Catarina e os Outros de André Badalo é uma curta-metragem portuguesa de ficção que literalmente lançou a carreira de uma excelente jovem actriz como é Victória Guerra.
Catarina (Guerra) é uma jovem mulher cujos únicos encantos que nos são dados a conhecer se prendem directamente com a sua extrema beleza. Durante breves momentos do seu dia, Catarina é uma prisioneira auto-imposta do seu quarto onde, entre as quatro paredes, olha sem rumo para aquilo que a rodeia.
Alheada de tudo e todos e sem qualquer sinal daquilo que a atormenta, Catarina apenas sai do seu quarto para vaguear sem rumo por uma cidade onde procura parceiros sexuais... todos e qualquer um que lhe proporcione breves momentos de sexo desprotegido. Até ao dia em que a verdade é finalmente exposta...
André Badalo e Sara Esteves escreveram um guião no qual podemos testemunhar de muito perto a rota de auto-destruição de uma jovem. Poucos são os elementos que nos são inicialmente fornecidos mas percebemos que a sua falta de amor próprio não se deve a qualquer problema de aparência. Esta jovem é extremamente bela e teria com certeza todo um promissor futuro à sua frente. No entanto questionamo-nos... será ela apenas um rosto bonito que enveredou por um caminho que ruma claramente à sua própria morte? E se sim... porquê?!
Para a composição da sua personagem, Victória Guerra recorre a um quase total alheamento da realidade. Não a vemos preocupada com nada do que se passa à sua volta nem tão pouco com as escassas mensagens que escutamos vindas de uma mãe preocupada. O seu propósito, desde o instante em que acorda é apenas percorrer as ruas como uma predadora disposta a caçar a próxima vítima - esta que é, também ela, uma predadora à sua própria maneira - numa total despreocupação que chega a ser preocupante.
Pela noite e pelo dia percorre os mais variados locais... uma discoteca onde conhece o primeiro homem (Rui Porto Nunes) com quem se envolve no WC, o segundo (Cândido Ferreira) nas ruinas de uma qualquer urbanização, em terceiro lugar com um casal (Philippe Leroux e Maria João Bastos) enquanto os filhos destes esperam na sala e finalmente quando pede boleia e "serve" os três passageiros do carro (Tiago Aldeia, Pedro Carvalho e Luís Garcia), todos eles sempre com o mesmo alheamento e indiferença para aqui que acontece durante breves instantes.
Percebemos que "Catarina" deixou de se preocupar com a sua condição. Percebemos também que esta falta de segurança física, por aqueles que aborda nos mais distintos locais bem como pela forma desprotegida que com eles se relaciona, só se pode dever à sua própria condição breve de vida mas, no entanto, nada nos prepara enquanto espectadores para a surpresa final que, essa sim, poderá colocar em causa todos os anteriores acontecimentos.
É esta rota de auto-destruição que já referi que está presente durante todo este pequeno grande filme e os seus sinais e evidências são constantes. Desde a falta de comunicação que estabelece com aqueles que lhe são mais próximos, passando pelo seu objectivo diário em (sabemos a certo momento) infectar todos aqueles que na sua opinião são, também eles, sujeitos de risco. Desde os encontros ocasionais numa discoteca onde se entrega num WC imundo, passando por locais abandonados e também eles degradados ou mesmo o engate ocasional na rua onde qualquer um poderá aparecer sem esquecer o luxuoso lar em que se diverte com o casal enquanto os seus filhos esperam na sala ao lado, Catarina e os Outros denota um total desconforto do espectador que assiste a este percurso sem aparentes consequências que assinala a degradação psicológica desta jovem. Todos estes elementos são, de uma ou outra forma, o efeito de alguém que se deixou levar e entregou ao seu próprio final... sem equacionar as consequências ou a (ir)responsabilidade dos seus próprios actos. Tudo, para ela, terminou.
E de facto terminou... É graças ao último segmento desta curta-metragem que unindo a notícia que recebe à uma magnífica direcção de fotografia de Emanuel Magessi, José Pedroso e Patrícia Raposo que percebemos que aquele lugar em que se encontra é, para além do seu quarto, o espaço em que se refugia como se de um paraíso perdido se tratasse. Ali encontrou o fim (o seu), e irá consumi-lo de facto quando lhe perdemos o rasto. Apesar de não declarado, o seu fim pode ser imaginado pela sequência de imagens e de espaços por onde passa.
