segunda-feira, 2 de maio de 2011

La Solitudine dei Numeri Primi (2010)

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A Solidão dos Números Primos de Saverio Costanzo adaptado do romance homónimo de Paolo Giordano, que aqui também contribuiu para o argumento em colaboração com o realizador, é um dos grandes filmes italianos do último ano e candidato aos Donatello em 2011.
Este filme foi um dos que mais esperei ver na última edição da Festa de Cinema Italiano de Lisboa. O trailer que já havia visto juntamente com a presença na interpretação principal de Alba Rohrwacher faziam-me esperar ter uma excelente sessão de cinema. E confirmou-se.
Aqui acompanhamos a vida de duas personagens. Alice (intepretada magistralmente na adolescência por Arianna Nastro e por Alba Rohrwacher), uma jovem adolescente e mulher que, em criança, sofreu um acidente de ski que a deixou a coxear e condicionada na sua locomoção. Acompanhamos também Mattia (Tommaso Neri, Vittorio Lomartire e Luca Marinelli) que desde criança é acompanhado por um terrível segredo que lhe irá moldar para sempre a vida.
Saverio Costanzo entrega-nos um brilhante retrato não da vida das pessoas mas sim de como estas vidas podem ser radicalmente alteradas por experiências marcantes e traumatizantes.
Começando por Alice que em criança (Martina Albano) sofre um acidente de ski, o qual fora obrigada a fazer por pressão do seu abusivo pai) que lhe iria marcar para sempre a vida. Com uma mãe ausente (motivos que não são relatados no filme) e um pai obsessivo e controlador, Alice vai crescendo sem qualquer tipo de modelo pelo qual se guiar. Em adolescente (Arianna Nastro) no liceu, anoréxica e desesperada pela aprovação dos seus pares, Alice é humilhada por um grupo de colegas que não a deseja por perto. É nesta idade que conhece Mattia e que a ele se liga, tal como o próprio nome do filme, como dois números primos... separados e isolados (do mundo) mas próximos um do outro (através dos seus problemas e segredos).
Em adulta, interpretação levada a bom porto pela magistral (sem qualquer reserva) Alba Rohrwacher, Alice torna-se fotógrafa, paixão que sempre alimentou, casada com um homem que as circunstâncias da sua vida levaram a afastar de si, e doente tanto fisica como psicologicamente. Sofre essencialmente de solidão. De incompreensão. De falta de afecto, de toque e de amor.
A acompanhar esta viagem temos Mattia que, em jovem (Tommaso Neri), era o único amigo e companheiro da sua irmã autista (Giorgia Pizzio) e por quem estava praticamente responsável, ao contrário do seu pai, preocupado mas distante e da sua mãe (Isabella Rossellini) que os culpava de não ter hipótese de concretizar os seus sonhos.
Um dia a relação entre os irmãos seria para sempre afectada devido a uma trágica escolha de uma criança que era responsabilizado pelo bem-estar da sua irmã. Era este mesmo acontecimento que iria fazer de Mattia (tal como de Alice) um ser separado e afastado de tudo e todos os que o rodeavam.
De criança preocupada e presente Mattia torna-se num adolescente (Vittorio Lomartire) fechado e auto-destrutivo e centrado apenas na brilhante carreira escolar que pode ter e que, também ele, encontra em Alice um par. Uma alma igual.
E tal como Alice, Mattia em adulto (Luca Marinelli) está só, isolado de tudo e de todos à excepção da sua brilhante carreira académica e profissional na qual se destaca por excelência. Só. Não tem amizades, não tem afectos, nem toque, nem amor. Nada que o ligue sentimentalmente a ninguém. À excepção de Alice... que um dia lhe pede para voltar...
As duplas que se criam neste filme Lomartire e Nastro bem como Marinelli e Rohrwacher são de tal forma dinâmicas que conseguem ser extremamente credíveis e convincentes nas suas respectivas dores e nos sentimentos, ou ausência deles, que têm para com todos os demais. E não só funcionam bem como são dos elementos mais fortes de todo este magnífico filme.
Este excelente filme nomeado para diversos Donatello a serem atribuídos na próxima semana, não só nos relata os trágicos acontecimentos que podem ocorrer na vida de qualquer um, e ainda mais o são quando ocorrem em crianças, é uma história de dor e sofrimento vividos isolados e em silêncio. Segredos tão negros que fazem as pessoas viverem em silêncio e em completa desconfiança para com o mundo de forma geral.
A respeito das interpretações destaque ainda para a brilhante e irreconhecivel (e muito curta) interpretação verdadeiramente assustadora de Filippo Timi. Intenso e medonho demais o que a torna irrepreensível.
No argumento e na acção do filme há elementos que não são referidos em relação ao livro de Paolo Giordano, e tomando conhecimento deles há situações que se tornam mais claras nomeadamente a relação de Alice com a sua mãe, patrão (na sua idade adulta) e com o seu futuro marido. No entanto, a clareza e os elementos principais que passam pela relação entre estas duas pessoas não são abaladas por isso. A sua relação de proximidade, criada através do isolamento que ambos sentem em relação ao mundo e às pessoas que os rodeiam é, essencialmente o elo que os une.
Excelente filme com interpretações soberbas que acima da solidão, das doenças físicas e psicológicas se centra essencialmente no mais importante de todos os aspectos... a capacidade que temos em criar laços e afectos e como eles são, acima de tudo, profissões ou sucesso, aquilo que nos pode mover e afirmar como seres humanos.
Brilhante... Imperdível... Magnífico. Que na próxima sexta-feira vença uns quantos Donatello especialmente o de Actriz para Rohrwacher. Assumidamente um dos melhores filmes que este ano irá ver estrear.
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9 / 10
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