Touching the Void de Kevin Macdonald é um documentário britânico premiado pela Academia Britânica de Cinema na respectiva categoria, que relata a história verídica de dois alpinistas que tentaram escalar o Siula Grande nos Andes Peruanos esperando tornar-se os dois primeiros a alcançarem o seu topo.
Se, por um lado, a subida foi uma viagem fácil de concretizar é, no entanto, a sua descida que marcaria a vida destes homens e se tornaria a sua história de uma sobrevivência aparentemente impossível.
Com base na obra da autoria de Joe Simpson - um dos intervenientes nesta expedição -, o argumento de David Darlow narra a história de Simpson e Simon Yates, os dois alpinistas que na companhia de Richard Hawking - o homem que os aguardava no acampamento - e a sua aventura pelos Andes onde Joe fica ferido. Joe e Simon embarcam então numa demorada viagem de regresso ao acampamento que os separa levando a que este último equacione a morte de Joe.
Intercalado com momentos ficcionados inspirados nos acontecimentos reais e uma narração sempre presente por parte dos verdadeiros alpinistas, Touching the Void é um documentário com uma passada muito própria, atempada e demorada que recria na perfeição os demorados e longos dias do seu regresso a "casa", a imagem de uma morte que os separara e o distanciamento de uma migo de longa data bem como a eterna dicotomia de Homem versus Natureza seus perigos e oportunidades (raras) num ambiente natural que tudo tem para ser belo mas que se apresenta como um ponto de viragem determinante nas vidas daqueles que ousam enfrentá-los.
Ainda que baseado em factos verídicos e com a sempre presente ficção que exemplifica os diversos momentos desta drástica viagem pelo Siula Grande, Touching the Void não se transforma num documentário de fácil empatia com o espectador que se deixa embrenhar pela paciente solidão da montanha aqui retratada no cinema. Por outras palavras, se é verdade que o espectador está perante um acontecimento trágico e que poderia determinar e representar os limites da humanidade - e da própria solidão - quando o Homem se vê face a uma escolha - a da sua vida em detrimento da de outrém - podendo viver (ou não) para sempre marcado por essa perda e, como tal, criar uma empatia instantânea com os factos que vê relatados, não deixa de ser verdade que existe nessa espaçada "passada" um distanciamento atroz que o afasta dessa ficção verídica transformando os seus mais de cem minutos de duração... longos demais.
Se digerir este documentário pode ser, por momentos, uma tarefa hercúlea não será menos verdade afirmar que os seus dois elementos mais fortes se prendem com a sua música original a cargo de Alex Heffes que cria momentos de contemplação - não pelo ambiente natural mas sim para com a vida e o pensamento que vagueia pela pretensão e concretização de objectivos futuros - e a magnífica direcção de fotografia da autoria de Mike Eley e Keith Partridge que coloca o espectador no centro de uma viagem por esse mesmo ambiente natural experimentando as sombras, os silêncios, a solidão e o silêncio de todo um espaço que ganha vida e alma pela ausência de empatia ou compaixão por aqueles que ousam atravessar os seus domínios.
Ainda que um dos mais aclamados documentários dos últimos anos, Touching the Void não será aquele filme com o qual o espectador irá criar uma empatia imediata e poderá inclusivé, ser um filme para o qual serão necessários mais do um simples e breve visionamento. No entanto, para os amantes do género e para aqueles que gostam de histórias de uma (sobre)vivência bem sucedida, ele estará certamente entre os seus filmes de eleição.
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6 / 10
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