A Solidão dos Números Primos de Saverio Costanzo adaptado do romance homónimo de Paolo Giordano, que aqui também contribuiu para o argumento em colaboração com o realizador, é um dos grandes filmes italianos do último ano e candidato aos Donatello em 2011.
Este filme foi um dos que mais esperei ver na última edição da Festa de Cinema Italiano de Lisboa. O trailer que já havia visto juntamente com a presença na interpretação principal de Alba Rohrwacher faziam-me esperar ter uma excelente sessão de cinema. E confirmou-se.
Aqui acompanhamos a vida de duas personagens. Alice (intepretada magistralmente na adolescência por Arianna Nastro e por Alba Rohrwacher), uma jovem adolescente e mulher que, em criança, sofreu um acidente de ski que a deixou a coxear e condicionada na sua locomoção. Acompanhamos também Mattia (Tommaso Neri, Vittorio Lomartire e Luca Marinelli) que desde criança é acompanhado por um terrível segredo que lhe irá moldar para sempre a vida.
Saverio Costanzo entrega-nos um brilhante retrato não da vida das pessoas mas sim de como estas vidas podem ser radicalmente alteradas por experiências marcantes e traumatizantes.
Começando por Alice que em criança (Martina Albano) sofre um acidente de ski, o qual fora obrigada a fazer por pressão do seu abusivo pai) que lhe iria marcar para sempre a vida. Com uma mãe ausente (motivos que não são relatados no filme) e um pai obsessivo e controlador, Alice vai crescendo sem qualquer tipo de modelo pelo qual se guiar. Em adolescente (Arianna Nastro) no liceu, anoréxica e desesperada pela aprovação dos seus pares, Alice é humilhada por um grupo de colegas que não a deseja por perto. É nesta idade que conhece Mattia e que a ele se liga, tal como o próprio nome do filme, como dois números primos... separados e isolados (do mundo) mas próximos um do outro (através dos seus problemas e segredos).
Em adulta, interpretação levada a bom porto pela magistral (sem qualquer reserva) Alba Rohrwacher, Alice torna-se fotógrafa, paixão que sempre alimentou, casada com um homem que as circunstâncias da sua vida levaram a afastar de si, e doente tanto fisica como psicologicamente. Sofre essencialmente de solidão. De incompreensão. De falta de afecto, de toque e de amor.
A acompanhar esta viagem temos Mattia que, em jovem (Tommaso Neri), era o único amigo e companheiro da sua irmã autista (Giorgia Pizzio) e por quem estava praticamente responsável, ao contrário do seu pai, preocupado mas distante e da sua mãe (Isabella Rossellini) que os culpava de não ter hipótese de concretizar os seus sonhos.
Um dia a relação entre os irmãos seria para sempre afectada devido a uma trágica escolha de uma criança que era responsabilizado pelo bem-estar da sua irmã. Era este mesmo acontecimento que iria fazer de Mattia (tal como de Alice) um ser separado e afastado de tudo e todos os que o rodeavam.
De criança preocupada e presente Mattia torna-se num adolescente (Vittorio Lomartire) fechado e auto-destrutivo e centrado apenas na brilhante carreira escolar que pode ter e que, também ele, encontra em Alice um par. Uma alma igual.
E tal como Alice, Mattia em adulto (Luca Marinelli) está só, isolado de tudo e de todos à excepção da sua brilhante carreira académica e profissional na qual se destaca por excelência. Só. Não tem amizades, não tem afectos, nem toque, nem amor. Nada que o ligue sentimentalmente a ninguém. À excepção de Alice... que um dia lhe pede para voltar...
As duplas que se criam neste filme Lomartire e Nastro bem como Marinelli e Rohrwacher são de tal forma dinâmicas que conseguem ser extremamente credíveis e convincentes nas suas respectivas dores e nos sentimentos, ou ausência deles, que têm para com todos os demais. E não só funcionam bem como são dos elementos mais fortes de todo este magnífico filme.
Este excelente filme nomeado para diversos Donatello a serem atribuídos na próxima semana, não só nos relata os trágicos acontecimentos que podem ocorrer na vida de qualquer um, e ainda mais o são quando ocorrem em crianças, é uma história de dor e sofrimento vividos isolados e em silêncio. Segredos tão negros que fazem as pessoas viverem em silêncio e em completa desconfiança para com o mundo de forma geral.
A respeito das interpretações destaque ainda para a brilhante e irreconhecivel (e muito curta) interpretação verdadeiramente assustadora de Filippo Timi. Intenso e medonho demais o que a torna irrepreensível.
No argumento e na acção do filme há elementos que não são referidos em relação ao livro de Paolo Giordano, e tomando conhecimento deles há situações que se tornam mais claras nomeadamente a relação de Alice com a sua mãe, patrão (na sua idade adulta) e com o seu futuro marido. No entanto, a clareza e os elementos principais que passam pela relação entre estas duas pessoas não são abaladas por isso. A sua relação de proximidade, criada através do isolamento que ambos sentem em relação ao mundo e às pessoas que os rodeiam é, essencialmente o elo que os une.
Excelente filme com interpretações soberbas que acima da solidão, das doenças físicas e psicológicas se centra essencialmente no mais importante de todos os aspectos... a capacidade que temos em criar laços e afectos e como eles são, acima de tudo, profissões ou sucesso, aquilo que nos pode mover e afirmar como seres humanos.
