Um Avô Muito à Frente de Dan Mazer é uma longa-metragem norte-americana e o mais recente filme de uma lenda do cinema como o é Robert De Niro enquanto protagonista.
Dias antes do casamento de Jason (Zac Efron), a sua avó morre depois de uma batalha contra o cancro que durou dez anos. Depois de um longo afastamento do seu avô Dick (Robert De Niro), Jason leva o avô até à Florida onde deverá encontrar-se com um antigo companheiro do exército. No entanto, e sem que Jason desconfie, Dick tem os seus próprios planos para reatar uma distante relação com o seu neto e mostrar-lhe quais os verdadeiros prazeres de uma vida ainda jovem.
De Niro está de regresso às comédias - depois da trilogia de Meet the Parents, Meet Fockers e Little Fockers que se iniciou em 2004 e do mais recente The Intern (2015) - aqui com uma interpretação que está longe do registo mais sério dentro da mesma que tão habitualmente o caracteriza. Se pensarmos em todos os desempenhos de comédia no qual temos visto este actor fetiche de Scorsese, recordamos de imediato a sua carismática presença enquanto aquele elemento mais terra a terra dentro do estilo. Aqui, ao contrário desse registo, De Niro é assumidamente o elemento mais descontraído e vulgar (pelo seu registo dito... "brejeiro") que não só surpreende como o revitaliza dentro do mesmo entregando uma interpretação que nos cativa por, de certa forma, este ser o avô que todos acabamos por querer ter sem, no entanto, ter de testemunhar alguns dos seus hábitos como aquele em que o "Jason" de Zac Efron o encontra da primeira vez em sua casa.
Num estilo muito próprio de road trip que o cinema norte-americano tão bem sabe entregar, Dirty Grandpa é desde o primeiro instante um daqueles filmes que o espectador percebe tratar-se de um reencontro entre duas pessoas - avô e neto - que desde há muito se separaram pelas incontornáveis reviravoltas que a vida dá. Casamentos e funerais são, de certa forma, os pontos de encontro para todos aqueles que se distanciaram. Os momentos mais ou menos ideias que reaproximam as pessoas e as revelam como perfeitos desconhecidos mesmo partilhando todo um conjunto de memórias e elos que, na prática, os deveriam unir. É com a morte e toda uma promessa de um novo começo que estes dois homens representantes de duas gerações iniciam a sua (nova) vida em comum, recordando aquilo que anos antes os havia unido e que agora parece tão distante. Dirty Grandpa é assim uma história de reencontros. Uma história em que avô sente a necessidade de reencontrar o neto que já não conhece e que não sabe quem é enquanto homem, esperando poder recuperá-lo de uma existência que entende não ser aquela que o próprio sonhou.
Como todos os filmes do género e muito em particular um em que o espectador tem todo o carisma de um sempre inspirado Robert De Niro, aquilo que temos para lá de toda uma mensagem desse tal reencontro é um conjunto de segmentos mais ou menos felizes - aqui todos bem conseguidos - em que estes dois homens se reencontram, e onde no seio de todos os distanciamentos e redescobertas sobre si mesmos e sobre o "outro", encontram a relação que em tempos tiveram e que era, até agora, perdida e o mote para toda uma nova vivência.
Se De Niro é sem margem para qualquer dúvida a alma de todo este filme tendo o espectador acesso para um conjunto de momentos divertidos e que - tivesse o filme estreado numa época mais promissora - lhe poderia conferir uma nomeação ao Globo de Ouro da HFPA na respectiva categoria, é também justo dizer que apesar do seu co-protagonista Zac Efron não ter ainda conseguido distanciar-se da imagem de actor de comédias ligeiras ou de filmes para adolescentes, consegue aqui estabelecer-se como uma simpática aposta numa comédia disponível e aberta para um público mais abrangente e não ficar "perdido" na mesma equilibrando(-se) numa longa-metragem que tem tudo para fazer brilhar o veterano actor eclipsando os demais. E se Efron se desembaraça bem criando o seu próprio espaço nesta comédia - e em especial na spring break a que tão bem se agarra - é também justo dizer que existem ainda dos actores que sendo secundários conseguem retirar alguns dos momentos mais hilariantes de Dirty Grandpa. Por um lado temos a não tão ingénua e inocente Audrey Plaza que cria com a sua "Lenore" a jovem pervertida caça homens para os seus mais intensos devaneios sexuais numa dupla praticamente perfeita com De Niro. Os seus desinibidos e hilariantes diálogos lançam uma estranha, perversa e intensa relação ao longo do filme que apenas termina... no próprio final... ou talvez não. Por outro lado existe ainda o "Tan Pam" de Jason Mantzoukas que consegue recriar alguns momentos praticamente alucinantes pela invulgaridade - e improbabilidade - da sua personagem num mundo tão controlado... Ainda assim, e sem par para estabelecer uma dinâmica, Mantzoukas consegue fazer vibrar em vários momentos de Dirty Grandpa fazendo-nos crer que existem sempre dois lados para cada (pessoa) personagem... mesmo que estas sejam agentes da autoridade ou até mesmo eventuais traficantes...
Ainda que uma comédia ligeira, Dirty Grandpa tende a querer transmitir a tal mensagem de reencontro familiar - afinal, o único verdadeiro elo de ligação que existe entre as pessoas... ou pelo menos assim deveria ser - Uma mensagem de aceitação e compreensão dos que de nós mais próximos estão e que esperam - e por vezes desesperam - pelo nosso bem estar e completa realização pessoal e sentimental livrando-nos dos eventuais erros de coração que são feitos pelo "caminho" e que a dupla De Niro e Efron bem representam apesar do espectador não estar necessariamente perante as duas personagens mais originais neste género cinematográfico criando - eventualmente - uma maior empatia com as mesmas graças ao notório carisma de um sempre disponível De Niro. No entanto, aquilo que acaba por desvalorizar um pouco o tom de comédia ligeira proposto em Dirty Grandpa acaba por ser o seu final pouco inspirado, diria até previsível e, de certa forma, o cliché em que toda a família acaba - depois de uma viagem atribulada e nem sempre esperada ou bem vista - por se aceitar incondicionalmente sem questionar ou expiar os anos de distância e afastamento mais ou menos voluntários. Termina bem... e acaba por ser só isso que é dado a conhecer ao espectador - mesmo que acabe por deixar no ar a eventualidade de uma sequela.
Não é nenhuma pérola... não é o melhor filme alguma vez visto... Nem tão pouco é aquele filme original - dentro do género - a que alguma vez assistimos e que sabemos que irá ficar para sempre guardado na nossa memória. É, no entanto, um filme alegre, bem disposto e capaz de fazer soltar uma ou outra gargalhada pelo absurdo, pelos eventuais segmentos mais grotescos e pela simpatia que reconhecemos a um actor que interpreta aqueles elementos saudavelmente mais "perversos" do avô de qualquer um de nós. Não sendo De Niro em estado de graça - este também não é o género em que o reconhecemos -, a realidade é que De Niro tem, de facto, muita graça.
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"Dick Kelly:
Party 'till you're pregnant!"
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7 / 10
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