Corre, Rapaz, Corre de Pepe Danquart é uma longa-metragem alemã presente na Judaica - Mostra de Cinema e Cultura a decorrer no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Srulik está em fuga. Presencia os dias da Segunda Guerra Mundial e sente a perseguição alemã à sua família por ser judia. Para escapar não só se refugia em todos os locais que lhe possam garantir algum tipo de sobrevivência bem como uma nova identidade... Jurek Staniak, um jovem pocalo e católico.
Tendo de recorrer à boa vontade - ou à perseguição - daqueles que encontra pelo caminho, a questão que se coloca a Srulik é se conseguirá não só sobreviver fisicamente ao conflito como principalmente psicologicamente mantendo a sua verdadeira identidade intacta.
O argumento de Lauf Junge Lauf - baseado na obra de Uri Orlev - e no qual Danquart participou em colaboração com Heinrich Hadding estabelece, a longo-prazo, esse dilema entre a sobrevivência e a manutenção da liberdade na medida em que para se poder alcançar um o outro tem de ser sonegado. A questão que se coloca então ao espectador é só uma... mesmo confirmando a sobrevivência física deste jovem, ou de qualquer outro indivíduo, estará a psicológica e intelectual intacta e preservada?
Ainda que esta questão acabe por ser a principal neste filme, não é menos verdade que cedo o mesmo só se preocupa e centra em mostrar toda a fuga do jovem "Srulik/Jurek", afastando demais preocupações para a sua personagem. Pouco assistimos às memórias do seu passado - para lá daquelas em que o seu pai se sacrificou para a sua fuga - à excepção daquela em que a principal mensagem é transmitida... a necessidade de mentir, de esconder e claro, de fugir. A compreensível mentira está assim implícita a todos os actos, e poucos são aqueles que conhecendo o seu passado - ou pelo menos dele suspeitando - se preocupam com o mesmo existindo, no entanto, raras excepções.
A mais preocupante destas é, para mim, quando detido o jovem "Srulik" lhe são reconhecidas qualidades de sobrevivência e coragem pelo seu carcereiro que, como se deve calcular mais não são do que oficiais nazis. Ora, se este filme tem como objectivo contar uma história de sobrevivência de uma criança judia num mundo que é, não só ele, austero como também o meio geográfico não lhe confere grandes oportunidades, então o espectador chega a um determinado momento que pensa "afinal... estou a assistir a quê?!". Estaremos nós a ser induzidos a acreditar que existe "humanidade" do outro lado da barricada?! Não me convence...
Depois de um conjunto de privações, medos e vontade de sobreviver que estão inerentes a qualquer ser humano em apuros, aquilo que Lauf Junge Lauf transmite é que mesmo nos momentos mais duros e onde a (des)humanidade dos homens é uma presença ao virar de cada esquina, este - Homem - pode sempre encontrar uma alma caridosa predisposta a ajudar com um conforto, uma atenção ou até mesmo uma amizade incondicional - a do cão - que não questiona e está sempre do seu lado... até à sua privação... mantendo-se este filme num limbo emocional que nunca esclarece se pretende aprofundar as memórias de um passado sofrido às mãos de uma barbárie ou que afinal também no mal se pode encontrar um lado... "menos mau". É esta mesma dualidade que faz dispersar a atenção do espectador - que a certa altura se sente algo ofendido com a humanização de um assassino - e também por nunca ser apresentado com rigor o passado trágico deste jovem que sabemos ter fugido e sobrevivido inicialmente pelo acto altruísta do seu pai mas que - pela sua recomendação - esquece voluntária e psicologicamente as suas raízes, origens e cultura.
Num misto de credibilidade e alguma fantasia - aos momentos de cativeiro nazi não lhes consigo encontrar qualquer realismo histórico - sobrevivem com algum bom gosto e honestidade intelectual os últimos instantes em que o jovem "Jurek" agora "Srulik" se encontra já idoso em Israel a celebrar a vida com a sua - agora - descendência.
Com alguma credibilidade técnica na reconstituição dos espaços e dos adereços, Lauf Junge Lauf mantém-se em tudo o demais - interpretações incluídas - num limbo entre o momentaneamente satisfatório e no mediano "correndo" de momento em momento não aprofundando a intensidade dramática de cada etapa ou segmento, não conseguindo dessa forma e em momento algum destacar-se como "aquela" referência no género. Por outras palavras... poderei dizer que é um filme simpático mas considerando a temática e aquilo que esperamos da mesma, estas não são as melhores palavras para o caracterizar. Em sua defesa, no entanto, Lauf Junge Lauf contém uma mensagem - que deveria ter sido melhor explorada - sobre a importância da sobrevivência do património cultural de "Srulik" num mundo onde o seu pensamento apenas se ocupara em poder manter-se fisicamente vivo num mundo que o persegue.
