segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Remember Me (2010)

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Lembra-te de Mim de Allen Coulter é possivelmente dos grandes filmes que vi nos últimos tempos e, como tal, dos mais complicados para tecer um comentário. Assim sendo, se no final de quem ler isto, tudo o que cá esteja escrito parecer muito "off"... peço-vos que não o estranhem. Falar do que se gosta é, muitas vezes, bastante complicado e muito complexo.
Este filme começa com um assalto e uma morte na Nova York de 1991, que percebemos ir mudar a vida de quem sobrevive para sempre, muda num instante para a mesma cidade mas dez anos depois.
Estamos no Verão... presenciamos uma família a prestar homenagem a alguém que morreu e que, mais tarde, vimos a saber ser o filho e irmão dos presentes. Tyler (Robert Pattinson) o filho mais velho e que vive uma tensa relação com Charles (Pierce Brosnan) um pai austero e ausente tanto para ele como para a sua jovem irmã Caroline (Ruby Jerins). Diane (Lena Olin) a mãe agora casada com outro homem desde que a família não aguentou a morte do filho. Todos eles estão num presente estado de tensão resultado de muita falta de comunicação e afastando progressivo de uns para com os outros e que parece não ter qualquer solução à vista.
Ao mesmo tempo voltamos a centrar-nos na história de Allyson (Emilie de Ravin) a sobrevivente do assalto com que o filme começou e a sua tensa relação com o pai Neil (Chris Cooper), que havia detido Tyler dias antes. Tyler e Allyson vão então conhecer-se, vão gostar um do outro e vão viver em conjunto os fantasmas que assombram as suas vidas até um final totalmente inesperado e surpreendente pela magnitude que alcança.
O filme é do princípio até ao final bom. Simplesmente bom. Como comecei por dizer, passam por vezes tempos sem fim até se encontrar um filme que nos satisfaça na totalidade. Este está lá a 100%.
Assistimos a famílias destruídas pela morte. Magoadas com o que dizem entre si e provavelmente mais ainda com aquilo que fica por dizer. Os silêncios acabam por ser mais mortais do que a própria morte pois vão, aos poucos, destruindo o que de mais bonito existe dentro de cada um. Destrói a sua luz e a sua essência.
Sentimos isto com quase todas as personagens deste filme mas tanto Tyler como Caroline são disto o exemplo perfeito. Dois filhos sobreviventes ao suicídio do seu irmão mais velho e que, de uma ou outra forma se refugiaram num silêncio que vai aos poucos consumindo as suas próprias almas. Tyler com a relação tensa e algo agressiva para com o pai, e Caroline por se sentir afastada do mesmo vão, aos poucos, vivendo vidas isoladas e em silêncio.
Silêncio este que não mata mas os consome. Consome a sua alegria de viver, de sentir e de gostar latentes principalmente nos relatos que nos chegam sobre a vida de Tyler onde as relações esporádicas e sem significado acabam por ser a prática corrente do seu dia-a-dia.
O argumento de Will Fetters é no mínimo excelente. Não querendo revelar qual o seu surpreendente e muito bem elaborado final, do qual vamos tendo algumas pistas mas que passam ao lado visto que estamos mais concentrados nas tensas relações destas duas famílias, não deixo no entanto de dizer que deu a todos estes actores excelentes possibilidades de fazerem sentir um conjunto de emoções que, infelizmente, nem sempre encontramos nos filmes.
E com isto quero dizer que estas mesmas interpretações, retiradas de actores que à partida até poderiam ser suspeitos para o público, são de primeiro nível. Robert Pattinson como Tyler, revela o enorme potencial que tem e que está, em certa medida, desperdiçado em filmes-pipoca que fazem muito furor mas têm pouco conteúdo e que quase votam ao esquecimento grandes filmes e grandes histórias como a que temos aqui. Para aqueles de nós que duvidam das capacidades interpretativas de Pattinson aqui temos a prova que este actor britânico é capaz de nos dar muito bom trabalho ao contrário do mediano a que vamos sendo habituados a ver da sua parte.
Os restantes actores, importantes para o desenvolvimento da história mas secundários na mesma, estão ao nível exigido... muito bons. No entanto seria injusto passar por este comentário sem deixar um pequeno (ou grande) reparo sobre o trabalho de um desses intervenientes. Ruby Jerins, que interpreta Caroline a irmã mais nova de Tyler, é de longe uma jovem actriz para a qual todas as atenções (e esperamos bons trabalhos) estão direccionados. Esta jovem actriz é no mínimo surpreendente ao espelhar quer no seu olhar quer nos seus movimentos tímidos e envergonhados, o medo e o recalcamento emocional que sente para com o amor e a atenção que o seu pai, a quem tanto quer agradar, não lhe dá.
Finalmente (haveria tanto por dizer...) faço um destaque também à igualmente grandiosa banda-sonora da autoria de Marcelo Zarvos que nos últimos quinze minutos do filme, provavelmente os mais intensos, dá a toda esta obra uma dimensão superior que, na minha opinião, coloca este filme algo "esquecido" num patamar dos melhores do ano. Uma pena que esta temporada de prémios que agora começa não o olhe com olhos de quem vê, possivelmente graças aos mesmos momentos finais que lançam este filme para uma dimensão ainda mais séria do que aquela que já havia alcançado.
Resumindo tudo isto... e provavelmente muito mais do que havia por dizer... para aqueles que não querem ver este filme porque a imagem do Robert Pattinson pode estar ligada a outro estilo menor de filmes, tentem ignorar esse aspecto e de coração aberta vê-lo pois com toda a certeza não se irão arrepender da excelente surpresa que vão ter ao verem, sentirem e apreciarem a experiência maior que é este filme.
Para além de uma história de amor... Para além de uma história da solidão... Para além de uma história sobre o silêncio... Para além de uma história de dor... Para além de uma história de uma família, este filme é sem qualquer margem para dúvidas, imperdível.
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"Tyler: If you could hear me, I would say that our finger prints don't fade from the lives we've touched."
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10 / 10
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