A Torre Negra de Nikolaj Arcel é uma longa-metragem norte-americana e a mais recente adaptação da obra de Stephen King ao grande ecrã baseado no seu conto homónimo.
Algures no Universo existe a Torre Negra que previne que o mal se propague pelo mesmo condenando todos os mundos à sua passagem. Roland (Idris Elba) um combatente pelo Bem vive numa constante batalha com Walter (Matthew McConaughey) conhecido com o Homem de Negro e um emissário desse Mal que pretende destruir a Torre Negra. Mas depois de anos de perdas e de batalhas que lhe roubaram o mais importante da vida, é quando surge Jake (Tom Taylor) no caminho de Roland que volta a surgir uma esperança não só para o seu mundo como para todo o Universo.
É sempre um momento excitante para um cinéfilo quando a obra de Stephen King é adaptada ao cinema ou à televisão. Independentemente da obra que venha a ser filmada, existe uma certa magia e curiosidade quando associada à mesma vem o nome do autor e a materialização do seu Universo se transforma diante dos olhos do espectador mais incrédulo. Isto, aliado a um trailer mais ou menos enigmático e repleto de uma dinâmica que cruza os "mundos" paralelos confere à sua obra um imaginário místico e desafiante que ninguém quer perder.. e com isto se pensarmos que esta é a primeira de duas obras do autor adaptada ao cinema este ano - sendo a próxima o enigmático It -, The Dark Tower tem tudo para que o espectador mais desatento esteja em peso nas salas de cinema.
No entanto, o que nos traz este The Dark Tower? Em primeiro lugar a noção de que tudo aquilo que acontece num mundo ecoa directamente em todos os demais influenciando a vida e a dinâmica nos mesmos... isto claro, se se acreditar na existência destes universos paralelos onde a vida se desenvolve à sua própria maneira... Esta existência dos referidos mundos paralelos não só cria a teorização da vida para lá das fronteiras com as quais a conhecemos como, ao mesmo tempo está automaticamente implícita a "realidade" das viagens temporais (ou entre mundos) que podem ser muito apelativas a uma obra cinematográfica que mescla o suspense, o esperado terror (falamos de King) e a ficção científica mas que, no entanto, precisa de um pulso filme por detrás da câmara para que não se torne nem confusa... nem maçadora. The Dark Tower consegue, no entanto, disparar em todas as direcções sem se concentrar na esperada credibilidade que era devida à obra de Stephen King.
Arcej, que também colaborou no argumento com Akiva Goldsman, Jeff Pinkner e Anders Thomas JEnsen parece ter querido contar tudo numa pequena história que pouco ultrapassa os noventa minutos de duração e, como tal, deixar de lado todos os pequenos detalhes que seriam de esperar nesta execução. Temos as viagens temporais, temos a ficção científica, temos até o sempre presente elemento da obra de King transformando sempre em protagonista um jovem com um passado mais ou menos problemático mas, ainda assim, esquece-se que esta história está cheia de pequenas grandes subtilezas que foram obliteradas em nome de uma longa-metragem que tinha um prazo de estreia e a qual necessitava de uma receita de bilheteira urgente. Impossível de se confirmarem todos os pequenos inuendos nesta longa-metragem... o que sobra dela? Pouco... muito pouco! The Dark Tower tem alguns momentos de acção, tem a presença de King na sua narrativa e até uma dupla de actores protagonistas suficientemente confirmados para que o espectador lhe dedique alguma atenção mas, ao mesmo tempo, por muito que decorram os minutos permanece sempre uma sensação de que a mesma está a ser direccionada para um caminho sem retorno - especialmente se considerarmos que não existe nada programado para que esta história se desenvolva para lá daquilo que aqui é entregue - e que tudo se aparenta como uma colagem de momentos depois transformados em filme. Esteticamente apelativo? Sim... Dinâmico? Por breves momentos... E interessante? Nem por isso...
Quanto aos seus actores... nem McConaughey consegue ser credível como vilão nem Elba consegue ser dinâmico o suficiente como herói de serviço mantendo-se apenas como uma aparente referência de um passado glorioso ensombrado pela desgraça, pela perda e pela dor física e psicológica que limitam as suas capacidades de enfrentar um mal cada vez maior.
Dotado de uma estética visual apelativa - talvez o único factor predominantemente positivo em toda esta longa-metragem - The Dark Tower mantém-se naquele patamar de filme fantasia/ficção científica que nunca chega a categoria de suspense ou terror na qual se insere toda a obra de Stephen King limitando assim - e muito - o seu potencial espectador habituado à dinâmica das obras do autor e, ao mesmo tempo, dificilmente consegue inserir-se no espectro das obras de aventura ou sobrenatural ao nunca assumir o rosto desse mal - afinal, se é assim tão poderoso e destruidor deveria ter um rosto (não necessariamente "deformado") que as demais personagens conseguissem de facto temer - que se impusesse simplesmente pela sua presença ou compreensão da mesma. Não basta saber-se que existe... é preciso que ele se imponha e marque pela sua acção devastadora...
Promissor pela marca autoral e pela premissa, afinal se fôr corrompida a camada mais jovem de uma população, o que restará da mesma como sua directa consequência, The Dark Tower é daquelas longas-metragens que o espectador mais atento facilmente identifica como o típico filme estival com poucas pretensões para lá do lucro de bilheteira aquando da sua estreia, que não retira o melhor dos grandes actores que lhe tentam dar alma mas que apenas se ficam pelo "corpo presente" e, finalmente, pela oportunidade perdida de filmar uma das obras mais enigmáticas de um autor referência mundial no universo do terror e do sobrenatural.
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