O Gangue dos Beeba Boys de Deepa Mehta (Canadá) é uma longa-metragem livremente baseado na história do grupo criminoso Indo-Canadiano que tentou dominar as ruas da cidade de Vancouver. Entre crime, lealdade, violência e um breve conto de amor, Beeba Boys - os Bons Rapazes - relata a liderança de Jeet Johar (Randeep Hooda) sob um grupo de jovens indo-canadianos que se tentavam afirmar numa cidade aparentemente pacífica onde, no entanto, a cultura e a origem ainda eram descriminadas. Quando as portas não estão abertas a todas as cores - aqui usadas pelos protagonistas -, é a exuberância e a violência que se acabam por afirmar numa sociedade ainda pouco tolerante.
Depois da trilogia Fire (1996), Earth (1998) e Water (2005) sobre a condição da mulher numa sociedade indiana tantas vezes associada a uma alegria efusiva mesmo quando as condições sociais não são as melhores ou mais dignas, eis que Deepa Mehta chega com este relato onde a(s) figura(s) centrais e protagonistas são um grupo de jovens indianos que, noutra comunidade que não a sua, decidem impôr-se pela força e pela violência dominando não só as ruas com criando uma ilusória noção de respeito que apenas é amenizada pela excentricidade da cor das suas vestes. Estão criados os elementos principais para que o espectador que já conhece um pouco da sua obra se deixe levar pela curiosidade e permanece atento àquilo que este Beeba Boys tem para oferecer. No entanto, temos muita parra... e muito pouca uva.
Contrariamente às obras anteriormente mencionadas, aqui Deepa Mehta não consegue criar empatia entre as personagens e o espectador através das suas histórias sempre ligadas a toda uma questão social com as quais se podem compreender um conjunto de dramas comunitários ou até mesmo culturais mas que, ao mesmo tempo, faz com que Beeba Boys seja, para o espectador, uma experiência onde apenas se obtém alguns momentos de diversão - não necessariamente aquilo que esta obra procuraria - na medida em que a dinâmica entre personagens seja feito a um ritmo de "conversa entre amigos" mas que naquela tida para com a história em si se resuma apenas a um conjunto de lugares comuns já conhecidos de tantas outras obras do género. Diferenças? Muito poucas. Temos os rituais criminais, as vinganças, o trato da mulher como um adereço bonito para impressionar e se exibir na comunidade, a ideia de que se leva uma vida família exemplar onde a mesma é o supra-sumo de todos os valores e, finalmente, uma pretensa intimidação dos adversários que se querem controlar, minimizar e eliminar da concorrência.
Retirados estes lugares comuns... o que retém o espectador desta história? Pouco... muito pouco. É um facto que temos todo um espectáculo visual através de um elaborado guarda-roupa estridente como manda a lei de todo o filme com um pano de fundo centrado na cultura indiana - e que enriquece qualquer obra do género que se preze -, e um conjunto de momentos onde a adrenalina corre com mais intensidade sem esquecer a já referida irmandade entre criminosos que, na realidade, muitos fazem parte do mesmo grupo desde que se lembram...
No entanto, são esses já referidos lugares comuns que parecem ser os mais presentes. Aliados aos já aqui referidos, o espectador encontra ainda todos aqueles momentos já "vividos" em cinema onde um infiltrado tenta chegar ao líder do grupo, onde a sua influência é crescente mas... afinal... acaba por se descobrir que pertence ao gangue rival naquele momento em que já existe empatia a mais para com o mesmo... a família e a "boazona" de serviço que acabam por ser as vítimas de todas as tramas que mais cedo ou mais tarde acabam por ruir e cobrar as suas dívidas. O braço da lei que chega tarde demais para se conseguir impôr como aquele que realmente decide, dando lugar a um ideal de justiça de dentro para dentro onde apenas o próprio grupo impõe as suas ordens e regras.
Assim, e para lá do assumido espectáculo visual, temos aqui uma tradicional história de crime que apenas se torna mais ligeiro pela jovialidade das personagens e pela exuberância que assumem como ponto de marca desde o primeiro instante. Tudo o demais, por mais inovador que se queira transformar, o espectador reconhece (em todas as suas dimensões) como algo já conhecido, visto e revisto em tantas outras obras cinematográficas.
Exuberante, e com uma ou duas interpretações de destaque como as de Waris Ahluwalia - nomeada como Secundário nos Canadian Screen Awards -, Ali Momen ou mesmo a de Randeep Hooda que acaba por ser o "padrinho" de serviço e aquele em torno do qual tudo gira e acontece e por isso destacando-se entre o grupo, Beeba Boys acaba por ser uma daquelas obras que se esquecem com a passagem do tempo não se marcando como uma original naquilo que pretende retratar nem tão pouco na obra da realizadora indiana que já fez mais... e muito melhor.
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