domingo, 21 de fevereiro de 2016

Svetlyachok (2015)

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Svetlyachok de Natalya Nazarova é uma curta-metragem russa de ficção presente na competição internacional do Córtex - Festival de Curtas-Metragens de Sintra que hoje terminou no Centro Cultural Olga de Cadaval.
Yana vive numa cidade costeira da Rússia e colecciona selos. Os seus dias são passados na companhia do seu amigo Kolya e numa constante espera do seu pai que sabe não ir regressar.
Para Yana tudo está perfeito e nem mesmo a sua paralisia cerebral a inibem de levar uma vida normal, gostar da companhia de um amigo e interessar-se sentimentalmente por outro homem que olha para ela enquanto mulher. Yana é feliz e os seus dias passam.
Natalya Nazarova dirige esta simpática curta-metragem que exala uma contagiante alegria e boa disposição mesmo percebendo o espectador que as suas atípicas personagens vivem num espaço onde todas as suas expectativas estão limitadas a um lento passar do dia. É o chegar de um novo dia - e eventualmente de uma nova esperança - que acaba por estar no centro das vidas de todas as personagens e principalmente de "Yana", uma jovem mulher cujas experiências pessoais e de vida estão condicionadas pela sua situação de saúde mesmo que, para ela, a mesma seja uma muito pequena parte da sua existência.
"Yana" é e vive feliz. Os seus selos e o seu amigo "Kolya" são a companhia e os elementos essenciais e indispensáveis para que tudo resulte tal como ela quer. Ele é o amigo - também ele atípico - que ela necessita para perceber que se mantém desperta numa vida que não a tratou tal como ela merecia mas, ao mesmo tempo, percebe que nada do que a rodeia a condiciona ou define. Por sua vez, a sua colecção de selos, aqueles papelinhos minúsculos que têm tanta história por contar, representam todos aqueles locais por onde ela eventualmente se imagina a passear mas que no seu mais íntimo ser sabe nunca o ir fazer. "Yana" viaja e percorre o mundo apenas na sua pequena aldeia costeira de uma Rússia profunda e vive feliz... dentro das suas possibilidades (ou limitações), ignorando voluntariamente que esse mesmo mundo para lá daquelas "fronteiras" nunca estará ao seu alcance.
Cómica pela magnífica força de viver apresentada por uma personagem que teria tudo para lamentar sobre a sua existência, Svetlyachok apresenta uma extraordinária força de vida e esperança num amanhã melhor. Um amanhã que é, por momentos, chorado pela constatação de que tudo poderia ser - ter sido - muito melhor neste mundo que é - pelo menos para "Yana" - uma tragédia não ignorada mas vivida numa triste alegria.
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8 / 10
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