Regressão de Alejandro Amenábar é uma longa-metragem espanhola baseada em factos verídicos e a mais recente do realizador chileno-espanhol autor de obras como Tesis (1996), Abre los Ojos (1997), The Others (2001), Mar Adentro (2004) e Agora (2009) - a sua última longa-metragem.
Quando Angela (Emma Watson) acusa o pai de violação, o detective Bruce Kenner (Ethan Hawke) é envolvido numa investigação que expõe toda a família da jovem e a própria comunidade num amplo esquema de rituais satânicos e de assassinato onde todos se tornam inesperados suspeitos mas onde nem tudo o que parece... é.
Num registo que muito se aproxima de The Others onde um clima de suspeição e mistério revestem aquela que parece ser uma tenebrosa história de terror. Vários são os elementos que ao longo de Regression parecem querer induzir o espectador para um desfecho macabro o suficiente para temermos conhecer pequenas e pacatas comunidades nomeadamente o conservadorismo que as rodeia bem como aos preconceitos que lhe estão, de certa forma, inerentes e que as transformam em lugares peculiares, sombrios e envoltos numa atmosfera diferente que se torna difícil classificá-los como locais terrenos... ou talvez não.
Em Regression o medo chega assim não pelo desconhecido mas sim pela eventual transformação que aquilo que sempre conhecemos demonstra num momento específico, revelando um lado potencialmente macabro, assustador e que a mente faz escalar a níveis assustadores o suficiente para que o temor e o pânico se mesclem e destruam todas as nossas fundações. O vizinho, o amigo e até mesmo o familiar são imediatamente suspeitos de primeira linha... Será que olham para mim? Será aquele telefonema de madrugada uma ameaça ou um engano? Todos me observam... Quando o poder da sugestão subjuga as mais sérias convicções que cada indivíduo tem... Instala-se a incerteza e consequentemente a paranóia.
No entanto aquilo que Regression consegue espelhar é um conjunto de valores ditos morais conservadores que transformam a acusação de um crime numa expiação por um pseudo pecado que essas mesmas convicções parecem querer denunciar. Terá "John" cometido um crime apenas como penitência por aquilo que ele julga ser o pecado de outro ou terá cometido por ser de sua plena vontade poder fazê-lo? Mas... será ele apenas a vítima de uma alucinação e debilidade mental que fora aproveitada por terceiros estando, afinal, inocente daquilo que o acusam? Será tudo isto o resultado de uma paranóia colectiva originada pelo preconceito e pela sugestão conferidas por um conjunto de reportagens "programadas" para provocar o medo nos meios mais segregados e que são lentamente elevados pelas fantasias pessoais? No fundo, quanto "eu" desejo algo mais do que aquilo que tenho vivendo convictamente que o mereço para lá de todas as possibilidades... poderei deixar-me levar por um mundo de fantasia que a tudo obrigue para ver cumprida a minha vontade?
Ainda que Regression denote elementos semelhantes aos de The Others e uma atmosfera que em muito se aproxima nomeadamente graças à direcção de fotografia de Daniel Aranyó que carrega nas cores fortes e escuras para transformar aquela pequena localidade num local habitado por forças do mal, escondendo a luz e dando vida às trevas, é também a música original de Roque Baños - um mestre na direcção musical de inúmeras obras espanholas - que realça essa mesma, não deixa de ser verdade que esta não consegue criar o impacto e a dramatização que a obra de Nicole Kidman criou há mais de dez anos não só pela sua dramatização como também pela forma como transformou todo aquele espaço num clima claustrofóbico e labiríntico.
Regression é uma longa-metragem interessante pela tensão que consegue criar desde o primeiro instante mas que faz dissipar pelo clima de certezas que assume no seu final não permitindo que o espectador mantenha a dúvida e os "ses" que criou durante mais de hora e meia. Com uma interpretação inspirada de Ethan Hawke como um homem atormentado com aquilo que (des)conhece da comunidade em que sempre viveu, Regression não será a obra mais conseguida de Amenábar - ou tão pouco aquela que servirá como o seu cartão de visita - mas não deixa, no entanto, de cumprir com alguns pressupostos que estabeleceu denotando-se principalmente na sua componente técnica e na vontade que o seu argumento firmou mas que, em última análise, deixou escapar num final... "assim assim".
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