Éden de Fábio Freitas é uma curta-metragem portuguesa de ficção vencedora do prémio de Melhor Actor nos Caminhos do Cinema Português, em Coimbra e recentemente exibida em competição no Shortcutz Viseu.
João (Nuno Pardal) e Pedro (Pedro Sousa Loureiro) estão no carro. Nada à sua volta para lá de uma estrada deserta. Preparam uma despedida enquanto esperam por alguém que os irá separar. Neste inesperado Éden, alguém comeu o fruto proibido.
Com argumento da autoria do realizador Fábio Freitas, Éden apresenta-se muito rapidamente como uma história de amor interrompido num limbo - que ganha uma dimensão muito especial graças ao nevoeiro ao fundo como uma fronteira de espaços distintos - onde duas almas gémeas se preparam para uma despedida agonizante e transformadora. Aqui o Éden não é um jardim paradisíaco onde se vive num ambiente de fausto e contentamento mas sim o tal momento perdido entre o "cá" e o "lá" numa espera incerta que irá afastar aquela que fora - até então - uma cumplicidade incompreendida - e talvez indesejada - pelos demais.
Enquanto "Pedro" espera pela continuação para um novo caminho - depois percebemos que na companhia de "Sara" (Sara Barros Leitão) - sem a companhia de "João", este recorda os momentos de uma cumplicidade vivida que agora parece escapar-lhe por entre os dedos. Secretamente, e recorrendo apenas às suas memórias, (des)espera para que não seja abandonado por aquele que - percebemos - é a sua alma gémea e com partilhou momentos de paixão, amor e de uma ligação que apenas os silêncios de um caminho não percorrido - que não por eles - pode testemunhar.
"João" percebe - e refere - que a mágoa pode ser um instante mas que a redenção com a sua consciência será uma certeza no dia seguinte, naquela que é uma clara alusão à partida de um inseguro "Pedro", perdido entre dois mundos que parece não querer abdicar - por insegurança sobre o seu futuro - pela convicção de que enveredando por um o confinará a uma decisão que não terá retrocesso.
Perdidos num limbo - que aqui tem a forma daquela estrada deserta -, "Pedro" é, ao mesmo tempo, a encarnação de um limbo metafórico na medida em que se encontra pendente entre uma paixão sentimental com "João" e uma paixão social com "Sara". Incerto sobre por que caminho - amor - seguir, "Pedro" vive uma relação de conveniência com ambos; com "João" uma que pode satisfazer as suas necessidades e desejos afectivos e físicos e com "Sara" uma relação que possa garantir uma certa segurança social que uma (homo)sexualidade - na sua opinião - não tem. Perdido num rumo de auto-satisfação, "Pedro" abandona as incertezas rumo a uma vida que lhe confere a posição tranquila e confortável que julga poder vir a ter.
Se a "Sara" de Barros Leitão encarna aqui uma serpente de um jardim do Éden que revela um fruto proibido - aquele que tudo garante mas pouco pretende cumprir é, por sua vez, o "João" de Nuno Pardal aquele que apresenta a segurança e a certeza de um futuro tranquilo com base nas experiências vividas com "Pedro". Não um conjunto de certezas sociais ou profissionais - essas não são uma questão em Éden - mas sim aquelas sentimentais e do coração tendo unicamente como base as memórias que "João" tem dos momentos de felicidade e cumplicidade com ele vividos.
O fruto proibido - maçã metaforicamente e "Sara" como a confirmação do real - estão presentes em Éden pela necessidade de uma constante provação entre o cá e o lá... o inferno e o paraíso... o antes e o depois. No fundo, como elementos de uma divisão de espaço versus tempo que coloca limites nas acções, nos comportamentos e nos destinos tanto de "João" - seguro das suas escolhas e sentimentos - como de "Pedro" - incerto sobre quem é no mundo.
Com uma belíssima direcção de fotografia de Filipe Pinto Silva que consegue recriar numa estrada "abandonada" a imagem de um potencial paraíso perdido ao alcance daqueles que nele pretendem viver, e uma forte interpretação dramática e nostálgica de Nuno Pardal que aqui se destaca como um dos mais interessantes actores de uma nova geração - e um justíssimo vencedor do prémio de melhor actor nos Caminhos do Cinema Português - deixando uma elevada expectativa sobre o seu próximo desempenho.
Um último apontamento sobre a realização de Fábio Freitas - de quem passarei também a aguardar com expectativa pelo seu próximo filme - que não só consegue escrever uma história sensível e tocante pela sua simbólica narrativa como filmá-la com classe e distinção evitando que Éden se transforme num filme de uma temática muito específica inserindo-a, no entanto, na galeria dos filmes que abordam as verdadeiras histórias de amor.
