Como Tu de Afonso Oliveira é uma curta-metragem de ficção que nos transporta para um tão actual cenário de crise que afecta toda uma comunidade obrigando aqueles que nela habitam a um conjunto de actividades nem sempre lícitas tendo como objectivo final a sua própria sobrevivência.
O argumento, também da autoria do realizador, transporta-nos assim para a realidade de uma casa portuguesa que, igual a tantas outras, nos faz encarar a difícil realidade de uma mãe e filha onde a escassez de alimentos e o desespero vivido por ambas é ocultado pelas actividades escondidas que a mãe (Tânia Leonardo) efectua para que nada falte à sua filha... mesmo que isso choque de frente com a legalidade.
É no entanto no seu exercício que a sua vida é colocada em risco não só pela constante subserviência com que é obrigada a conviver face aos seus novos "empregadores" como também pelo risco de segurança que corre face às pequenas grandes falhas em que as suas actividades a colocam.
Face a esta realidade tão perturbadora a questão que nos é apresentada pelo realizador prende-se com a ideia de quando é que percebemos que as más condições em que podemos viver ultrapassam qualquer tipo de limite e de aceitação levando-nos assim a querer mais e melhor para o nosso próprio bem-estar.
Como Tu é um claro exemplo desta nova vaga de cinema que sob diferentes perspectivas e abordagens nos obriga a pensar sobre a difícil realidade que vive na porta ao lado, e por vezes por detrás da nossa própria porta, e equacionar que vivemos numa sociedade que aos poucos consome a última réstia de dignidade que existe na nossa consciência, eliminando a moral, os boas práticas e costumes pelos quais tentamos (sem sucesso) viver e à qual a interpretação de Tânia Leonardo não só é eficaz como consegue entregar um rosto duro e sofrido de uma mulher que teria muito mais para contar do que aquilo que nos é permitido ver.
Ainda que com uma música que acompanha o dramatismo da história, acho que a mesma beneficiaria de um ambiente mais cru que não nos obrigasse a abstrair tanto dos factos. Algo que fizesse do silêncio uma forma de pensamento na realidade daquela (de tantas) famílias e assim não tornasse mais suave os momentos mais secos, diria até mais cruéis, de toda esta curta.
Com uma realização competente e uma fluência narrativa que nos faz esperar o pior, Como Tu comprova que actualmente existe toda uma corrente, e toda uma vontade, de contar as histórias de uma crise que parece afectar de diversas formas nas mais variadas circunstâncias uma população que aos poucos definha sem lhe conseguir resistir, sentimento que se sente um pouco mais brando pela presença de uma sentida música que nos faz (in)felizmente abstrair de uma cruel realidade.
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7 / 10
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