BlinkyTM de Ruairi Robinson é uma curta-metragem irlandesa de ficção cujo argumento - também da autoria de Robinson - nos leva no viagem no tempo ao futuro assim como a uma noção algo distorcida sobre a forma como as novas tecnologias se podem apoderar do trato entre os humanos.
Alex (Max Records) é um rapaz que num futuro mais ou menos distante recebe de presente um robot de seu nome Blinky. A improvável relação de amizade entre os dois mais não é do que o escape para Alex de um lar onde reina a discussão entre os seus pais.
Quando o meio influencia os comportamentos de todos fazendo de Blinky a "vítima" de um agora agressivo Alex, o que irá fazer este engenho mecânico para conquistar a amizade e cumplicidade que em tempos teve do seu novo "amigo"?
Com BlinkyTM, Robinson captura na perfeição vários elementos que são inerentes a todas as sociedades e, de certa forma, todas as épocas (pelo menos aquelas já passadas e que podemos testemunhar) que passam desde a solidão, a violência doméstica e psicológica e o bullying. O novo elemento trazido por Robinson é, no entanto, uma nova dinâmica de "amizade" aqui tida entre um humano dotado de consciência - ainda que eventualmente fruto do meio em que vive - e um robot disposto a fazer tudo pelo seu "amigo" não como uma forma de lhe agradar mas porque está programado para obedecer aos mais diversos caprichos sem questionar a sua validade ou até mesmo a sua humanidade (ou falta dela!)
Com isto em mente, o espectador entra num cenário que conhece de tantas realidades que se escutam diariamente onde a violência quer física quer principalmente (pelo menos para este caso) psicológica são o reflexo e o fruto de um ambiente desfeito onde a tragédia espreita por todos os lados impaciente para tomar conta daqueles que ali habitam. É esta violência psicológica que estabelece uma relação "íntima" entre os dois protagonistas - "Alex" e "Blinky" - que à sua medida são o fruto daquilo que experenciam e vivem. O primeiro pelo facto de estando dotado de uma consciência e reconhecer entre o bem e o mal exerce, para seu próprio escape, uma violência bruta sobre o novo amigo que tanto quis e com quem tantos bons momentos partilhou, e o segundo por ser um objecto inanimado e apenas programado que responde a ordens recebidas sem questionar aquelas que são socialmente aceites e as outras ditas no calor de uma discussão que entre pares não teria qualquer reflexo ou significado para além da ofensa.
A dinâmica assim exercida entre Homem vs. Máquina termina quando esta, dotada de maior poder e recursos, domina a sociedade que até então fora do primeiro: o criador e mestre perde controla da obra que criou como auxílio que agora já não tem.
Ao mesmo tempo Robinson leva o espectador a uma viagem a um futuro que talvez já não se encontre tão distante - basta para isso pensarmos em todas as inovações tecnológicas que já existem à nossa volta - e questionar-se assim sobre o rumo que a sociedade (e a própria convivência em comunidade) leva onde o Homem corre um sério risco de se eclipsar tornando-se numa sombra de si mesmo e da obra que, até então, era suposto ser um seu auxílio - benéfico?
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