Road to the Well de Jon Cvack é uma longa-metragem norte-americana e a primeira obra do realizador e também argumentista que conta a história de Jack (Micah Parker), que depois de uma vida errante decide visitar Frank (Laurence Fuller), um seu amigo de longa data, ao mesmo tempo que este, com uma vida aparentemente banal e desinteressante, se vê envolvido num estranho e misterioso assassinato. Poderão estes dois acontecimentos estar, de alguma forma, relacionados?
Jon Cvack cria aquilo que é, desde os primeiros instantes, uma história que o espectador reconhece enquanto um thriller. Longe da exploração de grandes efeitos especiais ou de subterfúgios que obriguem o seu público a dispersar a atenção, Road to the Well centra-se nas personagens, nos detalhes e na relação que uns e outros estabelecem para o desenvolvimento das suas duas personagens protagonistas ou, como um influencia o outro a transformar-se num estranho mas esperado - e algo desejado - resultado que sempre ambicionou.
Estas duas personagens co-protagonistas não poderiam estar mais nos seus conhecidos antípodas. Se encontramos um "Jack" de Micah Parker enquanto um tipo despreocupado e desligado da vida de uma forma geral e até mesmo do seu passado em particular o qual se mantém num constante secretismo, já "Frank" faz jus ao seu nome e é um tipo que decide seguir um caminho de franqueza e honestidade que parece ter caído em desuso deste mundo em que agora vivemos. De mochila às costas, "Jack" encontra-se numa eterna viagem sem rumo, sem qualquer tipo de ligações significativas ou que mereçam grande preocupação, o espectador oscila em compreender se isto é uma vontade de busca do seu "eu" ou simplesmente uma simples necessidade de fuga de um passado que nunca é devidamente explicado. No seu oposto encontramos "Frank" que deseja o seu carro, a sua casa, a sua namorada e uma vida com rumo... Rumo e vida essa que cedo compreende não lhe estarem reservados tal como ele espera. Enquanto um necessita uma vida sem raízes... o outro anseia desesperadamente por elas tornando-o portanto um alvo fácil de manobrar e modelar aos gostos daqueles com quem se cruza... mas igualmente incerto sobre as suas acções no dia em que decide libertar-se.
O reencontro entre os dois amigos - que de amigos já pouco parecem ter -, surge rodeado pela surpresa e incerteza desta visita e dos seus propósitos, mantendo-se cordial pela compreensão de que o passado que viveram era cúmplice e próximo, talvez enriquecido pelos anos em que todos os sonhos a ambições ainda existiam, o qual tem de ser repleto de um festejo semi-forçado para relembrar os "bons velhos tempos". No entanto subsiste a pergunta que é rapidamente confirmada... e se todo este enredo tiver os seus próprios propósitos e não fôr algo tão social como pretende aparentar? Numa viagem que os leva a revisitar o seu passado, as suas antigas cumplicidades e até mesmo velhos amores, poderá esta amizade sobreviver a uma crise eminente?
Por detrás do thriller, do suspense e até mesmo da história de redenção que as suas personagens principais parecem querer encontrar, Road to the Well é acima de tudo um filme sobre as oportunidades perdidas e sobre os desencontros do passado que levaram a que num hoje não ideal se deseje algo de mais ambicioso... talvez uma vida ou mesmo uma nova oportunidade que consiga redimir as más escolhas, opções e momentos que se vivem. Talvez a hipótese de uma vida diferente como o resultado directo daquilo que nesse "hoje" se tem. Para lá da escassa amizade, da desilusão ou até mesmo dos erros - passados e presentes -, aquilo que "Jack" procura é a nova oportunidade de se sentir vivo e um deus junto dos seus conhecidos... tornar-se a tal peça indispensável a quem todos recorrem pela excitação de um bom momento... por sua vez, "Frank" procura uma redenção com o seu passado, o vislumbre de uma nova possibilidade que possa saciar os seus velhos desejos e ambições... o tal "sonho" que pelo caminho foi perdendo. Num rumo onde tudo parece uma hipótese, Road to the Well celebra essa potencial nova oportunidade não deixando claro se ela poderá de facto existir e compreende-mo-lo não só com o par protagonista mas também com todos aqueles que vão circulando à sua volta... pelas histórias do passado que resultaram em morte, no velho amigo "Chris" prestes a casar com o amor de juventude de "Frank" ou através de "Dale" que pela falta de coragem espera que alguém psicologicamente distante termine o seu martírio pessoal. Oportunidades essas que poderão nunca chegar...
Ao ritmo de um thriller por vezes sombrio, por vezes a aproximar-se do road movie mas sempre com um apurado sentido dramático de quem se preocupou em dar carácter às personagens que criou, Road to the Well termina - no spoilers here though - exactamente como deveria. Com o tal ponto final sobre um passado vivido (supomos) com algum sonho e encanto, com a compreensão de que o presente é negro, desiludido e até mesmo real demais mas, no entanto, com a esperança de que esta vírgula no percurso de "Frank" possa, a médio prazo, garantir-lhe algumas das oportunidades que pensou já não existirem.
Com uma direcção de fotografia de Tim Davis que recupera muito do clima negro do thriller psicológico e uma pontual e bem executada direcção musical de Conor Jones, Road to the Well é inteligente e mordaz captando a cumplicidade e a química existente entre os dois protagonistas - Micah Parker e Laurence Fuller - captando a dinâmica de um pretenso road movie onde a amizade é testada e até comprovada à sua medida. Road to the Well retira o melhor de dois actores com um forte e sentido potencial dramático; se Parker é um invulgar lado negro da força que, no entanto, não lhe é inato mas sim provocado por um caminho passado e percorrido que o espectador desconhece, já Fuller comprova ser o tal lado (não tão) bom dessa mesma força mas capaz de superar o seu passado e o seu presente na esperança de que "amanhã" possa retirar proveito das provações a que no "agora" foi sujeito.
Num panorama cinematográfico onde o cinema independente - e de muita qualidade - parece esquecido numa qualquer prateleira sem fundo, é agradável perceber que existe todo um conjunto de realizadores - e demais profissionais - que contribuem para trazer à luz filmes corajosos, bem executados e capazes de agarrar o espectador como o caso desta primeira longa-metragem de Jon Cvack.
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