Srulik está em fuga. Presencia os dias da Segunda Guerra Mundial e sente a perseguição alemã à sua família por ser judia. Para escapar não só se refugia em todos os locais que lhe possam garantir algum tipo de sobrevivência bem como uma nova identidade... Jurek Staniak, um jovem pocalo e católico.
Tendo de recorrer à boa vontade - ou à perseguição - daqueles que encontra pelo caminho, a questão que se coloca a Srulik é se conseguirá não só sobreviver fisicamente ao conflito como principalmente psicologicamente mantendo a sua verdadeira identidade intacta.
O argumento de Lauf Junge Lauf - baseado na obra de Uri Orlev - e no qual Danquart participou em colaboração com Heinrich Hadding estabelece, a longo-prazo, esse dilema entre a sobrevivência e a manutenção da liberdade na medida em que para se poder alcançar um o outro tem de ser sonegado. A questão que se coloca então ao espectador é só uma... mesmo confirmando a sobrevivência física deste jovem, ou de qualquer outro indivíduo, estará a psicológica e intelectual intacta e preservada?
Ainda que esta questão acabe por ser a principal neste filme, não é menos verdade que cedo o mesmo só se preocupa e centra em mostrar toda a fuga do jovem "Srulik/Jurek", afastando demais preocupações para a sua personagem. Pouco assistimos às memórias do seu passado - para lá daquelas em que o seu pai se sacrificou para a sua fuga - à excepção daquela em que a principal mensagem é transmitida... a necessidade de mentir, de esconder e claro, de fugir. A compreensível mentira está assim implícita a todos os actos, e poucos são aqueles que conhecendo o seu passado - ou pelo menos dele suspeitando - se preocupam com o mesmo existindo, no entanto, raras excepções.
A mais preocupante destas é, para mim, quando detido o jovem "Srulik" lhe são reconhecidas qualidades de sobrevivência e coragem pelo seu carcereiro que, como se deve calcular mais não são do que oficiais nazis. Ora, se este filme tem como objectivo contar uma história de sobrevivência de uma criança judia num mundo que é, não só ele, austero como também o meio geográfico não lhe confere grandes oportunidades, então o espectador chega a um determinado momento que pensa "afinal... estou a assistir a quê?!". Estaremos nós a ser induzidos a acreditar que existe "humanidade" do outro lado da barricada?! Não me convence...
Depois de um conjunto de privações, medos e vontade de sobreviver que estão inerentes a qualquer ser humano em apuros, aquilo que Lauf Junge Lauf transmite é que mesmo nos momentos mais duros e onde a (des)humanidade dos homens é uma presença ao virar de cada esquina, este - Homem - pode sempre encontrar uma alma caridosa predisposta a ajudar com um conforto, uma atenção ou até mesmo uma amizade incondicional - a do cão - que não questiona e está sempre do seu lado... até à sua privação... mantendo-se este filme num limbo emocional que nunca esclarece se pretende aprofundar as memórias de um passado sofrido às mãos de uma barbárie ou que afinal também no mal se pode encontrar um lado... "menos mau". É esta mesma dualidade que faz dispersar a atenção do espectador - que a certa altura se sente algo ofendido com a humanização de um assassino - e também por nunca ser apresentado com rigor o passado trágico deste jovem que sabemos ter fugido e sobrevivido inicialmente pelo acto altruísta do seu pai mas que - pela sua recomendação - esquece voluntária e psicologicamente as suas raízes, origens e cultura.
Num misto de credibilidade e alguma fantasia - aos momentos de cativeiro nazi não lhes consigo encontrar qualquer realismo histórico - sobrevivem com algum bom gosto e honestidade intelectual os últimos instantes em que o jovem "Jurek" agora "Srulik" se encontra já idoso em Israel a celebrar a vida com a sua - agora - descendência.
Com alguma credibilidade técnica na reconstituição dos espaços e dos adereços, Lauf Junge Lauf mantém-se em tudo o demais - interpretações incluídas - num limbo entre o momentaneamente satisfatório e no mediano "correndo" de momento em momento não aprofundando a intensidade dramática de cada etapa ou segmento, não conseguindo dessa forma e em momento algum destacar-se como "aquela" referência no género. Por outras palavras... poderei dizer que é um filme simpático mas considerando a temática e aquilo que esperamos da mesma, estas não são as melhores palavras para o caracterizar. Em sua defesa, no entanto, Lauf Junge Lauf contém uma mensagem - que deveria ter sido melhor explorada - sobre a importância da sobrevivência do património cultural de "Srulik" num mundo onde o seu pensamento apenas se ocupara em poder manter-se fisicamente vivo num mundo que o persegue.
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