Cachorro de Jesús Rivera Soriano (Espanha) é um daqueles filmes curtos que deixa todo um universo de imaginação sobre os destinos das suas personagens. Diz-se que as leoas obrigam as suas crias a abandonar o grupo aos dois anos. Destas só as mais fortes se tornam adultos. Mas a grande pergunta é... o que acontece quando uma leoa não desiste de defender a sua prole?
"Marta" (Cristina Alcázar) vai buscar o filho "Daniel" (Pedro Tamames) à escola. A relação entre mãe e filho parece tensa e são escondidos alguns ressentimentos que compreendemos advirem de um passado traumático que ambos conhecem mas que nenhum ousa mencionar (para o espectador) mantendo toda a dinâmica das suas acções futuras num suspenso temporal que se acumula e que dá forma a um clímax porvir.
Mãe e filho falam por entrelinhas, de uma sua relação que oscila entre o desdém (pensa o filho) e a não compreensão (de uma mãe) sobre aquilo que o jovem passara. Aos poucos, e sem nunca revelar muito de concreto sobre esse passado, percebemos que procuram "Raúl", ou pelo menos procura-o ela, numa tentativa de obter respostas e justificações sobre um evento que, pela ausência da sua confirmação se assume como algo transformador e que modificou toda uma vida ainda jovem. Para o espectador mantêm-se pequenos elementos que o remetem para o mais trágico... um agressor físico ou sexual que retirou a inocência e a juventude de um jovem que vive uma silenciosa revolta com os seus grupos primários... uma escola onde não quer estar... uma mãe com a qual não quer dialogar... até mesmo um mundo onde parece não querer estar. A relação entre mãe e filho parece deteriorada ao ponto de o jovem achar que a mãe o despreza... que tem por ele uma relação de indiferença e desdém impróprios na relação parental que com ele deve - e tem - de estabelecer mas, no entanto, são as heróicas relações que esta mãe estabelece ao procurar um homem que na realidade não deveria querer encontrar, que o espectador compreende que para lá da relação dupla que se estabelece entre eles, existe uma outra estabelecida com o espectador que inicialmente ignora o que está para lá dos diálogos mas que rapidamente intui que decorre enquanto o tempo passa nesta busca incessante.
Como qualquer redenção - aqui entre mãe e filho - também esta chega com a celebração de um pequeno ritual que noutras circunstâncias não chegaria e poderia até ser impensável. Aqui mãe e filho, para lá da buscar de um qualquer agressor, procuram sim um novo alento para a sua própria relação para que ambos consigam, eventualmente, sobreviver enquanto aquilo que são... a primeira e última relação que nenhuma ameaça poderá destruir. Desta forma, não é tanto o que aconteceu no passado - mais ou menos recente - aquilo com o qual o espectador se deve preocupar. Aquilo que está de facto presente nesta curta-metragem é a relação de sobrevivência de duas pessoas cujo orgulho e dignidade foram quebrados, danificados e molestados. Sobrevivência essa que se chega, talvez não da melhor forma mas através daquela que é possível, para amos, como o garante de que o dia de amanhã irá chegar... Sensação essa - que a passam - graças a duas sólidas e dominantes interpretações que se impõe inicialmente pelo seu desespero e, finalmente, pela magnitude da sua redenção com um futuro que há-de vir e com a confirmação de que ambos estarão lado a lado para testemunhar esse que se espera grandioso.
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8 / 10
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