de comportamento de "Du Pont" quando perde a atenção de "Mark" a favor do seu irmão e finalmente quando o atleta olímpico decide abandonar a reputada quinta libertando-se do jugo de influência e controlo que o milionário colocara sobre ele e que, de certa forma, faz escalar os demais comportamentos até à tragédia que marcou toda esta história.
Para lá de um final algo dispensável onde prevalece o tradicional "USA" que tanto caracteriza qualquer filme norte-americano de temática desportiva, aquilo que Foxcatcher tem de melhor são o seu trio de protagonistas - Tatum, Carell e Ruffalo - que entregam interpretações desafiantes e marcantes nas suas carreiras sendo que no caso de Tatum e Carell os faz sair do seu tradicional registo de comédia. Destaque ainda para a direcção de fotografia de Greig Fraser que confere a todo o filme um imaginário pesado e limite e a óbvia caracterização de Steve Carrel que o transforma em todo um "novo" actor.
Eventualmente mais interessante pela perspectiva que entrega a esta história de corrupção, intimidação e abuso de poder psicológico e afectivo mas que nunca chega a confirmar algum tipo de abuso físico - não necessariamente sexual - do que propriamente pela capacidade que tem em conquistar um público mais vasto que, provavelmente, não se sentirá identificada com esta história cheia de dúvidas, nuances e duplo significado das acções dos seus protagonistas, muitas das quais nunca justificadas ou explicadas.
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"Mark Schultz: I'm gonna give you everything I have."
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7 / 10
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