Lady Blue Shanghai de David Lynch é uma curta-metragem realizada para a Dior e que não conta com a participação da actriz Marion Cotillard como é a primeira de um segmento com a mesma; depois de Lady Blue Shanghai, de Lynch seguiram-se Lady Rouge (2010), de Jonas Akerlund num vídeo musical com a participação de Franz Ferdinand, e Lady Grey London e L.A.dy Dior ambas de John Cameron Mitchell.
Em Lady Blue Shanghai, Lynch provoca-nos uma vez mais com o seu imaginário de mistério onde uma mulher sem nome (Cotillard), chega ao seu quarto de hotel para encontrar um estranho "presente" (uma mala) no centro do chão da sua sala.
Numa perspectiva quase hipnótica para o espectador que se confunde entre o próprio sonho vs. realidade que esta "mulher" sente, deparamo-nos com um conjunto de incertezas que povoam e invadem o nosso imaginário e que estão de igual forma representadas no ambiente onde tudo se desenrola. Aquele quarto tem uma atmosfera diferente, quase labiríntica nas suas quatro paredes, e sentimo-nos (sentimo-la) como que perdida num espaço de si amplo mas que muito se aproxima de uma prisão auto-imposta.
Assim, num constante recorrer à memória, sua prisão e liberdade, Lynch brinca com as recordações daquele mulher que graças a uma enigmática mala que nunca chegamos a saber quem lha ofereceu, são libertadas para uma auto-satisfação desconcertante... afinal, ela nunca chega a saber do que se recorda em concreto nem tão pouco deixa de sentir que o seu espaço foi, em certa medida, violado.
Alienados do exterior (personagem e espectadores), sente-se que estamos numa dimensão quase fantasmagórica onde a realidade se mescla com um passado já vivido mas do qual pouco se (nos) recorda.
Digna de uma atmosfera oriental, numa clara homenagem explícita no próprio título, Lady Blue Shanghai transmite um misto de tristeza e satisfação por identificar; se por um lado existe uma alegria esta, no entanto, não deixa de ser contida e reprimida que só um universo de personagens que por vezes não se reconhecem como aquele criado por Lynch poderia alguma vez fazer nascer.
Finalmente um último apontamento sobre a igualmente fantasmagórica música original de Dean Hurley e David Lynch que apenas agudizam toda a atmosfera etérea que se sente desde o primeiro instante em Lady Blue Shanghai.
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7 / 10
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