Adeus à Linguagem de Jean-Luc Godard é uma longa-metragem francesa e a mais recente obra do realizador que foi o ano passado premiada no Festival Internacional de Cinema de Cannes onde recebeu o Grande Prémio do Júri em ex-aequo com Mommy, de Xavier Dolan.
Godard dirige Adieu au Langage em dois segmentos que se querem mais ou menos distintos: La Nature e La Métaphore. Nestes dois segmentos assistimos a uma sobreposição constante de imagens. sons e momentos que nos remetem para uma eventual exacerbação da memória e dos fragmentos que a compõem mais ou menos dispersos.
Nestes dois segmentos acompanhamos um homem, uma mulher e ocasionalmente um cão. Os espaços por onde caminham e alguns sussurros de conversas tidas que, tal como as memórias, não são agora mais do que fragementos incompletos.
Os diálogos são, de uma forma geral, dispersos, difusos e pouco coerentes - tal como a memória - e, como tal, incompletos e sem uma estrutura racional ficando, no entanto, os sons fortes e as imagens marcantes da História passada e que denotam um aumento exponencial dos outros sentidos para além da linguagem - talvez daí o seu "adeus".
Assim somos levados a questionar o que será - se é que alguma - a verdadeira forma de linguagem; a verbal, a visual, a própria memória que regista um conjunto de fragmentos de todos esses ditos veículos de comunicação? No final, o que regista cada um de nós e que forma utilizamos para o transmitir?
Se estas premissas e ideias são interessantes e, de certa forma, um culto à materialização da memória - visual, auditiva e verbal - enquanto um seguro e sentido veículo comunicativo, não é menos verdade que a forma como este é transmitido muito próximo está de um conjunto de filmagens mais ou menos amadoras que, arrisco dizer, qual de nós não conseguiria fazer? Que me perdoe Jean-Luc Godard mas isto apenas funcionaria como um filme com um sentido lógico se a essas mesmas imagens difusas e dispersas fosse acrescido um sentido lógico ou um registo argumentativo que lhes desse vida. Vida para além das banalidades e exibicionismos que... nada adiantam.
À excepção dos segmentos em que acompanhamos um cão perdido quer no campo quer na cidade, sózinho ou acompanhado pelos dois protagonistas que de história pessoal pouco têm, Adieu au Langage é assumidamente uma experiência penitência da qual queremos rapidamente fugir. No entanto são esses mesmos momentos com o canino - justo vencedor da Palma Canina em Cannes - que têm dois - os únicos - pensamentos mais interessantes de todo o filme; o primeiro ao equacionar que não são os animais os cegos mas sim o Homem que pela sua consciência está incapaz de ver o mundo e, finalmente, que o cão é o único animal na Terra capaz de amar mais o outro do que a si próprio. Existirá uma consciência mais altruísta que esta?
No final um bebé chora e um cão ladra... Comunicação? Muito provavelmente. Compreensível para o cérebro dos demais? Certamente não será... Também não o é este filme que para além de um registo oco de imagens... pouco nos dá sobre o que poderá ser a sua mensagem ou o seu contributo para o cinema.
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