quinta-feira, 1 de junho de 2017

Stalingrado (2015)

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Stalingrado de Anyora Sánchez é uma curta-metragem espanhola de ficção que revela a história da relação de íntima dependência entre Antonio e a mãe Antonia no momento em que ele se apaixona por Tatiana, uma professora de música russa emigrada na região de La Mancha, em Espanha.
A história de Stalingrado não poderia ser mais conservadora. Conservadora não por se conter no relato dos acontecimentos mas sim por revelar a profunda diferença entre a Espanha citadina e cosmopolita que tantas vezes é revelada ao espectador em directo confronto com o interior profundo do país onde os velhos costumes e noções de outros tempos ainda toldam as mentes dos mais velhos.
"Antonio", um pastor em La Mancha viveu até tarde junto da influência de "Antonia", sua mãe e eventualmente o único outro ser vivo a quem confidenciou toda a sua vida. No entanto, "Antonio" conhece um dia "Tatiana", uma atraente emigrante russa por quem se apaixona imediatamente. Se a relação entre ambos é, de certa forma, mantida em segredo e dos olhares da mãe, o pastor tem a certa altura de a levar para sua casa e apresentá-la como a "outra mulher" da sua vida. Da relação de dependência àquela de domínio, é a dinâmica entre mãe e filho que se irá transformar mais radicalmente na medida em que "Antonio" sente necessidade de proteger o seu elo mais forte - com a mãe - em detrimento do seu lado sentimental e afectivo com "Tatiana".
As duas mulheres, que exercem o máximo da sua influência sobre um "Antonio" dividido entre o que conhece e a mudança prestes a confrontá-lo mas, ao mesmo tempo, opta por (in)voluntariamente ignorar os seus próprios sentimentos dando lugar àquilo que as duas mulheres tendem a escolher e decidir por ele. No entanto... uma terá de ceder e deixar exercer a influência da outra em virtude da incapacidade do pastor se afirmar como o elo mais importante deste improvável - e inaceitável - trio.
Se "Antonia" é o fruto de uma Espanha de outros tempos dominada por um conservadorismo católico que modelou as mentes de toda uma geração, é uma recentemente chegada à liberdade "Tatiana" que, tendo também ela vivido sobre a repressão, deseja ardentemente poder viver uma vida aberta a novos costumes, a potenciais novas tradições e também a um potencial amor na pessoa de "Antonio" mas, poderá ela conseguir abrir-lhe o coração?! Neste confronto de gerações ninguém poderá sair a ganhar tendo, todo eles, algo a perder. Para "Antonia" será a influência sobre o seu filho, para este a potencial perda das duas mulheres incapazes de ceder um pouco do seu espaço à outra e finalmente para "Tatiana" a potencial felicidade junto do homem que ama e a construção da sua própria família. Num mundo onde pouco existe para lá das ovelhas que todos os dias pastoreiam, poderá alguém encontrar uma eventual felicidade que se esconde?
Da dependência de "Antonio" ao conservadorismo latente na sua mãe, Stalingrado desenvolve ainda a perspectiva de uma relação maternal intensa e dominadora totalmente centralizada na pressão e na perspectiva de um abandono amaldiçoado ou castrador que impede o pastor de se desenvolver sentimental e afectivamente dando apenas lugar ao despotismo ditatorial de alguém que está habituado e quer continuar a exercer a sua influência castradora. Para "Antonia" não existe ninguém de bom... nem mesmo o seu filho que - para ela - apenas poderá encontrar lugar sob o seu domínio, incapaz de correr atrás de uma felicidade que nem o próprio sabe que existe.
Intensa, amarga, rude e até mesmo dominadora, a experiência de visionamento de Stalingrado consegue ser tão opressora como dinâmica oscilando, por momentos, entre a vontade de uma liberdade que espreita atrás da porta e um resquício de fascismo que domina e não cede face a todos os ventos de mudança. Da ditadura de Estalinegrado àquela que persiste de um Franquismo já ido, Stalingrado opõe, no campo, dois mundos que reagiram de forma diferente à queda dos impérios.
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7 / 10
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