segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um Funeral à Chuva (2010)

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Um Funeral à Chuva de Telmo Martins foi um dos filmes que saiu vencedor da última edição dos Caminhos do Cinema Português tendo vencido os prémios de Melhor Longa-Metragem, o Prémio da Imprensa e o Prémio do Público.
Este filme gira em torno da história de um grupo de amigos que se reune dez anos depois da sua formatura universitária para o funeral de João (João Ventura) na Covilhã.
A notícia da morte de João espanta todos. Diana (Sandra Santos), uma apresentadora de televisão que não seguiu o sonho de representação e vive por isso frustrada, Marco (Alexandre da Silva) que se havia formado em engenharia mas que agora escreve sobre viagens para uma revista, Rui (Pedro Górgia) que não conseguiu vingar na sua área e trabalha agora num clube de vídeo, André (Luís Dias) que desistiu do curso para poder tratar da mãe, e a sua irmã Susana (Sílvia Almeida) que conseguiu terminar o curso, exerce mas vive os sentimentos de culpa pelo facto do seu irmão não ter tido as mesmas oportunidades.
Finalmente temos Zé (Hugo Tavares), aquele que era o mais "estróina" do grupo mas que acabou agora como professor na Universidade onde todos estudaram e que avisou os amigos da morte de João, por ter sido o único que se manteve em contacto com ele mesmo depois da sua licenciatura. E é Zé que se mostra mais afectado com a morte do amigo. Nota-se nas suas expressões e reacções que se encontra desesperado, sózinho. Nota-se que entre os dois amigos seria possível que existisse algo mais do que amizade. Possivelmente um amor ocultado de todos.
O encontro entre estes amigos dez anos depois é feito em grande parte à volta de uma mesa, de muito alcoól e de algumas ganzas para "animar a malta". Falam sobre o passado e as suas experiências assim como a presença do João nas suas vidas. Aqueles que com ele mais privaram e as poucas palavras sábias que este seu amigo, silencioso como eles próprios admitem, ocasionalmente lhes dava.
Refletem todos sobre os belos tempos universitários que tiveram, e sobre as experiências que fizeram deste grupo amigos para toda a vida independentemente da distância que os poderia separar. Mostram-nos como as suas vidas aparentemente perfeitas não o são na realidade. Falam sobre o que ficou por fazer e por tentar. Revelam-nos de como os seus sonhos ficaram para sempre, aparentemente, esquecidos.
Este filme de Telmo Martins e com um argumento do próprio realizador em parceria com Luís Campos e Jorge Vaz Nande aparenta ter a nível das interpretações algumas "falhas" pois elas são, por vezes, pouco naturais. No entanto, esse mesmo aspecto contribui para que nos pareçam reais os momentos de diálogo entre os vários amigos. Parecem realmente ser pessoas que estiveram separadas durante dez anos.
É agradável ver como o cinema português finalmente, ao que me parece, já ultrapassou complexos antigos e que agora já se permite fazer filmes de todo o género e feitio e que conseguem chegar a todos os géneros de público. É bom perceber, gostemos ou não daquilo que nos é apresentado, que já há filmes para todos os gostos e que o cinema português começa a dispersar por todas as áreas não se limitando apenas ao chamado "cinema de autor" onde, supostamente, apenas algumas pessoas têm direito a poder ver filmes do nosso "mercado".
Deixo ainda um pequeno destaque à banda-sonora de André Fernandes que não só é enérgica e divertida como emocionante nos momentos certos. É uma lufada de ar fresco (cliché à parte) que resulta muito bem no filme e com a sua história.
Este Um Funeral à Chuva foi para mim uma surpresa agradável. Foi bom poder ver um filme do qual pouco sabia, e que me conseguiu provocar algumas risadas por um ou outro momento mais divertido num filme que, é essencialmente sobre a morte de uma pessoa. Filme este que ao mesmo tempo e através da sua simplicidade consegue também deixarmos a pensar sobre as nossas vidas, os nossos amigos e os nossos sonhos para o futuro. É aqui que este filme se torna um vencedor.
Parabéns aos actores e ao realizador Telmo Martins que... lá por Abril ou Maio, altura em que deve conquistar a nomeação ao Globo de Ouro SIC/Caras para Melhor Filme.
Uma aposta ganha e que espero seja o motor de arranque para outras histórias do género que aposto saírem igualmente vencedoras e alvo de curiosidade do público nacional.
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7 / 10
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