Calipso de Paulo A. M. Oliveira e Pedro Martins (Portugal) é uma das curtas-metragens candidatas ao Prémio MOTELx de Melhor Curta-Metragem de Terror Portuguesa no decorrer desta que é a décima-segunda edição do MOTELx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa a decorrer no Cinema São Jorge até ao próximo dia 9 de Setembro.
Lisboa num tempo incerto. Um epidemia que transforma as pessoas em zombies caiu sobre a cidade obrigando-as a ficarem isoladas em casa num período de quarentena. Bruno (Pedro Laginha) e Sandra (Adriana Moniz) são duas delas. Um casal abatido com a pressão do momento e sobretudo pelo isolamento em conjunto numa altura em que a tensão se faz sentir também dentro do próprio casal.
O argumento de Pedro Martins não poderia ser mais fiel ao género proposto. Temos um vírus... duas personagens a viverem em isolamento do mundo exterior e claro, a consequente degradação da sua relação. Mas, é esta degradação marital que se expõe aqui com maior dinâmica. Imaginemos por instantes um casal que, no fundo, já não se suporta. Imaginemos como consequência que tudo estava preparado para que cada um seguisse a sua vida. Com este imaginário em mente, imaginemos então que um deles não estava assim tão certo ou seguro do que pretendia da sua vida e, como tal, do desfecho desta relação. Agora, coloquemos toda esta dinâmica marital num momento em que o mundo colapsa, em que a ordem desaparece e onde ambos não possam abandonar o mesmo espaço e seguir com aquilo que a vida lhes reservava. Nesta perspectiva... são capazes de imaginar o terror?!
Se o mundo como o imaginamos se desfaz quando uma relação que em tempos julgámos sólida já não o é... o que resta quando o próprio mundo nos obriga a viver diariamente sem qualquer fuga possível, junto do ambiente que tínhamos como degradado? Os pequenos gestos transformam-se em expoentes de um ódio não manifestado e todos os pequenos actos, acções e até mesmo reacções do "outro" são, para esta nova concepção do "eu", uma ameaça à própria segurança. Assim, aquilo que "Bruno" e "Sandra" revelam para o espectador é um conjunto de dinâmicas que oscilam entre a suspeita, o medo, o desdém e a breve memória de que em tempos foi, tudo aquilo, o que sempre haviam desejado.
O mundo, aquele que conhecemos como social e agora aquele que nos foi pessoal, já não é o que em tempos se apresentara. Agora, tudo é uma questão de sobrevivência... mesmo dentro de quatro paredes. É com esta dinâmica que Calipso se apresenta como uma curta-metragem inteligentemente elaborada expondo a dinâmica do (ex-)casal quando num cativeiro forçado e onde o vírus (a real ameaça...) se encontra lá fora prestes a manifestar-se... ou já se terá manifestado? Assim, aquilo que esta curta-metragem apresenta sobre a dinâmica do casal é o que se impõe numa história que leva o espectador a ignorar esse "lá fora", expondo o casal como o último reduto de uma civilização perdida... desta forma, como poderão eles ser os exemplares da nova sociedade quando... ali dentro... a própria pode já não existir?
Com voz-off de Adolfo Luxúria Caníbal e algumas surpresas que podem desmistificar as noções já conhecidas sobre o género, Calipso levanta a fasquia para com as curtas-metragens apresentadas nesta edição do MOTELx e os seus instantes finais conseguem superar, em boa medida, toda a dinâmica que a restante obra consegue apresentar. Surpresas surpresas... só mesmo no final.
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O argumento de Pedro Martins não poderia ser mais fiel ao género proposto. Temos um vírus... duas personagens a viverem em isolamento do mundo exterior e claro, a consequente degradação da sua relação. Mas, é esta degradação marital que se expõe aqui com maior dinâmica. Imaginemos por instantes um casal que, no fundo, já não se suporta. Imaginemos como consequência que tudo estava preparado para que cada um seguisse a sua vida. Com este imaginário em mente, imaginemos então que um deles não estava assim tão certo ou seguro do que pretendia da sua vida e, como tal, do desfecho desta relação. Agora, coloquemos toda esta dinâmica marital num momento em que o mundo colapsa, em que a ordem desaparece e onde ambos não possam abandonar o mesmo espaço e seguir com aquilo que a vida lhes reservava. Nesta perspectiva... são capazes de imaginar o terror?!
Se o mundo como o imaginamos se desfaz quando uma relação que em tempos julgámos sólida já não o é... o que resta quando o próprio mundo nos obriga a viver diariamente sem qualquer fuga possível, junto do ambiente que tínhamos como degradado? Os pequenos gestos transformam-se em expoentes de um ódio não manifestado e todos os pequenos actos, acções e até mesmo reacções do "outro" são, para esta nova concepção do "eu", uma ameaça à própria segurança. Assim, aquilo que "Bruno" e "Sandra" revelam para o espectador é um conjunto de dinâmicas que oscilam entre a suspeita, o medo, o desdém e a breve memória de que em tempos foi, tudo aquilo, o que sempre haviam desejado.
O mundo, aquele que conhecemos como social e agora aquele que nos foi pessoal, já não é o que em tempos se apresentara. Agora, tudo é uma questão de sobrevivência... mesmo dentro de quatro paredes. É com esta dinâmica que Calipso se apresenta como uma curta-metragem inteligentemente elaborada expondo a dinâmica do (ex-)casal quando num cativeiro forçado e onde o vírus (a real ameaça...) se encontra lá fora prestes a manifestar-se... ou já se terá manifestado? Assim, aquilo que esta curta-metragem apresenta sobre a dinâmica do casal é o que se impõe numa história que leva o espectador a ignorar esse "lá fora", expondo o casal como o último reduto de uma civilização perdida... desta forma, como poderão eles ser os exemplares da nova sociedade quando... ali dentro... a própria pode já não existir?
Com voz-off de Adolfo Luxúria Caníbal e algumas surpresas que podem desmistificar as noções já conhecidas sobre o género, Calipso levanta a fasquia para com as curtas-metragens apresentadas nesta edição do MOTELx e os seus instantes finais conseguem superar, em boa medida, toda a dinâmica que a restante obra consegue apresentar. Surpresas surpresas... só mesmo no final.
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