terça-feira, 30 de junho de 2015

Puertas Adentro (2014)

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Puertas Adentro de Jonatan Olmedo é uma curta-metragem argentina de ficção que nos relata os quinze dias de férias entre Nahuel (Lucas Lagré) e Franco (Ronan Núñez), dois amigos de longa data - que se reunem em casa deste último - e que por entre alcoól e alguns jogos fazem denotar uma acentuada tensão sexual entre ambos.
O realizador e também argumentista Jonatan Olmedo recria um conto que transporta o espectador para uma tórrida temporada de férias onde não só o calor climatérico se denota mas sim - e talvez principalmente - aquele que provém da óbvia ligação física que une as duas personagens. O argumento de Olmedo começa inicialmente por apresentar dois amigos que se divertem com as normais cumplicidades adolescentes e que confirmam ao espectador que estamos perante uma relação de sentida e notória amizade. No entanto, à medida que a confirmamos, também se torna evidente que existe algo mais por detrás daqueles sorrisos e proximidade e que os olhares de ambos deixam, aos poucos, escapar.
Se inicialmente estes sinais se materializam por pequenos toques que qualquer um de nós poderia achar serem aqueles decorrentes de uma conversa típica entre dois adolescentes, cedo se percebe também que aqueles olhares escondem algo mais do que uma simples amizade, e a cumplicidade já sentida entre os dois cedo revela que existe desejo e tensão sexual entre ambos. Como se costuma dizer em linguagem mais popular "os olhos são os primeiros a comer", e aqui este mesmo ditado materializa-se.
Mas esta materialização prende-se apenas no campo de uma hipótese... materializa-se pelo olhar de ambos e por aquele tido pelo espectador que os observa mas, na prática, entre "Nahuel" e "Franco" nada ocorre que o confirme deixando apenas no ar a sugestão de que sim, é uma eventualidade ou pelo menos uma possibilidade.
Sem que nenhum admita verbalmente, e para lá dos seus olhares cúmplices e de uma total entrega, toda a comunicação corporal tida pelos dois revela o desejo, a extrema vontade e principalmente uma entrega que está para lá da simples amizade... Desejo? Paixão? Algo puramente sexual? O espectador nunca chega a confirmá-lo mas, no entanto, tanto a interpretação de Lucas Lagré - "Nahuel" - como a de Ronan Núñez - "Franco" - são suficientemente esclarecedoras, tal o seu empenho, de que algo mais forte os une do que apenas uma amizade.
No entanto, e como é habitual nos contos sobre a amizade, o despertar do desejo, e a sexualidade em tão jovem idade, está também por detrás de Puertas Adentro o compreensível medo da inadaptação, da aceitação - ou falta dela - e principalmente do preconceito e da ostracização. Na teoria individual sentida por cada um, tanto "Franco" como "Nahuel" percebem que se desejam mas, no entanto, até que ponto aquilo que sentem e vêem no outro não pode ser apenas algo que imaginam como sendo real? É essa incerteza e medo do "depois" que os impede de assumir um conjunto de desejos e sentimentos obrigando-os a viver na incerteza dos seus e principalmente naquela que se prende com as vontades do outro. O toque derivado das pequenas brincadeiras típicas da masculinização e da transformação de idade transformam-se assim nos únicos contactos tidos como aceitáveis perante uma sociedade incerta e que julga com medo de ser julgado.
Ainda um apontamento positivo para a direcção de fotografia de José Mariano Pulfer que confere com a sua captação de luz transformar todo um ambiente climatericamente quente num espaço de exacerbada tensão sexual que não confirmada é obviamente sentida.
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8 / 10
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