20,13 de Joaquim Leitão tem um elenco bastante agradável naquela que é mais uma história do realizador português centrado no período da Guerra Colonial. Assim temos, entre outros, Marco d'Almeida (nomeado ao Globo de Ouro de Melhor Actor), Adriano Carvalho, Maya Booth, Carla Chambel, Ivo Canelas, Júlio César, Angélico Vieira, Pedro Varela e Cândido Ferreira.
Esta história decorre maioritariamente em Moçambique na noite de Natal de 1969 quando um pelotão português captura e detém um rebelde ao mesmo tempo que se cruzam histórias de amor quer proibidas quer não correspondidas e um ataque às tropas portuguesas por parte dos rebeldes.
Mas isto não pára por aqui. Joaquim Leitão que consegue, a meu ver, juntar interessantes e cativantes histórias no grande ecrã, com bons elencos e ao mesmo tempo tornar o seu cinema "comercial", prepara-nos também algumas surpresas que conseguem durante uma boa parte do filme estar escondidas ao contrário do que acontece em muitos filmes em que as percebemos muito rapidamente. Tudo isto graças não só à magnífica realizado de Joaquim Leitão que consegue uma vez mais entregar um filme a quem ninguém consegue ficar indiferente quer pela sua acção no tempo, quer pelo seu elenco repleto de caras que todos nós apreciamos ver ou, claro está, pelo brilhante argumento da autoria de Tino Navarro, Luís Lopes e do próprio Joaquim Leitão.
Após a detenção de um rebelde, um grupo de soldados portugueses regressam à sua base onde o aprisionam. À medida que conhecemos as diversas personagens percebemos rapidamente que existem algumas tensões não só entre elas como para com o próprio sentido da sua missão naquela guerra. O Alferes Gaio (Marco d'Almeida) é um dos que questiona o seu papel ali e percebemos que entre ele e o Capitão (Adriano Carvalho) existe um choque de mentalidades que será impossível de contornar.
Durante as festividades de Natal onde posso destacar dois momentos bastante bem conseguidos, ou seja, a canção Menina dos Olhos Tristes pelo seu lado emocional e claro o momento em que Esperança (Carla Chambel) e Vicente (Angélico Vieira) cantam esse marco de outros tempos Ele e Ela que percebemos assumir proporções maiores do que um simples momento de alegria e festejo. A partir daqui não só a sua noite como as suas vidas iriam modificar-se radicalmente.
Desta história não vou revelar mais. Em poucas palavras acho que está o suficiente dito para que quem leia este texto e ainda não tenha visto o filme sinta a curiosidade suficiente para o descobrir tal como eu fiz.
Resta-me então falar dos actores que compõem este excelente filme. Nas interpretações principais temos então Marco d'Almeida que dá vida ao Alferes Gaio, um militar dividido entre o seu sentido patriótico de dever e a busca pela verdade e pela justiça. Este papel que lhe valeu a única nomeação, até à data, aos Globos de Ouro, ilustra uma consciencialização que à altura parecia perdida e bem afastada das mentes daqueles que traçavam os destinos do país. Gostei francamente deste seu trabalho ao qual soube ainda valorizar mais ao dar-lhe não só essa tal consciência como também um lado mais duro e determinado que compõem assim a personagem perfeita para este filme que se quer ora dramático ora de acção.
Pelo outro lado temos o Capitão, magistralmente interpretado por Adriano Carvalho que aqui mostra o oficial que apenas cumpre sem questionar as ordens que lhe são dadas mas que ao mesmo tempo esconde um terrível, para as mentalidades de então, segredo que nunca ninguém poderia saber. O seu olhar apagado e distante mas repleto de uma emoção escondida são, de facto, geniais. Merececia também ele ter sido reconhecido por esta sua interpretação.
Há igualmente que destacar as duas únicas prestações femininas deste filme. Por um lado temos Maya Booth, Leonor a mulher do Capitão, a única que sabe o que está verdadeiramente por detrás daquele rosto cheio de segredos. A sua interpretação contida e desprovida de grandes manifestações de emoção, revela-nos que para além de um amor está uma grande amizade e dedicação àquele homem para quem ela não tem o significado que espera.
Do outro lado temos uma Carla Chambel (Esperança) que aqui interpreta a mulher do médico (Ivo Canelas), uma mulher que vive à margem de tudo e de todos, mesmo do local e da situação em que se encontra, por viver um amor não correspondido e um casamento que, por isso, vive em tumulto.
Este filme tem ainda alguns efeitos especiais visuais e sonoros que, não sendo os de Hollywood, estão para uma produção portuguesa bastante bons e francamente credíveis, o que me deixa bastante agradado. É bom perceber que se podem juntar elementos dramáticos e um filme que se quer mais sério com efeitos especiais que apenas o vão engrandecer nos momentos de maior acção.
Não me recordo se na altura em que esteve em cinema se obteve o público que seria de esperar. No entanto posso afirmar seguramente que este filme não fica atrás de nenhuma outra produção internacional quer pelo seu conteúdo quer pelo conjunto de actores que dele fazem parte e que, como tal, é só (mais) uma prova de que o cinema nacional tem pernas para andar e que como qualquer outro consegue criar e contar histórias que conseguem despertar o interesse a qualquer um de nós. Joaquim Leitão... venham mais!
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8 / 10
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