As Consequências do Amor de Paolo Sorrentino foi vencedor de cinco Donatello nas categorias principais, sendo eles Filme, Actor (Toni Servillo), Realizador, Argumento e Fotografia, e foi ainda nomeado à Palma de Ouro de Cannes.
Titta di Girolamo (Servillo) tem aquilo que qualquer um poderia considerar uma vida desinteressante e de tédio. Senta-se à janela do bar de um hotel em Lugano onde vive e espera. Espera por algo que não sabemos o que é.
Dia após dia Sofia (Olivia Magnani), a empregada do bar do hotel, quando sai despede-se. De todos e em particular de di Girolamo que nunca lhe responde. Dias depois, e segundo as próprias palavras de di Girolamo, senta-se ao bar e conversa com ela, assumindo que esta atitude poderá modificar a sua vida para sempre.
E muda... Ficamos a conhecer os seus mais sombrios segredos e o que o leva a uma espera "desesperante" que até então não conseguiamos perceber.
A interpretação de Toni Servillo é simplesmente magnífica, aliás outra coisa não seria de esperar. O retrato inicial que nos dá de um homem desligado e apático é quase incompreensível. Que estará aquela pessoa ali a fazer dia após dia sem qualquer justificação ou sequer uma reacção a tudo o que se passa à sua volta, principalmente a interacção, inexistente, para com as outras pessoas?
Acaba por ser a sua mudança de postura e o contacto que estabelece com a empregada do bar, Olivia Magnani que despoleta, ao mesmo tempo, um efeito bola de neve onde tudo acontece e tudo finalmente se justifica. É a partir deste momento que percebemos realmente quem é Titta di Girolamo.
É um facto que as pessoas podem passar toda uma vida sem trocarem qualquer tipo de intimidade com os demais. No entanto é também certo que são vidas apáticas e distantes que não fazem valer o significado da própria palavra "vida". É com o relacionamento com aqueles que nos rodeiam e com aqueles que acabam por de uma forma ou outra partilhar o mesmo espaço que nós, que acabamos por conseguir experienciar todo um conjunto de emoções, sensações e sentimentos que podemos pensar não ter. É isto que acontece com a personagem Titta di Girolamo. Um homem ausente e distante do qual ninguém nada sabe mas que por se deixar aproximar por uma outra pessoa, e sem trocarem qualquer tipo de contacto físico, acaba por perceber que está realmente vivo.
Paolo Sorrentino, que venceu o Donatello como melhor realizador do ano, tem aqui uma vez mais um brilhante retrato de uma vida. De um homem. De alguém que aparentava estar "morto". De alguém que (in)voluntariamente estava alheio a tudo e todos. E ninguém mais perfeito para isto do que esse brilhante Toni Servillo do qual Sorrentino tem conseguido retirar brilhantes interpretações que já lhe valeram dois (além deste ainda com Il Divo) Donatello de Actor do ano.
Deixo também um destaque à excelente banda-sonora da autoria de Pasquale Catalano que, à excepção do tema escolhido para a abertura do filme, contém tanto sentimento como a própria acção do filme. Inicialmente sóbria e distante para uma crescente envolvência à medida que di Girolamo se revela ao espectador.
Paolo Sorrentino entrega-nos assim mais um excelente filme sobre sentimentos, e ausência deles, a transformação da vida de um homem igual a tantos outros, sobre o verdadeiro significado da palavra "viver", sobre crime, droga, Máfia, morte e com uma enorme dose de mistério que nos deixa verdadeiramente colados ao ecrã.
E como achei de enorme qualidade a cena introdutória do filme e a música que a compõe, aqui deixo a canção para a puderem apreciar seguida do trailer do filme.
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8 / 10
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