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Amargo Amanhecer de Joey Lauren Adams despertou o meu interesse por dois motivos concretos. O primeiro prende-se obviamente com a presença de Ashley Judd na interpretação principal. O segundo com o facto de Roger Ebert, o maior crítico de cinema da actualidade, dizer que este é o seu melhor desempenho de sempre.
Lucy (Judd) é uma mulher nos seus trinta e poucos anos que não acredita no amor. Todos os dias que sai acaba por deitar-se com um homem diferente e de manhã fugir sem sequer trocarem uma palavra. Mantém relações de família com os avós e uma muito ocasional relação com o seu pai.
Lucy é essencialmente uma mulher só. Que está só. Que vive só e afastada de qualquer tipo de relação que lhe pudesse dar uma estabilidade emocional.
É certo que a maioria dos filmes a que assisti com a participação desta actriz são, essencialmente, de acção e onde os seus dotes dramáticos poderiam à partida não ser os melhores. Este, tido como um drama, seria aquele onde eu esperava encontrá-la no seu melhor e onde o seu potencial dramático atingisse um nível bem superior àquilo que tenho visto até à data.
Não sendo um filme menor, pois acaba por nos dar uma interessante perspectiva sobre uma mulher que não acreditando no amor o procura desesperadamente no seu silêncio interior, também não é aquele filme pelo qual esperamos ansiosamente ver uma actriz de quem gostamos dar a sua melhor interpretação de sempre.
Ashley Judd tem aqui uma interpretação amarga. Amarga no sentido de que consegue interpretar bem aquele sentimento de uma pessoa que não querendo nada de ninguém acaba por esperar que alguém lhe dê tudo. Alguém que a faça sentir uma pessoa desejada, querida e especialmente amada. Alguém que a faça sentir presente no local onde está. No fundo pretende obter o amor que junto dos seus não conseguiu obter.
Todas as demais personagens são satélites de Lucy. São pessoas que giram à sua volta apenas para confirmar que no meio de tantos ela acaba por se encontrar sózinha. São todas estas personagens que nos mostram que ela apenas se limita a estar lá desprovida de qualquer personalidade própria apenas com o intuito de ajudar os outros a cumprir as suas tarefas sejam elas quais forem.
A falta de amor próprio que Lucy sente impede-a não só de ser amada e respeitada pelos seus como principalmente por aqueles que dela se aproximam com a intenção de a conhecer como ela é e pelo que ela é. A sua solidão sente-se a cada momento que ela aparece no ecrã. Sózinha em família, com um conjunto reduzido de amigos que ela própria por vezes nem os reconhece como tal e sem ninguém que lhe dê o amor que ela própria acha e sente não merecer.
É um facto que achei esta história interessante e com potencial suficiente para este se poder transformar num bom filme. Um filme feito para uma actriz com um potencial imenso e ainda não devidamente aproveitado brilhar por ela própria. Um complemento perfeito entre ambos... No entanto há algo que falha no filme. Há algo que não consegue despoletar aquela empatia entre ambos e, por sua vez, para connosco enquanto espectadores. Claramente percebemos que é uma interpretaçã forte e não digo a melhor mas uma das mais elaboradas desta actriz mas, no entanto, comparativamente com outras suas interpretações em filmes como Beijos que Matam ou A Voz do Coração, este fica a umas quantas milhas de distância.
Tim Orr, o director de fotografia, consegue no entanto ser um dos pontos fortes do filme ao transformar toda a luminosidade e ambiente ao longo deste filme tão opaco e "morto" como as próprias expectativas que a personagem de Ashley Judd tem para si própria conseguindo já bem no final transformar essa mesma luz em algo mais claro e distinto numa clara e óbvia representação que a vida daquela mulher está, finalmente, prestes a mudar.
Sei com segurança que este filme não é um daqueles em que pensamos ter perdido parte do nosso tempo. No entanto, sei igualmente que depois de o vermos esperamos que ele pudesse ter sido algo bem maior digno do empenho que esta grande actriz que é Ashley Judd realmente merecia.
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.6 / 10
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