quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

[Des]ligado (2015)

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[Des]ligado de Diogo Simão é uma curta-metragem portuguesa de ficção que nos leva a uma inesperada viagem pelo mundo do cinema e aos super-heróis. Quando Ele (Diogo Simão) se prepara para assistir a um filme tem, a seu lado, o corpo inanimado de uma mulher.
A obsessão parece controlar todos os seus comportamentos e gestos e os seus pensamentos levam-no para um mundo auto-imaginado que o faz perder-se entre a realidade e a ficção.
Perdido numa dimensão alternativa que confunde a vida real com o espectáculo de um filme de acção - assim inicialmente pensa o espectador - [Des]ligado é um estudo sobre as profundezas de uma mente perdida que não distingue - ou consegue - aquilo que tem e é daquilo que pensa e supõe.
Ao presenciarmos os primeiros instantes desta história perdemo-nos de imediato com uma ocorrida cena de violência que apesar de não ser testemunhada pressupõe a demência de alguém que, ou por ciúme ou por despeito, se descontrolou face ao outro. Os instantes imediatos a esse acto confirmam que aquilo que temos mais não é do que um homicídio passional que poderá ser o reflexo de uma sociedade contemporânea onde estes proliferam no silêncio daquilo que está escondido por quatro paredes.
No entanto, quando o espectador pensa que já estabeleceu uma relação entre o que vê e a "realidade", depara-se com um twist que nos desconecta das noções anteriormente concebidas e é levado para uma história de crime urbano e bullying que desconcerta as ideias tidas como certas. Uma vítima, um salvamento e um improvável super-herói - "queria ser como um..." escutamos algures - e assistimos a um acto heróico quando, uma vez mais, somos confrontados com a realidade daquilo que fora então a verdadeira concepção daquele que conta a história.
Estamos numa instituição psiquiátrica e "Ele" divaga por entre histórias e noções de heroísmo e boas acções contra um mal presente mas que, na realidade, mais não são do que ideias de alguém que perdeu todo o seu discernimento e sanidade. Nada do que vemos acontece(u) e este homem mais não é do que alguém que "sofreu" vítima da sua mente susceptível a tudo aquilo que o impressionara e que dramatizou como a (sua) realidade.
Diogo Simão recria aqui uma interessante história que deixa o espectador num suspenso sobre a verdadeira realidade e confirma o seu potencial enquanto contador de uma história que cumpre o esperado - não o sendo - e que guarda nos seu íntimo uma vontade de poder ser algo mais e explorar a tal mente perdida conjugando com eficácia e dedicação todos os pequenos twists e inuendos que abre sem nunca revelar antes do clímax pretendido.
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6 / 10
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