A Culpa é das Estrelas de Josh Boone com estreia agendada em Portugal para amanhã, conta-nos a história de Hazel (Shailene Woodley) e Gus (Ansel Elgort), dois adolescentes que se encontram num grupo de apoio a jovens vítimas de cancro. Enquanto Gus não tem uma perna devido à sua doença, Hazel vive na companhia de uma bilha de oxigénio sem a qual não conseguiria sobreviver. A empatia e atracção de ambos é imediata e a paixão desenvolve-se entre ambos ainda que saibam que a qualquer momento pode terminar pela ausência de um.
Aquilo que se questionam é então simples... Irão aproveitar o tempo que podem ter juntos independentemente da sua duração ou limitar-se a negar os seus sentimentos e a importância que podem ter na sua auto-preservação e memória?
Com base no romance de John Green, Scott Neustadter e Michael H. Weber escrevem este argumento que apesar de se centrar num conjunto de personagens adolescentes consegue, ainda assim, distanciar-se na tradicionar história teen graças ao seu conteúdo mais sério tendo a doença e a fatalidade como pano de fundo. Numa idade em que estes intervenientes deveriam estar a aproveitar para se descobrir, assim como ao mundo que os espera, "Hazel" e "Gus" concentram-se sim em conhecê-lo não como uma descoberta que apaziguará as suas ambições pessoais mas sim como forma de poder reter e "consumir" o máximo deste mundo que, a seu breve tempo, poderá cancelar-lhes o bilhete de estadia.
É desta forma que ambos se completam... Até se conheceram só haviam testemunhado a doença, a perda e, de certa forma, a morte que lhes está inerente sabendo que mais cedo ou mais tarde o mesmo lhes iria acontecer. No entanto é esta cumplicidade que se lhes apresenta como natural que lhes confere o verdadeiro gosto pela vida, pelo contacto, pela paixão e pela entrega que, como consequência, sentem poder fazer mutuamente mas que ao mesmo tempo os assusta por se apresentar como sendo de uma potencial curta duração. A morte, essa que se apresenta como certa (a eles e a todos os outros) é encarada de diversas formas... uns tentam ignorá-la como forma de pensar que nunca chegará enquanto outros a têm como certa e como tal algo com o qual não se devem preocupar... só assim conseguirão viver descontraídamente sabendo que tudo o que fazem é para ser vivido e aproveitado... sentido.
The Fault in Our Stars faz também aqui uma certa referência, ainda que pouco explorada, sobre aqueles que lhes sobrevivem... a família... os amigos... aqueles com quem privaram e que precisam de um conforto que os deixe mais tranquilos e que os permita acompanhar esta última etapa como forma de se sentirem ainda presentes e a disfrutar de todos os momentos mais ou menos importantes da vida daqueles que irão eventualmente perder... Momentos esses que por mais irrelevantes que se apresentem irão ganhar proporções, sentidos e significados maiores aquando da sua falta. Tal como a personagem de Shailene Woodley diz a certa altura, "pior do que ter cancro é ter um filho que está a morrer de cancro" pois a acontecer deixá-los-à numa condição sem nome.
Este filme e a sua linha condutora perdem um pouco o rumo com a inesperada visita a Amsterdão que o casal "Hazel" e "Gus" anseiam. Ainda que com o propósito da descoberta de respostas que podem nunca chegar e que expliquem o momento seguinte à sua partida, a sua dinâmica pouco explorada e com o único propósito de apresentar a um Willem Dafoe dispensável nesta trama, é apenas minimamente justificada no segmento final em que "Hazel" lê as palavras que lhe foram deixadas para a sua eventual partida feitas por um amor então desaparecido. É nesta mesma viagem que apesar de conter o momento romântico do jovem casal e também aquele em que percebem que o seu tempo poderá estar "contado", que ocorre o segmento mais absurdo (e sim, esta é a palavra adequada para um filme que tinha tudo a ganhar com a sua abordagem quer séria quer descontraída sobre a morte) ao visitarem a Casa-Museu Anne Frank e onde após um beijo apaixonado se observam os demais turistas a aplaudir... Ora... se por um lado nos temos a sentir aqueles dois seres que podem abandonar a vida a qualquer momento, não nos podemos igualmente esquecer que o local per si não é o melhor para uma ronda de aplausos...
Momento este rapidamente esquecido (foi mau demais), é no regresso à realidade que esta realmente se faz sentir... Desde os momentos que se percebem não poder ser repetidos sem esquecer que a saúde vai, aos poucos, denotando os seus filmes de desgaste e fadiga que são o espelho de um sonho que está a chegar ao fim... de um desejo que ainda que sentido se sabe estar a extinguir-se... de uma vontade cada vez maior de viver mas que funciona exactamente na direcção oposta e apenas suportável por saber que algures nas suas curtas "vidas" alguém os amou... os percebeu... os viu.
Shailene Woodley tem aqui mais uma interessante interpretação que comprova ser a jovem promessa pra o futuro. Depois de The Descendants, The Spectacular Now e de Divergent (no qual participa também Ansel Elgort), Woodley comprova estar a criar o seu próprio espaço no cinema com filmes não só direccionados para um público mais jovem como também mais abrangentes e capazes de cativar outras camadas etárias que tanto têm de sério como de entretenimento sem, no entanto, se deixar levar pelo tradicional "filme pipoca" que poderia funcionar de forma nociva na sua carreira. Não que este filme a leva aos prémios ditos "sérios" da indústria mas, no entanto, não me deixará espantado que num futuro próximo a estejamos a ver como recipiente dos mesmos.
O já referido Dafoe como o escritor cuja obra suscita a curiosidade de "Hazel", assim como Laura Dern ou Sam Trammell que interpretam os seus sofridos (mas contidos) progenitores, ocupam aqui interpretações quase simbólicas... estão lá apenas porque o espectador deduz que esta jovem não é orfã (seria tragédia a mais) nem tão pouco vive sózinha (qual seria a sua forma de subsistência?), sendo que a sua dor enquanto pais não é suficientemente explorada e, talvez até pior, é levada como uma certa ligeireza que por vezes nem parece natural.
Elgort, enquanto outro protagonista, também desempenha uma interpretação interessante e espontânea que deixa uma certa curiosidade sobre os próximos filmes em que irá participar, principalmente a continuação do trabalho que irá efectuar com Woodley em Insurgent. Aqui com uma interpretação segura e também ela sentida quase sempre em gesto de despedida, deixa também ao espectador uma sensação de que este será apenas um dos primeiros desempenhos mais sérios onde poderá melhor explorar o seu potencial dramático.
Ainda que com as suas falhas e lugares comuns que não o deveriam ser, The Fault in Our Stars consegue ter os seus momentos de comoção e claro mais sentimentais que nos fazem questionar a brevidade e a rapidez do tempo que por "cá" passamos e como realmente o ocupamos a pensar em assuntos que são, por vezes, tão irrelevantes esquecendo aqueles pelos quais deveríamos realmente lutar e atentar e que marcassem realmente a nossa importância não só perante o mundo como também perante aqueles que conhecemos.
Foi graças a outro filme que guardei o melhor pensamento que se poderia aplicar a esta história... "quando a morte te sorrir... sorri de volta"... tal é a sua inevitabilidade e certeza... portanto porquê preocupar com algo para com o qual nada se pode fazer, limitando assim todas as demais experiências positivas que se podem viver?!
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"Hazel: Depression is a side effect of dying."
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8 / 10
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