Cartas para um Ladrão de Livros de Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini (Brasil) é um dos documentário em competição na vigésima-segunda edição do Queer Lisboa - Festival Internacional de Cinema Queer que decorre no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema até ao próximo dia 22 de Setembro.
Laéssio Rodrigues de Oliveira é considerado pelas autoridades brasileiras como o maior ladrão de livros raros no país. Do balcão de uma padaria onde começou a trabalhar à sua paixão por objectos evocativos da memória de Carmen Miranda, Laéssio começou a frequentar - enquanto apaixonado - diversos arquivos históricos do país onde a segurança era mínima e deles retirar todos os documentos históricos que satisfaziam a sua paixão. De uma vida simples à alta roda dos "comerciantes" de arte, Laéssio tornou-se uma figura de destaque na casa da sociedade brasileira ao mesmo tempo que crescia o registo do seu nome nos arquivos das próprias autoridades.
Tradicionalmente habituado que está o espectador a ver filmes em que as histórias de "ladrões" se centram em vulgares criminosos que roubam tudo o que está ao seu alcance, privados de qualquer tipo de cultura ou de bem-estar em sociedade, Cartas para um Ladrão de Livros surpreende na medida em que todos são apanhados de surpresa ao observar um conto real sobre alguém que se focou não em meros assaltos de dinheiro mas sim em alguém que utilizou os seus conhecimentos auto-adquiridos e a cultura que possuía para engendrar aqueles que seriam alguns dos maiores assaltos no país a obras de arte... livros.
Laéssio é assim a figura central deste documentário que se centra na sua detenção, no seu percurso enquanto homem livre e nos inúmeros meandros de uma vida intimamente ligada a furtos de obras de arte que o levaram uma e outra vez a novas detenções e ao conhecimento - do espectador - da sua ligação com figuras de primeira linha social que pactuavam com os seus assaltos mas que nunca são identificados. Laéssio é portanto a "personagem" principal da sua própria história... o espectador fica a conhecê-lo não só pelos relatos dos seus crimes mas também pelas suas próprias palavras e comportamentos que o denunciam enquanto um homem simples, modesto e de origens humildes, casado com outro homem que o espectador nunca compreende na realidade se actuou como seu parceiro ou mais não foi do que culpado por associação - esta última sendo a versão apresentada pelo próprio Laéssio -, e verificar, ao mesmo tempo, como todo o sistema de segurança de museus e bibliotecas no país acabou por ser alterado graças às consequências dos seus próprios actos.
Inteligente, culto e com um sentido de humor apurado, Laéssio acaba por ser o rosto de um certo Brasil desprivilegiado que tudo faz para poder vencer na vida mas que, neste caso em concreto, o tentou por via do crime e de elaborados esquemas indetectáveis para todos os demais. Com um sentido de humor apurado e sempre dotado de uma contextualização histórica que revela as suas origens, os seus amigos e mesmo a sua vida, este documentário revela o homem para lá do crime, para lá das suas origens e principalmente ele enquanto um homem interessado no contexto histórico do seu país... ainda que para este âmbito cultural nunca tenha optado pelas melhores vias.
Contextualmente pertinente e socialmente cativante, Cartas para um Ladrão de Livros é sobretudo o rosto de um Brasil empobrecido e onde as oportunidades não se encontram ao alcance directo de todos, onde muitos tentam vencer - independentemente do crime - e estabelecer uma identidade própria - para o indivíduo e para o país - através do seu legado histórico tantas vezes deixado ao abandono ou à indiferença mas capaz de, com os próprios erros, obter alguma noção da importância do passado com vista a almejar um futuro onde essas oportunidades possam ser concretizadas... pessoalmente com um maior enriquecimento do indivíduo e nacional com um reconhecimento do património histórico de um passado ainda pouco estudado ou preservado mas, até então, desprotegido e à mercê dos carrascos que o tentam delapidar para uso próprio... Afinal, o que este documentário tenta lançar para o conhecimento do espectador é o facto de que o criminoso nesta "história"... não é só Laéssio.
Tradicionalmente habituado que está o espectador a ver filmes em que as histórias de "ladrões" se centram em vulgares criminosos que roubam tudo o que está ao seu alcance, privados de qualquer tipo de cultura ou de bem-estar em sociedade, Cartas para um Ladrão de Livros surpreende na medida em que todos são apanhados de surpresa ao observar um conto real sobre alguém que se focou não em meros assaltos de dinheiro mas sim em alguém que utilizou os seus conhecimentos auto-adquiridos e a cultura que possuía para engendrar aqueles que seriam alguns dos maiores assaltos no país a obras de arte... livros.
Laéssio é assim a figura central deste documentário que se centra na sua detenção, no seu percurso enquanto homem livre e nos inúmeros meandros de uma vida intimamente ligada a furtos de obras de arte que o levaram uma e outra vez a novas detenções e ao conhecimento - do espectador - da sua ligação com figuras de primeira linha social que pactuavam com os seus assaltos mas que nunca são identificados. Laéssio é portanto a "personagem" principal da sua própria história... o espectador fica a conhecê-lo não só pelos relatos dos seus crimes mas também pelas suas próprias palavras e comportamentos que o denunciam enquanto um homem simples, modesto e de origens humildes, casado com outro homem que o espectador nunca compreende na realidade se actuou como seu parceiro ou mais não foi do que culpado por associação - esta última sendo a versão apresentada pelo próprio Laéssio -, e verificar, ao mesmo tempo, como todo o sistema de segurança de museus e bibliotecas no país acabou por ser alterado graças às consequências dos seus próprios actos.
Inteligente, culto e com um sentido de humor apurado, Laéssio acaba por ser o rosto de um certo Brasil desprivilegiado que tudo faz para poder vencer na vida mas que, neste caso em concreto, o tentou por via do crime e de elaborados esquemas indetectáveis para todos os demais. Com um sentido de humor apurado e sempre dotado de uma contextualização histórica que revela as suas origens, os seus amigos e mesmo a sua vida, este documentário revela o homem para lá do crime, para lá das suas origens e principalmente ele enquanto um homem interessado no contexto histórico do seu país... ainda que para este âmbito cultural nunca tenha optado pelas melhores vias.
Contextualmente pertinente e socialmente cativante, Cartas para um Ladrão de Livros é sobretudo o rosto de um Brasil empobrecido e onde as oportunidades não se encontram ao alcance directo de todos, onde muitos tentam vencer - independentemente do crime - e estabelecer uma identidade própria - para o indivíduo e para o país - através do seu legado histórico tantas vezes deixado ao abandono ou à indiferença mas capaz de, com os próprios erros, obter alguma noção da importância do passado com vista a almejar um futuro onde essas oportunidades possam ser concretizadas... pessoalmente com um maior enriquecimento do indivíduo e nacional com um reconhecimento do património histórico de um passado ainda pouco estudado ou preservado mas, até então, desprotegido e à mercê dos carrascos que o tentam delapidar para uso próprio... Afinal, o que este documentário tenta lançar para o conhecimento do espectador é o facto de que o criminoso nesta "história"... não é só Laéssio.
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