No Place Like Home de David Velduque é uma curta-metragem espanhola de ficção e a mais recente obra do realizador de Por Un Beso (2016) que aqui conta a história de Niko (Marius Praniauskas), um jovem que regressa à sua terra natal num país da Europa de Leste para tratar da sua mãe apenas para descobrir que aquilo que o irá esperar está longe de estar relacionado com os motivos que o levaram até ali.
Velduque e Marco Laborda escrevem o argumento desta história com que o relato não tão ficcionado de um jovem que tudo abandonou para finalmente conseguir ser feliz e honesto para com os seus sentimentos. Num país não mencionado - e que na prática não joga como uma necessidade pois conhecemos inúmeros que poderiam inserir-se fielmente nesta temática -, No Place Like Home joga com a premissa de que aquilo que o espectador observa está directamente relacionado com o que escuta na medida em que se trata de um passado recente confessado a uma mãe (Gillian Apter) cujos propósitos estão longe de relacionados com aqueles com que atraiu o seu filho de volta a casa. Assim, e à medida que observamos um "Niko" que vive a vida ao seu máximo não se privando de estabelecer algumas amizades bem como alguns paixões - mesmo que de uma só noite -, cedo percebemos que a sua fuga do seu país natal se deve exclusivamente a uma sexualidade não aceite pela sua família ou comunidade.
A homossexualidade de "Niko", repudiada pela família que a encara como (possivelmente) uma doença ou pelo menos assim o pode depreender o espectador pelas amargas palavras que o protagonista deixa escapar na carta que escreve à mãe - cujas condições para a sua elaboração apenas iremos compreender mais tarde -, serviu para que sempre se sentisse a viver numa mentira e distante do seu grupo primário no qual deveria depositar toda a confiança, bem-estar e segurança que, na realidade, percebe estarem distantes caso confessasse - como uma penitência - o seu verdadeiro "eu". "Niko" é assim não só um prisioneiro da vida que a família pensa e quer que ele viva como, em primeiro lugar, da sua própria manifestação pessoal de sentimentos e de uma sexualidade que, na realidade, não poderá alguma vez expressar encontrando-se naquele local.
É no regresso e numa recepção afectuosa que esperava encontrar a tal redenção que continua a faltar. Se os sorrisos e alguns afectos foram manifestados, cedo compreende que, afinal, o problema de saúde da mãe mais não era do que uma forma de o atrair novamente àquele espaço para um potencial "tratamento" para uma "doença" que não tem. A justiça - ou uma sua vã noção - perpetrada pela sua comunidade com o consentimento de uma família que não o encara como um dos seus, transformam-no num pária e num criminoso culpado sem julgamento de um crime que não o é, apenas conseguindo recordar todos os seus bons e felizes momentos fora de um espaço que o odeia onde conseguiu, finalmente, encontrar não só a sua alma gémea como amigos que o aceitam tal como ele é.
Como alerta, e bem, o final desta curta-metragem, esta história aqui ficcionada poderá ser uma realidade bem perto de nós - geograficamente falando pelo menos -, onde países que condenam a livre expressão dos sentimentos, da sexualidade até mesmo dos afectos, detêm aqueles que ousam - segundo as suas leis - desafiar os costumes e as tradições de que um "homem ama uma mulher", sendo todos os demais comportamentos aberrações e desvios que têm de ser denunciados, detidos e punidos para uma "purificação" social que na realidade... não existe.
Assustador não só pela forma como todo um mundo de um indivíduo pode mudar radicalmente num breve instante, mas sobretudo pela forma como a ignorância e o preconceito podem cabalmente terminar com a tolerância e o respeito dando lugar a violentas formas de amedrontar, aprisionar e aniquilar a liberdade individual. Velduque, que já se havia destacado com o brilhante e emotivo Por Un Beso (2016), consegue uma vez mais entregar um sentido filme curto com uma poderosa mensagem social e interpretado por um expressivo, intenso e dinâmico Marius Praniauskas que consegue conferir uma sofrida alma a um jovem cujo "crime" foi querer viver.
Pertinente e actual enquanto cinema social, No Place Like Home confirma David Velduque como um realizador capaz de contar de forma simples, histórias complexas e actuais que pela forma ficcionada que assumem, podem levar o espectador a reagir aos problemas sociais que se encontram a cada virar de esquina.
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8 / 10
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