Tattoo de Riccardo Di Gerlando é uma curta-metragem de ficção italiana que nos relata a história de um dedicado Avô (Massimo Botti) que sente toda a sua existência alterada quando recorda o trágico assassinato da sua neta Maria.
Com uma existência permanentemente afectada, este homem desgastado pelo tempo, dedica-se a uma arte que irá contemplar as marcas - da experiência, da vida, ... - ou seja, a arte de tatuar. Uma arte que servira outrora para marcar os criminosos e que agora serve para exibir uma nova moda, e que graças a este homem irá novamente ganhar toda uma nova dimensão.
Mas também a sua vida irá evidenciar um novo caminho quando este avô se cruza com Massimo Marchi (Alessio Zavoli)... o assassino (e ex-namorado) da sua neta.
O argumento de Tattoo, também da autoria de Di Gerlando, transforma a trágica história das suas personagens num conto que une a fantasia à vingança e a tragédia à redenção sem deixar de a todo o momento brindar o espectador com uma profunda angústia e sensação de contenção avassaladoras. Se por um lado conseguimos perceber que o sentido de perda e de jsutiça vivem de braços dados e que todas as suas personagens caminham para uma estrada comum, não é menos verdade que aos poucos tentamos assistir a uma qualquer redenção que os faça seguir um percurso diferente. No entanto, não é menos verdade que esta seria uma solução impossível quando percebemos que o seu principal protagonista - Massimo Botti num registo notável - é apenas "alimentado" pelo seu grande desejo de vingança. Mas esta não chegaria com a morte de ninguém.
Tattoo brinda-nos com o poder da mudança. A mudança que se prepara e que se tenta para obter um futuro melhor mas que, ao mesmo tempo, se sabe que nunca irá chegar mostrando apenas que "algo" foi possível mas que jamais estará ao seu alcance. A mudança de um jovem com um impulso que o iria marcar para sempre e principalmente a mudança na vida de um homem que sempre amou uma neta por que tudo fez e a quem tudo deu... inclusivé o poder de sonhar.
E esta mudança apenas será possível graças à arte aqui retratada - a da tatuagem - que irá marcar o destino dos dois únicos sobreviventes de um evento trágico: o perpetrador e a vítima: assassino e avô. Dois homens cujos destinos ficaram ligados desde o dia em que um fez o outro perder o seu ente mais precioso... aquele por quem dedicou toda a sua estima, atenção e a quem mostrou mundos (im)possíveis para além da sua própria imaginação, aqui reflectidos no camaleão mutável e sobrevivente que confere a dimensão "fantástica" desta história.
Mas não só de mudança se trata Tattoo. Para além disso, esta curta-metragem é uma história de sobrevivência não do corpo físico mas da sua memória, do espírito e da capacidade de poder chegar ao dia de amanhã mesmo que o mundo de quem vive uma tragédia seja completamente abalado e alterado. Consegue alguém realmente sobreviver quando tudo aquilo que se conhece e estima acaba por desaparecer? Que futuro existirá depois de um acontecimento marcante? Poderá a vingança ser o "motor" dessa mesma sobrevivência?! Tattoo mostra-nos que (in)felizmente isso pode acontecer.
Numa interessante mescla de fantasia, filme social e história de vingança familiar, Riccardo Di Gerlando volta a entregar-nos uma história pessoal, assumidamente emotiva ainda que de sentimentos reprimidos e apenas manifestados num clímax aguardado e que nos faz lembrar que o "amanhã" é possível... podendo ser um pouco diferente daquilo que inicialmente idealizámos.
.
.
7 / 10
.
Sem comentários:
Enviar um comentário