Xico+Xana de Francisco Falcão (aka Fakano) - também autor do argumento - é uma curta-metragem portuguesa que nos leva aos finais da já ida década de 80 do século passado nos quais o jovem Xico (João Sá Nogueira) se perde de amores por Xana (Bárbara Lourenço), uma rapariga mais velha.
No entanto, o que acontece quando todo o encanto desaparece e se percebe que o mundo não é tão romântico quanto inicialmente se previa?
Num sempre bem ritmado clima muito típico dos anos 80 que o comprovam os pequenos detalhes que povoam aquele pequeno apartamento onde boa parte da acção decorre, nomeadamente os cartazes de ídolos de então como Freddie Mercury ou de sucessos de bilheteira como o foram Cocktail, de Roger Donaldson mas também alguns sucessos musicais lusitanos como o foram "Só Gosto de Ti" e "Paixão" dos Heróis do Mar, Xico+Xana revela-se uma curta-metragem que tem como principal fundamento um forte sentido de mudança pessoal e social.
Os relatos iniciais dados a conhecer ao espectador sobre o Muro de Berlim e os nefastos efeitos que o mesmo provocou separando populações e famílias marca o clima de uma mudança social que ninguém esperava mas que todos recordam estabelecendo o tal paralelismo de "novos tempos" que seriam sentidos a nível pessoal pelo jovem "Xico", pela sua "Mãe" e por "Xana" por quem tinha uma paixoneta juvenil. O jovem "Xico" tem aqui o seu primeiro despertar sentimental ao sentir por "Xana" uma intensa - e pueril - paixão que irá, de certa forma, estabelecer o mote para a adolescência que se aproxima. "Como será um beijo?" ou "como será que devo tratar a outra menina?" são questões que silenciosamente assolam a mente desta criança que descobre que existe mais para além de um amor parental que - por razões que se vão tornando óbvias - ele não sente.
As transformações pessoais chegam para "Xana" sob outra perspectiva, ou seja, se para o jovem "Xico" elas são de descoberta, para ela estas revelações chegam através de uma inicial sedução que, tal como a aranha que tem uma presença marcante nesta curta-metragem, tece uma teia à sua volta caçando a presa mais inofensiva e desatenta mas que aos poucos se vê desprotegida, desamparada e susceptível às ameaças externas de que é alvo, perdendo-se pelo caminho sem nenhum porto de abrigo. É também este sentimento de desencanto que se sente na "Mãe" (Ana Padrão), agora perdida por já não ter o seu marido - a sua paixão - recentemente falecido e cuja ausência é ainda motivo de uma adaptação algo descontrolada que dá origem ao afastamento do seu próprio filho.
Mas este desencanto não chega só e acaba por se tornar no principal motivo da inevitável revolta de "Xico" ao perceber que a tal "idade adulta" tão desejada por alguns - talvez ele próprio - mais não é do que receptáculo de desencantos, desilusões e perdas... Perda aliás que se torna o "sentimento" presente a todos eles; de uma paixão, de um encanto ou de uma vida em comum... No fundo, a perda daquilo que conheceram como sendo amor.
Xico+Xana é então uma curta-metragem que reflecte sobre o fim... de ídolos... da infância... da adolescência... e de paixões... Um fim que anuncia a chegada da desilusão da idade adulta... excepto para aqueles que se revoltam contra esse mesmo fim e que esperam mais... muito mais.
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8 / 10
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