sábado, 20 de fevereiro de 2016

Amélia & Duarte (2015)

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Amélia & Duarte de Alice Guimarães e Mónica Santos é uma curta-metragem portuguesa que une os géneros da ficção e da animação e encontra-se na Competição Nacional do Córtex - Festival de Curtas-Metragens de Sintra que decorre no Centro Cultural Olga de Cadaval.
Amélia e Duarte são um casal em ruptura. Daquilo que em tempos fora uma apaixonada relação agora só permanecem as memórias de algo que já não é. Onde e como guardar tudo o que outrora foi? Arquivar... esconder... esquecer... arrumar ou quem sabe até devolver todos os momentos de uma história partilhada?
Num ritmo frenético e por vezes quase hilariante, Amélia & Duarte é um dos mais interessantes e algo bem disposto registo sobre o fim de uma relação. Naquele exacto momento em que parece que todo o mundo desabou e todo um novo percurso surge para ser percorrido, a dupla de realizadoras entrega ao espectador uma história que para lá de o deixar pensativo sobre um eventual passado deixa, por sua vez, a tranquilidade e confiança de que tudo poder - poderá? - ser ultrapassado.
Tudo começa com um inesperado "departamento" - a Secção dos Amores Perdidos - onde tudo está cuidadosamente arquivado em caixas identificadas apenas com dois nomes... os do casal. Dezenas - senão centenas - de caixas que guardam as memórias dos amores passados e agora perdidos. Objectos, cheiros, sabores, sorrisos, sentimentos e até lágrimas são guardadas neste arquivo que contém um sem fim de momentos vividos entre dois apaixonados.
Poderá o amor acabar? É com este registo por vezes tão cómico que roça o surreal que a dupla de realizadoras obriga o espectador a render-se e a reviver alguns dos seus próprios momentos passados. De uma relação apaixonada e intensa a um final trágico e sofrido onde tudo é questionado, amado e odiado em doses iguais, Amélia & Duarte navega pelo passado feliz, pelos momentos partilhados que, mais tarde, são desprezados pela entrega que lhes foi conferida sem que seja esquecido aquele momento onde os caminhos se cruzam uma vez mais e, livres de despeito, se consegue finalmente olhar e seguir em frente com a recordação de algo bom que foi vivido, partilhado e amado.
Longe de um filme sobre a amargura de um momento, Amélia & Duarte transforma todos os momentos tidos como "mais sérios" em enérgicos segmentos onde são desafiadas as noções sobre o sofrimento e a dor provocados por um "fim", revelando que de tudo o que termina existe obrigatoriamente algo que se inicia. Que de todas as estradas fechadas existe sempre uma outra que se transforma e revela. E principalmente, que de todos os momentos transformadores onde se equaciona que já não existirá um novo começo, este surge de um reencontro pacífico onde tudo é finalmente perdoado e ultrapassado.
Original, divertida e quanto baste melancólica, Amélia & Duarte é não só uma das mais fortes curtas-metragens exibidas no Córtex como seguramente um dos mais interessantes e emblemáticos filmes curtos do último ano.
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9 / 10
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