terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

El Corredor (2014)

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El Corredor de José Luis Montesinos é uma curta-metragem espanhola de ficção e a vencedora do Goya da Academia Espanhola de Cinema na respectiva categoria.
Um homem (Miguel Ángel Jenner) corre. Poderia ser um homem qualquer não fosse ser abordado por outro homem mais novo (Roger Batalla) que o conhece. As ironias da vida cruzam assim um antigo patrão e um antigo empregado que agora ocupam posições diferentes na vida... Ou pelo menos assim aparentam.
Vencedora do já referido Goya e nomeado na mesma categoria ao European Film Award da Academia Europeia de Cinema, El Corredor é um trágico e mordaz retrato de uma crise económica actual que a todos apanha desprevenidos relegando-os para lugares e momentos da vida nos quais jamais julgariam poder encontrar-se. Aqui o argumento que é, também ele, da autoria de José Luis Montesinos, traça uma intrigante ironia quando os papéis dos dois homens se invertem colocando aquele que havia sido dispensado pelas agruras da crise numa posição privilegiada em relação àquele que havia sido, em tempos, o seu empregador. Os dois homens cuja arrogância e prepotência os encontra em diferentes - e inversos - momentos, discutem agora como a crise e os tortuosos caminhos da vida os levaram até àquele momento.
O primeiro - Miguel Ángel Jenner - um antigo e influente homem que teve a seu cargo sabe-se lá outros quantos, é agora um homem apagado pelo tempo e pelo momento. As suas empresas ruíram o aquele que fora em tempos o seu todo poderoso império, é agora uma mancha na sua memória que procura dias melhores sem, no entanto, os conseguir encontrar. Sem uma actividade profissional e com a sua vida pessoal destruída, este homem tenta agora trilhar o mesmo caminho que outros tantos milhares perseguem numa Europa devastada com a mais violenta crise económica de que há memória. No entanto, o outro homem - Roger Batalla - revela-lhe a boa vida que leva propondo ao seu antigo patrão um trabalho enquanto chauffeur da empresa de limousines da qual é agora sócio. Da relutância de um passado imponente a um potencial emprego oferecido por aquele que noutros dias liderou, este homem tenta a sua sorte numa corrida que poderá modificar toda a sua vida agora em ruínas.
José Luis Montesinos cria um argumento brilhante na medida em que o espectador ganha empatia - em pesos e medidas diferentes - pelos dois homens que se encontram nos respectivos antípodas. A vida de um ruíra enquanto a de outro encontrou uma estranha e quase impossível oportunidade, fazendo crer ao espectador que nem tudo pode ser tomado como certo numa vida cheia de incertezas e infortúnios. Mas, se esta empatia parece ganhar uma forma, não deixa de permanecer no seu subconsciente de que todo este encontro e cruzar de vidas parece oportuno demais para ser realidade. Que esconde aquele homem mais novo com toda a sua vida pela frente ao confrontar aquele que o despedira e, de certa forma, o lançara numa incerteza que agora também vive? Se por um lado este argumento parece querer berrar que as oportunidades são criadas por cada um de nós, é também um facto que nos esclarece que a vida pode modificar a qualquer momento invertendo a dinâmica de uma pirâmide social transformando camponeses em empresários e estes em meras almas sem rumo ou propósito.
A corrida, e claro está o corredor, são assim metáforas para um caminho que necessita ser traçado... para uma resposta que se encontra num fundo da pista e para uma vida que não deve julgar ser algo mais do que o outro. Outro esse que pode viver e atravessar um momento complicado mas que um dia poderá ver na sua existência a resposta para os próprios problemas... Ou, por sua vez, ser a irónica resposta para aquilo que um dia se provocou indiferente aos resultados que daí advinham.
Com brilhantes interpretações de Miguel Ángel Jenner e Roger Batalla que captam dois lados opostos de uma mesma barricada que podendo ser comum encontra, nas suas próprias experiências, todos os argumentos para se distanciar e criar barreiras mais altas do que aquelas que poderiam transpôr em conjunto, El Corredor é uma curta-metragem corrosiva, mordaz, irónica e com uma leve pitada de um humor negro e quanto baste maldoso assumindo-se como um - mais um - interessante e crítico exemplar cinematográfico que retrata a crise, as suas vítimas e os seus perpetradores qualificando-os de estranhos semelhantes que atravessam todo um momento de viragem ainda que para alguns a desgraça alheia seja... simplesmente indiferente.
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8 / 10
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