João (Nuno Pardal) e Pedro (Pedro Sousa Loureiro) estão no carro. Nada à sua volta para lá de uma estrada deserta. Preparam uma despedida enquanto esperam por alguém que os irá separar. Neste inesperado Éden, alguém comeu o fruto proibido.
Com argumento da autoria do realizador Fábio Freitas, Éden apresenta-se muito rapidamente como uma história de amor interrompido num limbo - que ganha uma dimensão muito especial graças ao nevoeiro ao fundo como uma fronteira de espaços distintos - onde duas almas gémeas se preparam para uma despedida agonizante e transformadora. Aqui o Éden não é um jardim paradisíaco onde se vive num ambiente de fausto e contentamento mas sim o tal momento perdido entre o "cá" e o "lá" numa espera incerta que irá afastar aquela que fora - até então - uma cumplicidade incompreendida - e talvez indesejada - pelos demais.
Enquanto "Pedro" espera pela continuação para um novo caminho - depois percebemos que na companhia de "Sara" (Sara Barros Leitão) - sem a companhia de "João", este recorda os momentos de uma cumplicidade vivida que agora parece escapar-lhe por entre os dedos. Secretamente, e recorrendo apenas às suas memórias, (des)espera para que não seja abandonado por aquele que - percebemos - é a sua alma gémea e com partilhou momentos de paixão, amor e de uma ligação que apenas os silêncios de um caminho não percorrido - que não por eles - pode testemunhar.
"João" percebe - e refere - que a mágoa pode ser um instante mas que a redenção com a sua consciência será uma certeza no dia seguinte, naquela que é uma clara alusão à partida de um inseguro "Pedro", perdido entre dois mundos que parece não querer abdicar - por insegurança sobre o seu futuro - pela convicção de que enveredando por um o confinará a uma decisão que não terá retrocesso.
Perdidos num limbo - que aqui tem a forma daquela estrada deserta -, "Pedro" é, ao mesmo tempo, a encarnação de um limbo metafórico na medida em que se encontra pendente entre uma paixão sentimental com "João" e uma paixão social com "Sara". Incerto sobre por que caminho - amor - seguir, "Pedro" vive uma relação de conveniência com ambos; com "João" uma que pode satisfazer as suas necessidades e desejos afectivos e físicos e com "Sara" uma relação que possa garantir uma certa segurança social que uma (homo)sexualidade - na sua opinião - não tem. Perdido num rumo de auto-satisfação, "Pedro" abandona as incertezas rumo a uma vida que lhe confere a posição tranquila e confortável que julga poder vir a ter.
Se a "Sara" de Barros Leitão encarna aqui uma serpente de um jardim do Éden que revela um fruto proibido - aquele que tudo garante mas pouco pretende cumprir é, por sua vez, o "João" de Nuno Pardal aquele que apresenta a segurança e a certeza de um futuro tranquilo com base nas experiências vividas com "Pedro". Não um conjunto de certezas sociais ou profissionais - essas não são uma questão em Éden - mas sim aquelas sentimentais e do coração tendo unicamente como base as memórias que "João" tem dos momentos de felicidade e cumplicidade com ele vividos.
O fruto proibido - maçã metaforicamente e "Sara" como a confirmação do real - estão presentes em Éden pela necessidade de uma constante provação entre o cá e o lá... o inferno e o paraíso... o antes e o depois. No fundo, como elementos de uma divisão de espaço versus tempo que coloca limites nas acções, nos comportamentos e nos destinos tanto de "João" - seguro das suas escolhas e sentimentos - como de "Pedro" - incerto sobre quem é no mundo.
Com uma belíssima direcção de fotografia de Filipe Pinto Silva que consegue recriar numa estrada "abandonada" a imagem de um potencial paraíso perdido ao alcance daqueles que nele pretendem viver, e uma forte interpretação dramática e nostálgica de Nuno Pardal que aqui se destaca como um dos mais interessantes actores de uma nova geração - e um justíssimo vencedor do prémio de melhor actor nos Caminhos do Cinema Português - deixando uma elevada expectativa sobre o seu próximo desempenho.
Um último apontamento sobre a realização de Fábio Freitas - de quem passarei também a aguardar com expectativa pelo seu próximo filme - que não só consegue escrever uma história sensível e tocante pela sua simbólica narrativa como filmá-la com classe e distinção evitando que Éden se transforme num filme de uma temática muito específica inserindo-a, no entanto, na galeria dos filmes que abordam as verdadeiras histórias de amor.
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"João: O choro pode durar uma noite mas a alegria vem pela manhã."
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"João: O choro pode durar uma noite mas a alegria vem pela manhã."
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8 / 10
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