Mãe Querida de João Silva Santos é uma curta-metragem portuguesa de ficção e uma das nomeadas ao Prémio MOTELx de Melhor Curta-Metragens Portuguesa de Terror no âmbito da décima-primeira edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa que hoje irá terminar no Cinema São Jorge.
Negligenciada pela mãe e com a morte do pai presente no seu pensamento, Matilda (Diana Lopes Moreira), é uma jovem atormentada que resolve pedir a ajuda de uma Bruxa (São José Correia) para se livrar do seu maior problema... a mãe (Susana Sá).
João Silva Santos que além de realizar também assina o argumento desta curta-metragem, parece ter como sua clara fonte de inspiração a obra de Frank Perry, Mommie Dearest (1981). Para lá do óbvio distanciamento que o espectador pode encontrar em ambas - afinal, a "Joan Crawford" de Faye Dunaway tinha como fim último o estrelato a qualquer custo e a sua filha "Christina" não recorreu a nenhuma bruxa que "tratasse do caso" -, as semelhanças entre as duas obras é por demais evidente. Mas, se a sobrevivência de "Christina" se deveu a um afastamento escolhido e natural por parte da mesma, no nosso Mãe Querida esta separação entre a jovem e a sua mãe deve-se exclusivamente a um pacto - ou escolha - com o lado mais obscuro da vida (se é que ele existe).
A jovem "Mathilda" sofre com o comportamento tempestivo de uma mãe bastante preocupada com a sua diversão com um qualquer homem que leva lá para casa, enquanto a jovem se limita aos maus tratos, negligência e a um espectáculo macabro de auto-ridicularização que a mãe leva a "palco" sempre que lhe apetece. Os remorsos, quando existem, chegam sempre acompanhados da sobriedade mas, tal como ela, amarga demais para que seja possível encontrar um terreno firme e comum onde as duas se possam entender. A mãe vive iludida com a ideia de controle que tem sobre a filha e esta com a eventualidade de um rápido desaparecimento de progenitora para terras de onde nunca mais regresse. No final - questiona-se o espectador - irá alguma delas sobreviver a esta relação que não sendo de um total confronto é sentida como tensa e desagradável?!
Com uma ambiência que oscila entre o drama familiar e o psicodrama homicida, Mãe Querida consegue retirar duas interessantes interpretações de São José Correia como a enigmática bruxa e de Susana Sá como a mãe "pouco querida" e que ambas vivem numa posição antagónica que merecia ser mais explorada... Se por um lado uma tem um pacto com o outro lado mas demonstra preocupação com a jovem "Mathilda", a outra é o membro mais forte do grupo primário de qualquer criança que - aqui - vive mais preocupada com uma constante onda de diversão e irresponsabilidade. E tudo isto sem esquecer o "Vulto" que surge no pensamento de "Mathilda" como que o seu teste - ou comprovação - de que a sua mente já passou para um lado de onde não há regresso possível.
Longe de ser um trabalho assumidamente de terror, afinal... elementos por ali existem que o colocariam mais facilmente num drama familiar, Mãe Querida consegue a proeza de recuperar um já longo êxito da música popular portuguesa e contextualizá-lo numa história de um possível terror "urbano" onde por detrás das paredes de um qualquer lar pode esconder-se um sofrimento que cresce e que se desenvolve sem que ninguém note a sua presença.
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6 / 10
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