Catarina e os Outros e a magnífica direcção de André Badalo remetem-nos desde o primeiro instante para um daqueles filmes negros dos idos anos 70 onde uma improvável justiceira toma o controlo do seu destino, e o dos outros, através de uma longa marcha de vingança por uma sua própria fatalidade, entregando-se assim a um final trágico e potencialmene desolador do qual somos privados ou, a um mais recente The Brave One, de Neil Jordan onde uma mártir Jodie Foster elimina todos aqueles que considera tóxicos para uma sociedade, também ela, já perdida.
No final questionamo-nos... até que ponto é válida esta justiça pelas próprias mãos e que justiceira será esta que mais se assemelha a uma vítima perdida e vulnerável, sem armas e sem defesas contra os perigos que espreitam por todos os lados? Será a "vítima" mais mortal do que o próprio predador ou, por sua vez, não será este a verdadeira vítima?!
.Pela noite e pelo dia percorre os mais variados locais... uma discoteca onde conhece o primeiro homem (Rui Porto Nunes) com quem se envolve no WC, o segundo (Cândido Ferreira) nas ruinas de uma qualquer urbanização, em terceiro lugar com um casal (Philippe Leroux e Maria João Bastos) enquanto os filhos destes esperam na sala e finalmente quando pede boleia e "serve" os três passageiros do carro (Tiago Aldeia, Pedro Carvalho e Luís Garcia), todos eles sempre com o mesmo alheamento e indiferença para aqui que acontece durante breves instantes.
Percebemos que "Catarina" deixou de se preocupar com a sua condição. Percebemos também que esta falta de segurança física, por aqueles que aborda nos mais distintos locais bem como pela forma desprotegida que com eles se relaciona, só se pode dever à sua própria condição breve de vida mas, no entanto, nada nos prepara enquanto espectadores para a surpresa final que, essa sim, poderá colocar em causa todos os anteriores acontecimentos.
É esta rota de auto-destruição que já referi que está presente durante todo este pequeno grande filme e os seus sinais e evidências são constantes. Desde a falta de comunicação que estabelece com aqueles que lhe são mais próximos, passando pelo seu objectivo diário em (sabemos a certo momento) infectar todos aqueles que na sua opinião são, também eles, sujeitos de risco. Desde os encontros ocasionais numa discoteca onde se entrega num WC imundo, passando por locais abandonados e também eles degradados ou mesmo o engate ocasional na rua onde qualquer um poderá aparecer sem esquecer o luxuoso lar em que se diverte com o casal enquanto os seus filhos esperam na sala ao lado, Catarina e os Outros denota um total desconforto do espectador que assiste a este percurso sem aparentes consequências que assinala a degradação psicológica desta jovem. Todos estes elementos são, de uma ou outra forma, o efeito de alguém que se deixou levar e entregou ao seu próprio final... sem equacionar as consequências ou a (ir)responsabilidade dos seus próprios actos. Tudo, para ela, terminou.
E de facto terminou... É graças ao último segmento desta curta-metragem que unindo a notícia que recebe à uma magnífica direcção de fotografia de Emanuel Magessi, José Pedroso e Patrícia Raposo que percebemos que aquele lugar em que se encontra é, para além do seu quarto, o espaço em que se refugia como se de um paraíso perdido se tratasse. Ali encontrou o fim (o seu), e irá consumi-lo de facto quando lhe perdemos o rasto. Apesar de não declarado, o seu fim pode ser imaginado pela sequência de imagens e de espaços por onde passa.
Catarina e os Outros e a magnífica direcção de André Badalo remetem-nos desde o primeiro instante para um daqueles filmes negros dos idos anos 70 onde uma improvável justiceira toma o controlo do seu destino, e o dos outros, através de uma longa marcha de vingança por uma sua própria fatalidade, entregando-se assim a um final trágico e potencialmene desolador do qual somos privados ou, a um mais recente The Brave One, de Neil Jordan onde uma mártir Jodie Foster elimina todos aqueles que considera tóxicos para uma sociedade, também ela, já perdida.
No final questionamo-nos... até que ponto é válida esta justiça pelas próprias mãos e que justiceira será esta que mais se assemelha a uma vítima perdida e vulnerável, sem armas e sem defesas contra os perigos que espreitam por todos os lados? Será a "vítima" mais mortal do que o próprio predador ou, por sua vez, não será este a verdadeira vítima?!
8 / 10
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Seria uma história Real..Q poderia acontecer nos dias de hoje
ResponderEliminarSad tale but was any of it real or in her head?
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