sábado, 17 de junho de 2017

La Mano Invisible (2016)

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La Mano Invisible de David Macián é uma longa-metragem espanhola e uma das candidatas ao Lince de Ouro da mais recente edição do FEST - New Directores New Films Festivals que decorrem em Espinho até ao próximo dia 26 de Junho.
Um espaço vazio. Várias áreas de trabalho. Tudo começa com o projecto de uma nova actividade. Todo um conjunto de estranhas de diversas áreas que agora têm de aprender a trabalho sendo observados. Poderá esta nova experiência resultar?
Daniel Cortázar e David Macián escrevem o argumento desta poderosa longa-metragem reflectindo de forma directa sobre este admirável mundo novo onde todos (des)esperam por uma nova oportunidade onde possam ser alguém... e alguém reconhecido. Mas, como tudo na vida, também esta sua nova oportunidade tem uma ratoeira. E assim começa La Mano Invisible... com a esperança de um novo começo... com a promessa de uma nova oportunidade. Mas a grande questão levanta-se... estará esta nova oportunidade isenta de contrapartidas?
O espectador observa esta longa-metragem a ganhar forma naquele que é um espaço atípico. Imaginemos um espaço que se percebe gigante mas que apenas conseguimos reconhecer os pequenos espaços que se constituem e formam como os de trabalho para cada um dos intervenientes. Imaginemos depois todo um conjunto de actividades que, não estamos interligadas, têm de conviver nesse mesmo espaço e onde se observam com desconfiança, estranheza e alguma incredulidade. Finalmente, imaginemos que para essa convivência se confirmar, têm de executar um conjunto de actividades que estão longe de ser as esperadas das profissões que encarnam. Um construtor (José Luis Torrijo) que tem de construir sucessivamente o mesmo muro com o propósito único de o destruir. Um talhante (Josean Bengoetxea) que corta um sem fim de carne que não tem nenhum destino em particular. Uma tele-operadora (Bárbara Santa-Cruz) que tenta efectuar questionários sem um propósito específico ou uma montadora de peças (Marina Salas) que ora as monta... ora desmonta... sem que tenham nenhum fim à vista. A estes juntam-se um informático (Daniel  Pérez Prada) que ninguém percebe o que faz, uma costureira (Esther Ortega) que desmancha soutien ou uma mulher das limpezas (Elisabet Gelabert) cujos esforços nunca foram reconhecidos. Num misto de indiferença e curiosidade, todas estas personagens passam a ocupar um mesmo espaço comum e, dentro da sua profissão especifica, dedicam-se a uma mecanização profissional que é mutuamente observada e, para lá do escuro de um pavilhão anónimo, são também observados por aqueles que por ali passam e esperam algo mais dos seus comportamentos.
Desde os instantes iniciais que estas cobaias de uma nova experiência profissional sentem os olhares indiscretos que estão para lá daquele escuro. Todos eles percebem que esperam algo deles sendo que ainda não conseguem compreender o quê. No fundo, todos sentem como estando perante um casting em directo que poderá determinar a sua permanência numa profissão com alguém se identificam - ou não - sabendo que esta é certamente a última oportunidade de sobreviverem num mundo onde têm de estar dispostos e preparados para tudo. A (pouca) validação dos seus comportamentos e actividades chega desse "outro lado" onde se encontram aqueles que os observam que, de forma completamente arbitrária, aplaudem ou vaiam aquilo que fazem. Num misto de incerteza e incredulidade... todos eles se acostumam ao que fazem como tendo sido sempre a sua ocupação dita "normal". É portanto esse sentimento de "cobaia" que lentamente se instala - e faz instalar - a desconfiança, a saturação e a vontade de exigir os direitos que sentem não serem cumpridos por parte da sua mútua entidade empregadora.
O desrespeito chega por parte colegas, por parte daqueles que os observam que esperam mais do seu comportamento cada vez menos subserviente, mas também pela própria estrutura laboral que se impõe dos mais fortes para com os mais fracos. As chefias internas e vontades de liderança ameaçam a estabilidade do grupo e a violência psicológica - mas também física - estão apenas a um passo de distância. Num mundo em que a precariedade atinge cada vez mais trabalhadores, instala-se a grande questão... poderão estes em particular entregar-se a um dito "luxo" onde esperam respeito, dignidade e direitos? Poderão eles esperar respeito quando tudo é prontamente elaborado para agradar às massas que precisam ser entretidas? No fundo... não serão eles mais do que meros gladiadores cujo único propósito é divertir aqueles que se dirigem à arena para assistir a um espectáculo?
David Macián reúne aqui um brilhante elenco que dar uma estranha e por vezes inapropriada alma àqueles que já não têm grandes esperanças ou expectativas e esta adaptação da obra homónina de Isaac Rosa que efectua em parceria com Daniel Cortázar, conferem ao espectador um triste, mordaz, sarcástico e por vezes real quadro do mundo laboral tal como hoje o vivemos. Para sermos alguém temos de nos sujeitar a tudo, perder sonhos e responder a objectivos impostos nem que para os realizar se tenha de perder aquela última réstia de ser humanos que todos secretamente ainda guardamos. Percebemos o medo tão bem como a indiferença. Mas percebemos ainda mais que apenas se conquista respeito quando se trabalha em grupo. Quando se lutam pelos mesmos ideais e principalmente quando não se perde a dignidade que tantos, tantas vezes e em tantos momentos tentam reprimir.
Actual, pertinente e sempre (sempre) importante, La Mano Invisible pode(rá) facilmente funcionar como um alerta para aquele tal mundo desumanizado que tão oportunamente gostamos de ignorar constituindo-se esta longa-metragem espanhola não só como um dos mais representativos exemplares do cinema pós-crise como também um dos mais fortes candidatos ao Lince de Ouro do FEST 2017.
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