Brilhante... Imperdível... Magnífico. Que na próxima sexta-feira vença uns quantos Donatello especialmente o de Actriz para Rohrwacher. Assumidamente um dos melhores filmes que este ano irá ver estrear.
.Este filme foi um dos que mais esperei ver na última edição da Festa de Cinema Italiano de Lisboa. O trailer que já havia visto juntamente com a presença na interpretação principal de Alba Rohrwacher faziam-me esperar ter uma excelente sessão de cinema. E confirmou-se.
Aqui acompanhamos a vida de duas personagens. Alice (intepretada magistralmente na adolescência por Arianna Nastro e por Alba Rohrwacher), uma jovem adolescente e mulher que, em criança, sofreu um acidente de ski que a deixou a coxear e condicionada na sua locomoção. Acompanhamos também Mattia (Tommaso Neri, Vittorio Lomartire e Luca Marinelli) que desde criança é acompanhado por um terrível segredo que lhe irá moldar para sempre a vida.
Saverio Costanzo entrega-nos um brilhante retrato não da vida das pessoas mas sim de como estas vidas podem ser radicalmente alteradas por experiências marcantes e traumatizantes.
Começando por Alice que em criança (Martina Albano) sofre um acidente de ski, o qual fora obrigada a fazer por pressão do seu abusivo pai) que lhe iria marcar para sempre a vida. Com uma mãe ausente (motivos que não são relatados no filme) e um pai obsessivo e controlador, Alice vai crescendo sem qualquer tipo de modelo pelo qual se guiar. Em adolescente (Arianna Nastro) no liceu, anoréxica e desesperada pela aprovação dos seus pares, Alice é humilhada por um grupo de colegas que não a deseja por perto. É nesta idade que conhece Mattia e que a ele se liga, tal como o próprio nome do filme, como dois números primos... separados e isolados (do mundo) mas próximos um do outro (através dos seus problemas e segredos).
Em adulta, interpretação levada a bom porto pela magistral (sem qualquer reserva) Alba Rohrwacher, Alice torna-se fotógrafa, paixão que sempre alimentou, casada com um homem que as circunstâncias da sua vida levaram a afastar de si, e doente tanto fisica como psicologicamente. Sofre essencialmente de solidão. De incompreensão. De falta de afecto, de toque e de amor.
A acompanhar esta viagem temos Mattia que, em jovem (Tommaso Neri), era o único amigo e companheiro da sua irmã autista (Giorgia Pizzio) e por quem estava praticamente responsável, ao contrário do seu pai, preocupado mas distante e da sua mãe (Isabella Rossellini) que os culpava de não ter hipótese de concretizar os seus sonhos.
Um dia a relação entre os irmãos seria para sempre afectada devido a uma trágica escolha de uma criança que era responsabilizado pelo bem-estar da sua irmã. Era este mesmo acontecimento que iria fazer de Mattia (tal como de Alice) um ser separado e afastado de tudo e todos os que o rodeavam.
De criança preocupada e presente Mattia torna-se num adolescente (Vittorio Lomartire) fechado e auto-destrutivo e centrado apenas na brilhante carreira escolar que pode ter e que, também ele, encontra em Alice um par. Uma alma igual.
E tal como Alice, Mattia em adulto (Luca Marinelli) está só, isolado de tudo e de todos à excepção da sua brilhante carreira académica e profissional na qual se destaca por excelência. Só. Não tem amizades, não tem afectos, nem toque, nem amor. Nada que o ligue sentimentalmente a ninguém. À excepção de Alice... que um dia lhe pede para voltar...
As duplas que se criam neste filme Lomartire e Nastro bem como Marinelli e Rohrwacher são de tal forma dinâmicas que conseguem ser extremamente credíveis e convincentes nas suas respectivas dores e nos sentimentos, ou ausência deles, que têm para com todos os demais. E não só funcionam bem como são dos elementos mais fortes de todo este magnífico filme.
Este excelente filme nomeado para diversos Donatello a serem atribuídos na próxima semana, não só nos relata os trágicos acontecimentos que podem ocorrer na vida de qualquer um, e ainda mais o são quando ocorrem em crianças, é uma história de dor e sofrimento vividos isolados e em silêncio. Segredos tão negros que fazem as pessoas viverem em silêncio e em completa desconfiança para com o mundo de forma geral.
A respeito das interpretações destaque ainda para a brilhante e irreconhecivel (e muito curta) interpretação verdadeiramente assustadora de Filippo Timi. Intenso e medonho demais o que a torna irrepreensível.
No argumento e na acção do filme há elementos que não são referidos em relação ao livro de Paolo Giordano, e tomando conhecimento deles há situações que se tornam mais claras nomeadamente a relação de Alice com a sua mãe, patrão (na sua idade adulta) e com o seu futuro marido. No entanto, a clareza e os elementos principais que passam pela relação entre estas duas pessoas não são abaladas por isso. A sua relação de proximidade, criada através do isolamento que ambos sentem em relação ao mundo e às pessoas que os rodeiam é, essencialmente o elo que os une.
Excelente filme com interpretações soberbas que acima da solidão, das doenças físicas e psicológicas se centra essencialmente no mais importante de todos os aspectos... a capacidade que temos em criar laços e afectos e como eles são, acima de tudo, profissões ou sucesso, aquilo que nos pode mover e afirmar como seres humanos.
Brilhante... Imperdível... Magnífico. Que na próxima sexta-feira vença uns quantos Donatello especialmente o de Actriz para Rohrwacher. Assumidamente um dos melhores filmes que este ano irá ver estrear.
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