Autómata de Gabe Ibáñez é uma longa-metragem espanhola protagonizada por Antonio Banderas e com Melanie Griffith numa participação especial.
No já não tão distante ano de 2044 a Terra está devastada pela emergência sistemática de explosões solares que eliminaram mais de 90% da população do planeta. Num mundo onde tudo e todos são controlados, o que resta da Humanidade é assistida por um conjunto de robots que a protegem e construíram as nuvens artificais que resguardam a Terra das radiações solares. Com apenas dois protocolos que regem a sua existência - o de proteger a vida humana e um segundo que prevê que não se podem auto-reparar - estes robots parecem ser a última salvação de qualquer forma de vida.
Jacq Vaucan (Banderas) é o agente de uma seguradora que investiga estranhos acontecimentos com alguns robots que aparentam ser reparados fora das vias legais e quando entra num caminho de investigação dos mesmos depara-se com uma invulgar realidade que jamais poderia equacionar.
Gabe Ibáñez em parceria com Igor Legarreta e Javier Sánchez Donate escreveram o argumento de Autómata de forma desafiante pela trama que apresenta, ou seja, o que seria da Humanidade não necessariamente numa situação pós-apocalipse mas sim quando entrega os seus destinos às mãos de uma entidade que - à partida - está desprovida de pensamento, liberdade e principalmente de uma potencial opção de escolha.
Para lá de uma qualquer catástrofe que dizimou a população terrestre, Autómata leva-nos a questionar no quão desolador pode ficar o ambiente geográfico quando perante os nossos olhos nada mais temos do que um deserto, um imenso e desconsolador deserto radioactivo que eliminou qualquer sinal de vida... nem humana, nem vegetal ou animal, nem tão pouco mineral pois toda a água da Terra desapareceu dando apenas lugar a um imenso vazio.
E se fora das poucas cidades que restam o cenário é por demais desolador, não podemos estar mais enganados se pensamos que dentro das mesmas a vida - ou o que dela resta - está melhor. Um ambiente degradado e ruas cheias de lixo onde os poucos e desamparados humanos necessitam de uma protecção constante da chuva radioactiva para "viver" numa perfeita reclusão do exterior. Nada, para lá das paredes que os protegem, lhes confere algum tipo de segurança, e mesmo fora dos limites da auto-denominada cidade protegida vive uma camada populacional que, embora sobrevivente, se adaptou a um ritmo e estilo de vida perigoso e à margem da lei capazes de tudo para chegar ao dia seguinte.
Mas a grande questão coloca-se então naqueles que auxiliam os que vivem dentro dessa lei imaginária - que mais não é do que uma reclusão a um céu aberto (a ironia...) - ou seja, os robots. Criados - pensa-se - pelo Homem, estes robots trabalham arduamente para a manutenção dos escassos vinte milhões de habitantes que ainda existem no planeta. Desde os trabalhos mais rudimentares aos mais complexos, tudo serve para proteger uma vida que outrora fora dominante e que agora mais não é do que uma miragem no tempo. Sendo estes capazes de defender o Homem - per si - quem os programou para tal? Serão eles uma nova forma de inteligência na Terra e que ninguém conseguiu prever a sua própria evolução tal como o Homem milhares de anos antes? Assim aquilo que é transmitido ao espectador é a capacidade deste se questionar sobre o até onde vão os limites da evolução - não só a sua - e da mudança que pode alterar a noção de "vida" enquanto a conhecemos no presente. Ao mesmo tempo, e inesperadamente através de pequenos e subtis detalhes, é quando a morte mais parece uma evidência que a vida demonstra que regenera e que há uma esperança... nem que exista ao fundo de um imenso túnel quase imperceptível... se calhar até mesmo para o próprio espectador.
Dotado de uma direcção de fotografia de Alejandro Martínez que capta a essência do que se espera de um ambiente pós-apocalíptico apurada com a direcção artística de Patrick Salvador, Autómata apenas peca pelo "e depois..." que o espectador não chega a conhecer nem sobre o futuro de "Jacq Vaucan" e da sua descendência, nem tão pouco sobre a eventual nova forma de evolução que encontramos e que nos deixa curiosidade sobre o seu potencial narrativo especialmente quando este não é o estilo de filme do qual se adivinhe uma sequela que nos permita conhecer essa referida evolução.
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"Robot: Surving is not relevant... living is."
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"Robot: Surving is not relevant... living is."
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7 / 10
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