Dave Made a Maze de Bill Watterson é uma longa-metragem norte-americana presente na secção Serviço de Quarto da décima-primeira edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que decorre no Cinema São Jorge até ao próximo dia 10 de Setembro.
Dave (Nick Thune) é um artista que ainda não teve o seu momento. Deprimido e com alguma falta de criatividade, lança-se na construção de um labirinto... dentro da sua casa. Aquilo que surge como o fruto de uma mente imaginativa desocupada cedo ganha proporções avassaladoras e perigos inesperados. Poderá Dave e o seu conjunto de amigos libertar-se de uma ameaça constante que lentamente transcende o seu próprio imaginário?!
Num estilo inicial que mescla o mockumentary e a ficção, Dave Made a Maze sente-se como um filme feito com um conjunto de amigos descomprometidos e descontraídos que resolveram divertir-se num final de semana. Com um argumento escrito pelo realizador em parceria com Steven Sears, esta longa-metragem tende a sugerir muito facilmente que foi tudo elaborado no barracão lá de casa, deixando trespassar a ideia de que os meios eram poucos apesar da imaginação pedir que o espectador se deixe levar pelos encantos de uma super-produção... que nunca o foi. Mas, se é aqui que reside o maior trunfo de Dave Made a Maze, pois o espectador deixa-se vaguear pela sugestão, pelo imaginário e pelas componentes que o vão abrilhantando - afinal, não sofremos neste exacto momento do mesmo problema que "Dave" onde tudo é entregue ao espectador por um conjunto de efeitos especiais mais ou menos elaborados que tudo nos revelam sem que a imaginação funcione na sua totalidade?! - criando o seu próprio universo à medida que as imagens permitem ir observando um pouco mais de um labirinto que, na prática, mais não é do que o conjunto de alguns corredores em cartão dentro... de uma sala de um apartamento...
Os monstros, as fugas, as personagens que caem perante as mais diversas - e amadoras - armadilhas (talvez fruto da capacidade de imaginar e antever os perigos por mais elementares que estes sejam) bem como um conjunto de elementos que parecem realmente saídas do imaginário de uma criança fazem com que Dave Made a Maze oscile entre o amador mas competente, e o profissional mas tendencialmente menos perfeccionista. Afinal, são os momentos que o espectador identifica como capazes de ser o fruto da imaginação de uma criança aqueles que melhor estão executados como, por exemplo, a capacidade de algo tão gigantesco caber dentro de um minúsculo apartamento ou mesmo a mais ou menos elaborada fuga dos últimos sobreviventes por um cano quando, ao dele saírem, mais não são do que meras marionetas de cartão que fogem de um perigoso minotauro que os persegue sem perdão, em contraste com alguns efeitos especiais mais "profissionais" que deixam o mesmo espectador indeciso sobre a sua necessidade ou menos credulidade.
As personagens são privadas de grande vivacidade ou conteúdo dramático remetendo-se quase exclusivamente para o campo da despreocupação... afinal, todos deambulam por aquele labirinto como sendo "muito natural" ao mesmo tempo que não acreditam que, na realidade, ali se encontram. No entanto, acaba por ser esta despreocupação o mesmo elemento que torna tudo francamente ligeiro... pouco credível... mas ligeiro. Não estamos a ver Dave Made a Maze para acreditar na sua premissa nem tão pouco sermos convencidos pelas suas personagens. Pelo contrário, em Dave Made a Maze todos funcionam com o único propósito de fazer crer ao espectador que é o poder de uma imaginação "desactivada" que faz girar o mundo das ideias e das hipóteses e não todo uma elaboração coordenada que trabalha para essa ilusão. A ilusão, a existir, é fornecida pela imaginação de cada um - neste caso de "Dave" - que faz acontecer aquilo que é mentalmente visualizado, e não necessariamente pela exteriorização dessa mesma imagem criada por um qualquer financiamento mais chorudo. Dave Made a Maze funciona assim com esse pressuposto... a imaginação trabalha e cria todo um mundo diferente sem que seja necessário o recurso a algo previamente programado... afinal, não é esse também o poder do cinema? Criar todo um diferente universo fornecido pelo pressuposto de que "é possível"?
Imaginativo quanto baste, o único elemento que o espectador sente ser mesmo necessário em Dave Made a Maze é a melhor coordenação e elaboração de personagens mais credíveis que não sejam, em certa medida, pesos mortos numa história que tinha tudo para ser aquele grande filme que se espera graças ao seu argumento. Com um genial segmento onde personagens reais se transformam em marionetas de cartão, um minotauro que poderia ter sido muito melhor aproveitado - afinal, ele acaba por ser o elemento do "mal" anunciado que por ali vagueia - e um argumento promissor enquanto elemento principal da noção de que a nossa mente e imaginação podem ser (ou não) os nossos maiores inimigos, Dave Made a Maze entretém, até distrai mas acaba por não convencer na sua totalidade deixando apenas a direcção artística como o seu mais forte e principal elemento... less is more... e é um facto.
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"Dave: Do you know what it means to be broke?
It means you are broken."
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"Dave: Do you know what it means to be broke?
It means you are broken."
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5 / 10
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