sábado, 3 de janeiro de 2015

O Meu Avô (2012)

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O Meu Avô de Tony Costa é uma curta-metragem portuguesa de ficção e que marca a última interpretação do falecido António Rama no cinema.
Francisco (Martim Barbeiro) é levado pelos pais (Adriano Carvalho e Inês de Medeiros) para casa dos avós (António Rama e Carmen Santos) para ali passar um tranquilo Verão na sua companhia.
Aquilo que era uma inicialmente aborrecida mudança para Francisco acaba por, a seu tempo, se mostrar aquele que poderia ser o melhor Verão da sua vida.
Apesar desta argumento ser um olhar às relações familiares (ou falta delas), não deixa também de fazer um retrato de um isolamento em idade mais avançada e de certa forma também às dificuldades financeiras que as famílias hoje em dia atravessam - não esquecer que os pais de "Francisco" lutam para a manutenção do novo emprego do pai assim como os seus avós mostram ser pessoas com parcos rendimentos -, não é menos verdade que António Rama tem uma interpretação protagonista repartida com Martim Barbeiro, onde a sua presença - ou aura - é sentida durante toda esta curta-metragem que espelha a crescente relação entre um avô e um neto.
De uma apatia natural de uma criança habituada a estabelecer "relações" virtuais típicas da época que vivemos sem qualquer tipo de contacto e convivência física com os demais, assistimos aqui a uma relação que se forma para além dos normais elos familiares mas também de uma presença magnética que António Rama possui conseguindo atrair para o seu espaço não só o jovem actor como também o espectador que assiste com gosto a uma interpretação sentida e emotiva.
Ao som da interessante música original de Bruno Lírio que contribui de forma decisiva para um certo sentimento de por um lado melancolia e por outro união entre um avô e um neto que eram de certa forma estranhos, e de uma captação das cores de um Alentejo próximo - acção que se centra em Palmela - graças à direcção de fotografia do próprio realizador, O Meu Avô faz-nos recordar a própria relação que cada um de nós tinha com os seus e todas aquelas pequenas grandes cumplicidades que eram estabelecidas quer pelas acções quer pelos silêncios que tudo testemunhavam.
A nostalgia surge também ela com a sua própria - e já referida - homenagem para com António Rama, um homem do teatro, da televisão e de cinema que sempre se assumiu como uma forte presença, com as suas interpretações dinâmicas e imponentes. Em O Meu Avô, por sua vez, sentimos a sua fragilidade e arriscaria mesmo dizer a sua vulnerabilidade que fazem do seu "avô" um homem real, presente e cúmplice (basta não esquecermos o passeio de moto até à vila) e que de certa forma todos nós conhecemos por experiência própria.
O Meu Avô torna-se assim numa viagem ao passado - ao de todos nós. Àquele passado em que muitos tiveram a possibilidade de conhecer os pais dos nossos pais e estabelecer com eles a primeira relação de amizade e de entrega absoluta que perdura nas memórias mesmo quando os seus intervenientes já não se encontram presentes.
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7 / 10
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